65ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Linguística - 5. Teoria e Análise Linguística
Processos que interferem na silabificação do Yaathe
Fábia Pereira da Silva - Universidade federal de Alagoas
Januacele Francisca da Costa - Universidade Federal de Alagoas
INTRODUÇÃO:
Além dos processos de mudança de traços dos segmentos, ou seja, processos que afetam apenas o segmento, podem haver processos que interferem diretamente na silabificação, ou seja, cujos resultados causam mudanças na constituição da sílaba. Neste trabalho, buscamos descrever alguns desses processos, conforme eles ocorrem na língua indígena brasileira Yaathe, língua considerada pertencer ao tronco Macro-jê. O modelo teórico adotado é o da fonologia autossegmental, principalmente a partir de Goldsmith (1976; 1990 e 1995), pois consideramos que a fonologia autossegmental, ao incorporar os constituintes Onset, Rima, Núcleo e Coda à estrutura silábica, oferece um mecanismo de análise que expressa os processos fonológicos com alto grau de generalização. Encontramos, em Yaathe, processos que ocorrem no nível da sílaba, alterando a sua constituição segmental, mas sem alterar a estrutura fonológica prevista no padrão silábico da língua.
OBJETIVO DO TRABALHO:
GERAL: Descrever os processos que interferem na formação da sílaba em Yaathe. ESPECÍFICOS: Apresentar as realizações fonéticas da sílaba e analisar a sua estrutura fonológica.
MÉTODOS:
Os dados utilizados neste trabalho fazem parte do corpus da dissertação de Mestrado de Silva (2010). A partir dos dados de Costa (1999), fizemos um levantamento dos tipos de sequências de segmentos considerados existir na língua. Essa pré-análise teve por objetivo verificar quais as sequência possíveis na língua, ainda no nível da palavra. Novos dados foram coletados, procurando-se descobrir se havia alguma lacuna a ser preenchida. Também testamos os dados com os informantes, lançando mão, assim, da chamada intuição do falante. Realizamos a coleta dos dados através de listas de palavras pré-selecionadas, de modo a podermos levantar um corpus que contivesse todas as sequências de segmentos, de acordo com nossa pré-análise. Além disso, no decorrer do trabalho de campo, gravamos e anotamos dados de conversas espontâneas com os informantes, de modo que foi possível descobrir novos tipos de sequências segmentais que constituem sílabas e que não haviam sido descritas em Costa (1999). Trabalhamos com dois informantes, professores de Yaathe, com idade entre 30 e 40 anos, falantes nativos. As gravações iniciais foram feitas apenas com um dos informantes, enquanto a testagem foi realizada com os dois.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Os processos que ocorrem em Yaathe relacionados à silabificação são os seguintes: Formação de clusters consonantais em onsets e rimas ramificadas em Yaathe são de dois tipos: por ramificação da própria rima, caso em que uma consoante é associada à posição de coda; por ramificação do núcleo, quando este é preenchido por uma vogal longa. Nos dois casos, essas estruturas podem emergir de processos fonológicos que ocorrem nos contextos adequados.
CONCLUSÕES:
Neste trabalho, discutimos a existência de sílabas fonéticas em Yaathe. Vimos que essas sílabas são o resultado de ressilabificação e reassociação de segmentos ou de unidade de tempo à estrutura silábica prevista pelos princípios gerais da língua.
De modo geral, os princípios observados pela estrutura silábica do Yaathe correspondem a princípios mais amplos estabelecidos pelas teorias fonológicas, tais como o Princípio de Hierarquia de Sonoridade e o Princípio de Onset Máximo. Quando esses últimos são violados, podemos supor que tais fatos ocorrem porque não haveria como evitar sequências ilegais de segmentos. Um exemplo desse tipo é o que acontece quando, depois do apagamento de uma vogal na fronteira entre uma base verbal e o sufixo de indicativo, forma-se uma sílaba com a sequência [khkw], como em [khkwa] 'beber'.
Tais processos criam clusters consonantais em onset ou dão origem a uma rima ramificada, tanto por meio de ressilabificação de consoante em coda como pela criação de um núcleo ramificado, quando uma vogal realiza-se longa. É interessante notar que os tipos de sílabas fonéticas, criadas por processos, são sílabas fonológicas em outro ponto, o que nos mostra que os processos fonológicos da língua não alteram a estrutura silábica. Eles apenas reorganizam o material fonético em estruturas já previstas na fonologia da língua.
Palavras-chave: Língua Indígena, Sílaba, Processos.