65ª Reunião Anual da SBPC

G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 2. Sociologia do Conhecimento

UMA “VISÃO PARCIAL” DAS CIÊNCIAS: MULHERES CIENTISTAS EM PERNAMBUCO

ESTER DE ALBUQUERQUE MONTEIRO - DEPTO. DE SERVIÇO SOCIAL - UFPE FRANÇOISE MICHELLE DOS SANTOS - DEPTO. DE SERVIÇO SOCIAL - UFPE RAFAEL BERNARDO DOS SANTOS - DEPTO. DE SERVIÇO SOCIAL - UFPE VIVIAN MATIAS DOS SANTOS - PROFA. DRA./ORIENTADORA - DEPTO. DE SERVIÇO SOCIAL - UFPE

INTRODUÇÃO:

A PROBLEMÁTICA QUE ENVOLVE AS MULHERES NO CAMPO CIENTÍFICO PODE SER MAIS BEM COMPREENDIDA SE PERCEBERMOS QUE AS CIÊNCIAS SÃO UMA CONSTRUÇÃO SOCIAL. OS CONHECIMENTOS CIENTÍFICOS SÃO PRODUZIDOS CARREGANDO EM SI MARCAS DO SEU TEMPO E ESPAÇO. TAMBÉM, ESTES CONHECIMENTOS SÃO MARCADOS PELOS SUJEITOS QUE OS CONSTROEM. NESTE SENTIDO, OS ESTUDOS SOBRE AS CIÊNCIAS PODEM SER MAIS COMPLEXOS E PROFUNDOS NA MEDIDA EM QUE OS FAZERES CIENTÍFICOS SÃO “SITUADOS” (HARAWAY, 1995), SÃO CONTEXTUALIZADOS. HÁ UMA VANTAGEM EPISTEMOLÓGICA NA ABORDAGEM “PARCIAL” (HARAWAY, 2001) DAS CIÊNCIAS POR MEIO DA REFLEXÃO SOBRE LUGARES, TEMPOS E SUJEITOS ESPECÍFICOS QUE PARTICIPAM DE SUA CONSTRUÇÃO. O ENFOQUE PARCIAL NOS PERMITE PERCEBER QUE AS CIÊNCIAS SÃO CONSTITUÍDAS POR UMA “MULTIPLICIDADE DE VISÕES”, POR CONTRADIÇÕES E CONFLITOS. DESTE MODO, É APOSTANDO NA CONTRIBUIÇÃO DE UMA ABORDAGEM PARCIAL DAS CIÊNCIAS QUE PROPOMOS ESTA PESQUISA. TENDO COMO CENÁRIO A UNIVERSIDADE PÚBLICA, A INTENÇÃO É INVESTIGAR: COMO AS RELAÇÕES DE GÊNERO ESTRUTURAM O CAMPO CIENTÍFICO, ESPECIFICAMENTE, NO ÂMBITO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO? AO PENSAR ESPECIFICAMENTE NESTA UNIVERSIDADE APONTA-SE PARA A POSSIBILIDADE DE (RE)IMAGINAR AS MULHERES NO CAMPO CIENTÍFICO NORDESTINO E, MAIS ESPECIFICAMENTE, PERNAMBUCANO.

OBJETIVO DO TRABALHO:

VERIFICAR COMO AS RELAÇÕES DE GÊNERO POSSUEM UM PODER ESTRUTURANTE NO CAMPO CIENTÍFICO PERNAMBUCANO, TOMANDO COMO REFERÊNCIA A PESQUISA DOCUMENTAL REALIZADA, SOBRETUDO POR MEIO DOS REGISTROS OFICIAIS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO.

MÉTODOS:

PARA FUNDAMENTAR ESTA INVESTIGAÇÃO FOI REALIZADA A PESQUISA DOCUMENTAL, TENDO COMO FONTE DOCUMENTOS OFICIAIS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO, BEM COMO DOCUMENTOS PERTENCENTES A OUTRAS FONTES, TAIS COMO BANCO DE DADOS DO CONSELHO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO – CNPQ. POR MEIO DA PESQUISA DOCUMENTAL PÔDE SER REPENSADA, NUMA PERSPECTIVA DE GÊNERO, A DISTRIBUIÇÃO DOS DOCENTES EM DISTINTOS DEPARTAMENTOS E A RESPECTIVA MOVIMENTAÇÃO DE RECURSOS FINANCEIROS DIRECIONADOS ÁS SUAS PESQUISAS. A REFLEXÃO ACERCA DESTES ESPAÇOS ESPECÍFICOS EMERGE COMO UMA MANEIRA DE MELHOR FUNDAMENTAR UMA “VISÃO PARCIAL” DAS CIÊNCIAS, SITUANDO AS CIÊNCIAS POR MEIO DE SEUS CONTEXTOS E SUJEITOS, OU SEJA: MULHERES CIENTISTAS ATUANTES NO NORDESTE, REGIÃO AINDA SUB-LOCALIZADA NO CAMPO DA CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO NACIONAL. A RELEVÂNCIA DESTA PROPOSTA METODOLÓGICA RESIDE EM IMAGINAR AS CIÊNCIAS COM CARACTERÍSTICAS PRÓPRIAS DE SEUS TEMPOS E ESPAÇOS ESPECÍFICOS, SIGNIFICA (RE)IMAGINAR AS CIÊNCIAS EM SUA PLURALIDADE E POLIFONIA.

