65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 15. Formação de Professores (Inicial e Contínua)
EDUCAÇÃO, SEXUALIDADE E SUBJETIVIDADES CONTEMPORÂNEAS: DIALOGANDO COM O CINEMA.
Anna Luiza Araújo Ramos Martins de Oliveira - Núcleo de Formação Docente – Universidade Federal de Pernambuco/CAA
Andrielle Maria Pereira - Matemática-Licenciatura CAA – Universidade Federal de Pernambuco/CAA
Fabiane Pereira dos Santos - Matemática-Licenciatura CAA – Universidade Federal de Pernambuco/CAA
INTRODUÇÃO:
Nos últimos anos vários fatores contribuíram para (re)elaboração do discurso pedagógico em relação à diversidade sexual: participação dos movimentos de LGBT nas políticas nacionais; o Programa Brasil sem Homofobia; a instituição da SECAD/MEC; a realização da Conferência Nacional LGBT, uma série de cursos de formação continuada neste campo. Estudos sobre educação, sexualidade e gênero também contribuíram para a inserção da discussão no meio acadêmico (LOURO, 2001a, 2001b, 2004; NOVENA, 2004; RIBEIRO; SOUZA; SOUZA, 2004; MISKOLCI, 2007). No entanto, percebem-se ainda altos índices de homofobia nas escolas. Abromovay; Castro e Silva (2004) apontam para a intolerância em relação a homossexuais entre docentes e discentes, em especial no estado de Pernambuco. A maioria dos currículos e práticas pedagógicas, inclusive, ainda privilegiam o modelo heterossexual de identidade, família e afetividade, excluindo qualquer outra manifestação que fuja a esse padrão (MISKOLCI, 2007; OLIVEIRA, 2009; LOURO, 2001; 2004). Neste trabalho, partimos do pressuposto que em circunstâncias de formação docente, é essencial integrar os/as educadores/as em situações que visem trabalhar as relações sociais, as identidades e que possibilitem a emergência de um contexto de elaboração de significados coletivos.
OBJETIVO DO TRABALHO:
O estudo objetivou promover espaços de reflexão sobre educação, gênero, diversidade sexual e sobre o papel dos/as educadores/as na promoção de contextos escolares emancipadores através da interação com as artes dramáticas, em especial o cinema, proporcionando uma aproximação com a temática pautada na curiosidade, na discussão de situações cotidianas e em leituras teóricas.
MÉTODOS:
Participaram da pesquisa 25 educadores/as (professores/as da rede estadual de ensino em Pernambuco e estudantes dos cursos de Licenciatura em Pedagogia, Química, Física e Matemática da UFPE), de 11 municípios do agreste pernambucano, com faixa etária entre 19 e 55 anos, que foram inseridos em um processo de formação continuada composto por duas ações processuais interligadas: 1. Participação em oito módulos temáticos que envolveram a exibição de filmes, seguida de debate, abordando assuntos como: identidades sexuais; sexualidades lésbicas; masculinidades e homossexualidades; arranjos familiares e homoparentalidade; sexualidade, subjetividades contemporâneas e suas interfaces na escola; 2. Produção de documentários (pesquisa-ação) pelo cursistas sobre os temas estudados. Todos os encontros foram gravados em MP4 e registrados em diários de campo, seguindo-se roteiro de observação sistemática. Segundo Richardson (2008), a observação sistemática é uma técnica, indicada para estudos profundos, que consiste num exame minucioso do objeto de estudo (no caso desta pesquisa, uma metodologia de formação docente sobre educação e diversidade sexual). Requer um plano de observação com tópicos que orientam o trabalho do/a observador/a e relacionam-se ao objetivo da pesquisa.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
De acordo com os dados coletados, 62% dos/as participantes são mulheres e 38% homens; 67% são de religião católica, 24% protestante, 6% diz não possuir religião e 3% não informou. A maioria dos/as cursistas era estudante (53%). Ao longo do desenvolvimento das ações, percebeu-se os/as participantes engajados nas atividades e motivados com o curso. A prática pedagógica utilizada, uso do cinema como recurso pedagógico, proporcionou aos/às mesmos/as a aproximação com a temática da diversidade sexual – tradicionalmente silenciada e marcada por uma série de tabus – de forma mais aberta, reflexões sobre a complexa dinâmica de construção das identidades sexuais, os direitos civis de LGTB e sobre o papel do/a docente e da escola no enfrentamento da homofobia e na construção de espaços sociais permeados por relações respeitosas e democráticas. Os participantes ainda ressaltaram a importância de práticas pedagógicas e atividades como essas no âmbito da educação escolar e da educação superior.
CONCLUSÕES:
Os processos de formação inicial e continuada dos docentes, especialmente das áreas de ciências exatas e naturais, tendem a excluir ou colocar em segundo plano as questões relacionadas à sociedade, ao ser humano, às políticas públicas como, por exemplo: a violência, a diversidade cultural, a saúde, o meio ambiente, trabalho e consumo, ética e sexualidade. O diálogo com as artes dramáticas, em especial o cinema, proporcionou aos/às professores/as de formação inicial e continuada uma reflexão sobre as concepções, ideias, posicionamentos, atitudes e crenças ao que concerne às temáticas abordadas. Possibilitou, também, uma aproximação com as principais dificuldades e preconceitos vivenciados pelos grupos de LGBT que, geralmente, são colocados à margem da sociedade. Esta experiência mostrou que a linguagem audiovisual permite a discussão sobre diversidade sexual num ambiente lúdico, pautado pela curiosidade e ativa uma série de processos afetivos e cognitivos sobre o assunto driblando os tradicionais comportamentos de resistência sobre o tema, principalmente o silêncio e as piadas. É necessário dar continuidade a ações como estas, elaborar currículos comprometidos com a justiça que contemplem as questões dos grupos historicamente excluídos da escola.
Palavras-chave: Diversidade Sexual, Artes Dramáticas, Prática Pedagógica.