65ª Reunião Anual da SBPC
A. Ciências Exatas e da Terra - 6. Geociências - 3. Geografia Física
SALINAS SOLARES ARTESANAIS – IMPORTÂNCIA ECOLÓGICA E VALOR PATRIMONIAL
Daiane Medeiros Araújo - Depto. de Geografia- UFRN
Alyson Batista de Araújo - Depto. de Geografia- UFRN
Tarcísio Garcia dos Santos Júnior - Depto. de Geografia- UFRN
Silvana Barbosa de Azevedo - Profa. M.Sc. - Depto. De Geografia- UFRN
Diógenes Félix da Silva Costa - Prof. Dr. / Orientador - Depto. de Geografia- UFRN
Renato de Medeiros Rocha - Prof. Dr. / Orientador - Depto. de Geografia- UFRN
INTRODUÇÃO:
As salinas têm sido utilizadas pelo homem há milênios, constituindo ecossistemas artificiais de supramaré explorados para a extração de sal marinho, sendo compostos por uma série de tanques rasos e interconectados, nos quais a água do mar/estuário é captada e transferida de um tanque para outro por gravidade ou por bombeamento. De acordo com as referências históricas, verifica-se que os primeiros relatos da atividade salineira se deram já no início da colonização com a extração do sal das reservas naturais que se acumulavam junto nas zonas de supramaré. Este procedimento foi aperfeiçoado com a construção das pequenas salinas artesanais pelos portugueses, conforme técnicas usadas em outros pontos do Império Colonial Português (e.g. África, China, Índia). Entre as várias vulnerabilidades econômicas, a atividade salineira é fortemente sensível as variações climáticas, onde uma longa estiagem (que nessa região do Brasil pode durar até 5 anos), pode ocasionar uma superprodução. Esse processo tem como resultado imediato à geração de preços incompatíveis com os custos realizados, em virtude de uma maior oferta do produto.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Esta pesquisa teve como objetivo realizar a identificação e descrição das últimas zonas de produção de sal artesanal no Estado do Rio Grande do Norte (maior produtor nacional) e analisar o seu potencial valor como patrimônio histórico, arquitetônico e ambiental.
MÉTODOS:
Em termos quantitativos, realizou-se o levantamento da área atual ocupada pelas salinas artesanais no Estado do Rio Grande do Norte por meio de imagens do satélite de alta resolução espacial e inventário de campo entre de 2008, 2009 e 2010, ao longo de todo litoral setentrional. Para tal, foram realizadas uma série de coletados dados em campo com aparelho receptor de sinais GPS (Geko Garmin de 12 canais – código CA), os quais também serviram de base para a análise e georreferenciamento das imagens do CBERS 2B, sensor HRC, com 2,5 metros de resolução espacial das seguintes áreas: a) Zona Estuarina do Rio Apodi-Mossoró - órbita 149 E, ponto 106-1, de 30/10/2009; b) Sistema Estuarino Piranhas-Açu - órbitas 148 B, C e D, pontos 106 - 1, de 24/02/2010, 23/02/2008 e 31/12/2008, respectivamente; c) Zona Estuarina Galinhos-Guamaré - órbita 148 E, ponto 106-1, de 26/01/2009. Todo esse material foi analisado em ambiente de Sistema de Informação Geográfica, no software SPRING 5.1.7 (CÂMARA et al.,1996). Por sua vez, a descrição das salinas foi realizada através da observação direta em campo e utilização do método check list.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Verificou-se que atualmente as salinas artesanais ocupam áreas situadas próximo da transição entre as planícies hipersalinas (ocupadas pelas grandes indústrias salineiras com áreas acima de 500 ha) e o tabuleiro costeiro, captando água apenas através de canais de maré (gamboas) do estuário. O maior núcleo de salinas artesanais foi identificado no município de Grossos-RN (782,0 ha), seguido do município de Mossoró-RN (55,2 ha), Areia Branca-RN (54,3 ha) e Guamaré (< 1 ha), respectivamente. Com relação às grandes indústrias salineiras, desde a última década do século XX a maioria dessas salinas voltaram a ser adquiridas por empresas de capital nacional, sendo atualmente a extração de sal marinho uma das principais atividades econômicas de todo o litoral setentrional do Rio Grande do Norte. Em termos de matéria prima, atualmente no Brasil, a água do mar e/ou dos estuários é a única fonte de produção de sal em pontos situados na área litorânea e que tenham condições climáticas e topográficas favoráveis, mais especificamente na zona estuarina do Rio Apodi-Mossoró, sistema estuarino Piranhas-Açu (Rio das Conchas, Rio dos Cavalos, Rio Piranhas-Açu e Rio da Conceição) e sistema estuarino Guamaré-Galinhos (Rio Aratuá, Rio Miaçaba, Rio Camurupim, Rio Guamaré, Rio Pisa Sal e Rio do Tomás).
CONCLUSÕES:
A evolução dessa atividade está entrelaçada diretamente com o período da colonização, onde a descoberta das reservas naturais e posterior produção de sal nas salinas passaram a impulsionar o desenvolvimento de outras atividades a ela relacionadas. É necessário frisar que a maior parte das salinas foram implantadas efetivamente nas áreas onde ocorria o processo de formação natural do cloreto de sódio (NaCl), através da evaporação solar nas planícies hipersalinas onde as águas das marés ficavam acumuladas. Em termos econômicos e de reduzido impacto ambiental, as salinas podem ser consideradas a única alternativa para a ocupação dessas planícies, uma vez que evaporação natural da água do mar implica na constante precipitação de sais (e.g. CaCO4, NaCl, MgCl2, NaBr) na superfície do solo, acarretando em um processo de salinização natural. Todavia, a indústria salineira do Rio Grande do Norte vem passando por um processo gradativo de modernização, que exige um produto cada vez mais competitivo no mercado. Esse processo de modernização é principalmente voltado para a obtenção de um maior grau de pureza e qualidade do sal marinho produzido, aliada com a preocupação em se obter um produto que seja fruto de um manejo biológico adequado e em respeito às normas ambientais vigentes no país.
Palavras-chave: Salinas Artesanais, Patrimônio, Rio Grande do Norte.