65ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 4. Ecologia
O CONHECIMENTO ETNOBIOLÓGICO DO CATADOR DE CARANGUEJO-UÇÁ EM MANGUEZAIS LOCALIZADOS NO ESTUÁRIO DO RIO PARAÍBA DO SUL/RJ
Hamilton Cassiano Dias - M.sc em Engenharia Ambiental - Instituto Federal Fluminense
Edêmea Faria Carlos da Rocha - Especialista em Educação Ambiental - Instituto Federal Fluminense
Raquel de Salles Freitas dos Santos - Pós Graduando em Educação Ambiental - Instituto Federal Fluminense
Gleison das Chagas Abrêu - Graduando em Geografia - Instituto Federal Fluminense
Luana das Chagas Abrêu - Graduando em Geografia - Instituto Federal Fluminense
Ricardo Pacheco Terra - Prof.º M.sc / Orientador - Núcleo de Pesquisa e Gestão Ambiental - IFF/ Campos
INTRODUÇÃO:
O presente estudo foi realizado pelo Núcleo de Pesquisa e Gestão Ambiental (NPGA) do IFF/ Campos. A pesca artesanal contribui para a economia de diversos municípios costeiros do país, sendo que é nos ambientes de estuário que ocorrem os manguezais produtivos. Souto (2007) ressalta que o manguezal oferece condições propícias para a reprodução de várias espécies, tendo importância ecológica, econômica e sócioambiental, como por exemplo, a cata do caranguejo. Fiscarelli e Pinheiro (2002) enfatizam que os catadores de caranguejo apresentam íntima relação com esse ambiente, acumulando conhecimento empírico sobre a biologia e a cultura da coleta dessa espécie. De acordo com Soffiati (2009), o aumento da cata do caranguejo-uçá nos manguezais do estuário o Rio Paraíba do Sul, litoral norte do Estado do Rio de Janeiro, vem impactando o ecossistema e afetando a flora e a fauna do manguezal o que inclui o caranguejo-uçá. As políticas públicas e as instituições oficiais que gerenciam os recursos e o desenvolvimento da pesca, nem sempre apresentam soluções para os estoques pesqueiros e as necessidades dos catadores. Destaca-se ainda, que a construção do Complexo Portuário do Açú, na área de influência desse estuário, pode vir a pressionar os manguezais.
OBJETIVO DO TRABALHO:
A pesquisa teve como objetivo explicar pelo conhecimento etnobiológico dos catadores de caranguejo as informações sócioambientais advindas da atividade da cata do caranguejo-uçá no manguezal do estuário do Rio Paraíba do Sul.
MÉTODOS:
O estudo foi desenvolvido por meio de coleta de dados primários com “notas de campo” (Bogdan e Biklen, 1994). Utilizando-se do “conhecimento etnobiológico” (Fiscarelli e Pinheiro, 2002) dos catadores de caranguejo, buscou-se explicar os aspectos sócioambientais sobre a atividade relacionada a cata do caranguejo-uçá, como, as relações tróficas, a “andada”, a época do defeso e questões relacionadas ao ambiente de manguezal do estuário do Rio Paraíba do Sul. Também foram utilizados registros fotográficos para montar um banco de dados. Destaca-se que são os saberes transmitidos por esses profissionais aos seus descendentes, que vem dando continuidade ao processo extrativo desses recursos. Para a coleta de dados secundários foram utilizadas informações bibliográficas em livros, artigos e revistas que abordam a revisão de literatura.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
A pesquisa demonstrou que os catadores de caranguejo do estuário do Rio Paraíba do Sul abarcam conhecimentos etnobiológico sobre a dinâmica das marés e sua influência na “saúde” do manguezal, que aliado à preservação das espécies de mangue, mantém a temperatura ideal à alimentação e à reprodução do caranguejo-uçá. Nas notas de campo obteve-se alguns relatos dos catadores de caranguejo, tais como, “a natureza tem o tempo certo, onde tem meses que o tempo se levanta (de agosto a outubro), e altera o rio, mexe com a maré, ou seca ou enche muito, o manguezal e a piracema é um conjunto, o mangue é o berçário, o defeso do caranguejo é em outubro, a andada é em dezembro”. Outro catador discorre que é “nos quartos de lua, que os caranguejos estão andando, principalmente, no período de dezembro a março”, o que confirma outra catadora, quando diz que “na maré de quarta, fica mais fácil buscar os caranguejos”. Quanto ao ambiente de manguezal, um catador argumenta que “não pode cortar as árvores, porque o mangue não pode esquentar, senão não dá o caranguejo-uçá, que sustenta toda a gente”. Este estudo com os catadores do estuário do Rio Paraíba do Sul replicou o método de pesquisa utilizado por Fiscarelli e Pinheiro (2002) para explicar as questões sócioambientais pertinentes ao manguezal.
CONCLUSÕES:
O conhecimento empírico dos catadores de caranguejo dos manguezais localizados no estuário do Rio Paraíba do Sul é de extrema importância para entender as questões sócioambientais que ocorrem nesse ecossistema. Também foi possível observar que esse considerável saber popular e tradicional, por vezes, é compatível com as produções acadêmicas. Desta forma, alguns destes conhecimentos etnobiológico relatados pelos catadores, são relevantes para a produção local e para a estratégia de captura dos catadores. Destaca-se ainda, que a construção do Complexo Portuário do Açú, na área de influência desse estuário, pode vir a aumentar a pressão sobre os manguezais locais. Sendo assim o presente trabalho vem contribuir para a criação de uma base de dados, que permita construir um diagnóstico que venha atuar de forma positiva nos impactos advindos da instalação do Complexo Portuário do Açú.
Palavras-chave: Notas de Campo, Saberes Tradicionais, Impactos Ambientais.