65ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 13. Serviço Social - 4. Serviço Social da Habitação
O ESPETÁCULO DA COPA DE 2014: EM JOGO A CIDADE DE FORTALEZA
Thatiane Nunes da Silva - Centro de Estudos Sociais Aplicados – UECE.
Ingryd Melyna Dantas da Silva - Centro de Estudos Sociais Aplicados – UECE.
Lady Ellen dos Santos Silva - Centro de Estudos Sociais Aplicados – UECE.
Viviane de Araújo Menezes - Centro de Estudos Sociais Aplicados – UECE.
Aurineida Maria Cunha - Profa. Dra. Orientadora – Centro de Estudos Sociais Aplicadas/ UECE.
INTRODUÇÃO:
As cidades, em meio ao processo de reestruturação urbana intensificado na década de 1990, adentraram na órbita mercantil e tornaram-se alvos de projetos de renovação a fim de atraírem investimentos e serem inseridas no mercado mundial de cidades. Nesse contexto, os governos locais passaram a vislumbrar nos megaeventos esportivos a oportunidade perfeita para dinamizar a economia local e renovar as imagens de suas cidades. No entanto, ao se tornarem mercadorias, essas cidades renovadas procuram atender aos interesses de um determinado público consumidor, acentuando o processo de segregação. Esta realidade está presente na cidade de Fortaleza, capital cearense, e se tornou ainda mais evidente quando esta foi escolhida como uma das doze cidades-sede da Copa do Mundo da FIFA de 2014. Deste modo, buscamos analisar como a população fortalezense, mais precisamente as comunidades que serão removidas de seus locais atuais para darem lugar às obras para a copa, vêm tendo seu direito à cidade violado. Tal análise se torna relevante, pois devemos avaliar criticamente as transformações ocorridas em tempos de implementação de megaeventos esportivos em nossas urbes, a fim de afirmar a cidade como um direito de todos.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Este trabalho objetiva analisar o que está sendo feito para renovar a imagem da cidade de Fortaleza a fim de receber o megaevento esportivo copa do mundo de 2014, tendo em vista que as cidades-sede têm que atender a várias exigências estabelecidas pela FIFA, e como os cidadãos fortalezenses estão sendo impactados pela execução das obras destinadas a esse grande evento mundial.
MÉTODOS:
Como trajetória metodológica, foi utilizada a pesquisa bibliográfica de autores que abordam a temática tratada neste trabalho (Araújo, 2010; Carlos, 2001; Cunha, 2008; Mascarenhas, 2011; Sánchez, 2003) e de pesquisa documental utilizando-se de um banco de dados contendo notícias que tratam das transformações urbanas que Fortaleza vem passando e do megaevento Copa de 2014 veiculadas pelos jornais O Povo e Diário do Nordeste (periódicos de grande circulação na cidade locus da pesquisa), além de notas difundidas por sites oficiais (Portal da Copa, Governo do Estado do Ceará, Arena Castelão, dentre outros), e por canais virtuais de mobilização da sociedade civil (Comitê Popular da Copa, Portal Popular da Copa, Movimento de Luta em Defesa da Moradia - MLDM, etc.). O banco de dados foi sistematizado a partir das categorias: urbanização, mobilidade urbana, megaevento, especulação imobiliária, que foram analisadas a partir das reflexões teóricas e empíricas. Destarte, buscou perceber as contradições existentes entre os diferentes discursos difundidos pela mídia acerca da Copa de 2014.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Na cidade de Fortaleza constatamos que a reforma do Estádio Castelão e do seu entorno juntamente com as obras de mobilidade urbana, além da construção do Acquário Ceará no litoral de Fortaleza, estão sendo consideradas o maior legado a ser deixado após o mundial de futebol. Como exemplo das obras de mobilidade, temos o metrô, que após longos 14 anos de espera apenas a linha sul foi inaugurada em junho de 2012. Outro projeto é a construção da linha Parangaba-Mucuripe do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT). A linha de 12,7 quilômetros vai ligar a orla de Fortaleza ao Bairro Parangaba, passará por 22 bairros e está ameaçando cerca de 5.000 famílias de remoção. Estas obras acabam cumprindo a função de higienização social, visto que é a população mais empobrecida que será atingida. Além de terem de conviver com a pressão da especulação imobiliária, os moradores das comunidades alvo de remoções têm de lidar com a falta de esclarecimento e discussões acerca de alternativas para viabilização desses projetos. Da forma como estão sendo apresentados, fica claro que os principais beneficiários desses projetos serão aqueles que estarão na cidade apenas visitando, enquanto os moradores estão sendo prejudicados e tendo uma série de direitos violados.
CONCLUSÕES:
Podemos apreender que as modificações que estão sendo realizadas em Fortaleza guardam semelhanças com as que se manifestam nas cidades mundiais. A cidade que ao longo do tempo foi crescendo de forma desordenada e foi palco da implementação de políticas públicas de habitação segregadoras, hoje é marcada pelo crescimento da especulação imobiliária e pelo processo de urbanização que tem como característica a expulsão dos mais pobres dos bairros com infraestrutura. Essas mudanças tornaram-se evidentes quando a capital cearense foi escolhida para ser uma das cidades-sede do mundial de 2014, o que transformou a cidade em um verdadeiro canteiro de obras. Verificamos que a mídia apresenta os diferentes discursos acerca dos megaeventos esportivos: o oficial que afirma que o legado será positivo para todos, principalmente com os projetos de mobilidade urbana, e a crítica dos movimentos sociais ao denunciar que o legado irá beneficiar principalmente setores da construção civil com o crescimento da especulação imobiliária e com o processo exacerbado de remoção de comunidades históricas que são removidas para áreas sem infraestrutura.
Palavras-chave: Megaeventos Esportivos, Obras, Comunidades.