RESULTADOS E DISCUSSÃO:

NO BRASIL É NOTÓRIO QUE AS MULHERES CIENTISTAS TÊM SUAS CARREIRAS MARCADAS POR UMA SEGREGAÇÃO “TERRITORIAL E HIERÁRQUICA” DE GÊNERO, VISTO QUE, MESMO ESTANDO INSERIDAS NA PESQUISA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA, GERALMENTE SEUS PROJETOS MOVIMENTAM MENORES RECURSOS FINANCEIROS, ASSIM COMO TAMBÉM ENFRENTAM MAIS DIFICULDADES PARA OCUPAR CARGOS DECISÓRIOS NA POLÍTICA CIENTÍFICA. SEGUINDO A LÓGICA DISCRIMINATÓRIA NACIONAL, AS PESQUISAS DAS MULHERES NORDESTINAS OBTIVERAM, EM 2012, APENAS 36,2% DOS RECURSOS, ENQUANTO QUE AS PEQUISAS DE AUTORIA MASCULINA ANGARIARAM 63,7% DO FINANCIAMENTO DISPONÍVEL. ESTAS DESIGUALDADES DE GÊNERO ENCONTRAM-SE REFLETIDAS EM PERNAMBUCO: DO MONTANTE DESTINADO ÀS BOLSAS DE PESQUISA CONCEDIDAS PELO CNPQ, OS HOMENS RECEBERAM 64,6% ENQUANTO QUE AS MULHERES 35,4% DESTES RECURSOS. NA UFPE, ESPECIFICAMENTE, OS MECANISMOS DISCRIMINATÓRIOS SÃO ACENTUADOS: NO SERVIÇO SOCIAL, ÁREA FEMINILIZADA, 100% DOS PROJETOS DE PESQUISA APOIADOS PELO CNPQ EM 2012 SÃO DE AUTORIA FEMININA, ENQUANTO NA FÍSICA, ÁREA MASCULINIZADA, 92% SÃO DE AUTORIA MASCULINA. NAS ÁREAS QUE COMPÕEM AS CIÊNCIAS SOCIAIS, ESPAÇO DE APARENTE MAIOR EQUIDADE, PERCEBEU-SE QUE AS MULHERES ESTÃO EM POSIÇÃO DESVANTAJOSA: NO ANO DE 2012, APENAS 12,5% DAS PESQUISAS APOIADAS PELO CNPQ ERAM DE AUTORIA FEMININA.

CONCLUSÕES:

AO FINAL DESTE TRABALHO OS PESQUISADORES CHEGARAM AO RECONHECIMENTO CONSENSUAL DE QUE EXISTE NA UFPE UMA DIVISÃO SEXUAL DO TRABALHO CIENTÍFICO QUE DEMARCA AS CARREIRAS DE HOMENS E MULHERES DOCENTES E PESQUISADORES. “GÊNERO E CIÊNCIAS” APRESENTAM-SE, ASSIM, COMO UM ANTIGO PROBLEMA QUE LANÇA NOVOS DESAFIOS NO ÂMBITO DAS PESQUISAS ACADÊMICAS: COMO ELABORAR POLÍTICAS PÚBLICAS EM ÂMBITO NACIONAL SE NÃO EXISTEM INFORMAÇÕES SUFICIENTES RELATIVAS ÀS ESPECIFICIDADES DE CADA ESTADO BRASILEIRO? É NESTA QUESTÃO ONDE TAMBÉM RESIDE A CONTRIBUIÇÃO DA PRESENTE PESQUISA. E MAIS, ESTA INVESTIGAÇÃO PODE REPRESENTAR UMA REFLEXÃO IMPRESCINDÍVEL PARA O CAMPO DE ESTUDOS SOBRE GÊNERO E CIÊNCIAS NO BRASIL NA MEDIDA EM QUE, PENSAR OS FAZERES CIENTÍFICOS DE MULHERES NA UFPE, SIGNIFICA REFLETIR SOBRE A PARTICIPAÇÃO DE SUJEITOS “DUPLAMENTE MARGINALIZADOS” NO CENÁRIO CIENTÍFICO NACIONAL: POR SEREM MULHERES E NORDESTINAS. ENTRETANTO, SEM A PRETENSÃO DE ESGOTAR TODAS AS POSSÍVEIS ANÁLISES DESTA PROBLEMÁTICA, ESTA INVESTIGAÇÃO APONTA PARA A NECESSIDADE DE REALIZAÇÃO DE OUTROS ESTUDOS QUE, TENDO COMO BASE AS ABORDAGENS SÓCIO ANTROPOLÓGICAS, GARANTAM UM CONHECIMENTO MAIS PROFUNDO SOBRE A REALIDADE DE INSERÇÃO, PERMANÊNCIA E CONSOLIDAÇÃO DA CARREIRA DE MULHERES CIENTISTAS EM PERNAMBUCO.

Palavras-chave: GENÊRO, CIÊNCIAS, MULHERES CIENTISTAS.