65ª Reunião Anual da SBPC
E. Ciências Agrárias - 4. Recursos Pesqueiros e Engenharia de Pesca - 1. Aqüicultura
OBSERVAÇÕES COMPARATIVAS DO COMPORTAMENTO DE PIRARUCUS, Arapaima gigas, JUVENIS E ADULTOS, MANTIDOS EM CATIVEIRO NO ESTADO DE PERNAMBUCO: UM ESTUDO DE CASO.
Maria do Carmo Figueredo Soares - Profa. Dra./Orientadora – Departamento de Pesca e Aquicultura - UFRPE
Paulo Henrique Gomes da Paixão - Departamento de Pesca e Aquicultura - UFRPE
INTRODUÇÃO:
O pirarucu, Arapaima gigas é endêmico da bacia Amazônica com importância econômica, ecológica e social. Na ultima década, tornou-se foco de estudos em diversas áreas: criações em cativeiro (Cavero et al.,2002; Pereira-Filho et al., 2003; Scorvo-Filho et al.,2004; Ono et al,2004; Soares et al.,2008,2010), alimentação (Crescêncio, 2001; Cavero et al.,2003; Oliveira et al.,2005), fisiologia e bioquímica ( Brauner et al.,2004; Brandão et al.,2006; Gomes et al.,2006), genética (Farias et al.,2003; Marques,2003; Hrbek et al.,2005), pesca e manejo (Queiroz, 2000; Castelo, 2004). Entretanto, existem várias lacunas de conhecimento básico da espécie, essenciais ao manejo e conservação deste recurso, principalmente em relação ao comportamento, pois os organismos naturalmente vivem num ambiente cíclico, submetidos a uma série de eventos e tendem, quando em cativeiro, a manterem seus ciclos fisiológicos. O pirarucu possui respiração aérea obrigatória, com bexiga natatória modificada, o que facilita sua criação em ambientes de baixa disponibilidade de oxigênio (Salvo-Souza e Val, 1990). De características primitivas foi adaptando-se a viver em áreas fechadas, sendo um carnívoro oportunista, capaz de capturar crustáceos e outros invertebrados e também de filtrar o plâncton.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Observar, comparar e descrever aspectos comportamentais do pirarucu relacionados à respiração, alimentação e forma de distribuição no ambiente para natação, quando submetidos ao confinamento, por meio de criação semi-intensiva, em diferentes fases (alevinos/juvenis e juvenis/adultos), buscando auxiliar o estabelecimento de estratégias para seu manejo.
MÉTODOS:
Foram observados pirarucus, oriundos de mesma reprodução e procedência, em diferentes fases (alevinos/juvenis e juvenis/adultos), momentos e locais. Considerou-se dados primários, aqueles procedentes de observações in situ, e dados secundários, abordando a biologia e o comportamento, os obtidos por meio de revisões bibliográficas, que incluíram dissertações, monografias, artigos científicos e resumos sobre a espécie. Para observação inicial dos alevinos, buscou-se identificar as atividades comportamentais ligadas à respiração e à alimentação, por meio de ensaio realizado durante 67 dias em dois aquários, com dimensões de 93 x 38 x 40 cm, lâmina d’água de 35 cm e, 70 x 30 x 40 cm, lâmina d’ água de 30 cm, respectivamente, sistema de filtração contínuo e substrato de cascalho. Fez-se o povoamento com espécimes de 45 dias, em número de dois (peso e comprimento médio de 23,09g e 13,95cm) e um (16,88g e 12,80cm). Os alevinos procederam da Piscicultura Canta Galo na Bahia. Também foi povoado, nessa mesma época, um viveiro escavado de 250 m2, com 99 exemplares. Os adultos foram observados, em outro momento e período, sempre a partir do mesmo ponto, localizado do lado de fora do viveiro escavado. Filmagens e registros fotográficos foram realizados em várias ocasiões.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Tanto nas observações feitas em 2008, no aquário e viveiro, como nas de 2012 (viveiro), os padrões comportamentais exibidos pelos juvenis e adultos de pirarucu foram semelhantes com relação aos mecanismos de respiração, alimentação, formas de descanso e natação. Com relação à respiração, na fase juvenil subiram à superfície, respirando o oxigênio do ar, mais frequentemente. Essa freqüência diminuiu com o aumento da idade, mas não houve alterações no modo como respiravam Segundo Sawaya(1946), se o pirarucu for impedido de vir à superfície morre, devido à insuficiência das brânquias. Por causa desse tipo de respiração não dependem do oxigênio dissolvido na água e suportam densidades altas nas criações. Brauner e Val (1996) sugeriram que o pirarucu apresenta respiração aérea obrigatória e quase 78% do oxigênio consumido provêm do ar. Quanto à alimentação, condicionaram-se a ração, aceitando-a independente do horário da oferta. Queiroz (2000) descreveu que o pirarucu alimenta-se tanto de vertebrados como invertebrados. O comportamento de apreensão do alimento é feito com voracidade. Observou-se certa dominância social, durante a alimentação, entretanto, a espécie é extremamente gregária, não se observando, nenhum tipo de briga ou disputa, tanto pelo espaço, quanto pelo alimento.
CONCLUSÕES:
• O pirarucu é compatível com a vida em cativeiro, exibindo rusticidade e facilidade no manejo devido à respiração aérea que permite elevadas densidades, por não depender do oxigênio dissolvido na água;
• A partir das observações de 2008 e 2012, constatou-se que a única mudança, no comportamento respiratório, foi à freqüência com que captam o ar na superfície. Nos alevinos, o tempo para submergir e respirar, foi em média um minuto (variou de 30 segundos a 3 minutos), enquanto os adultos ficaram mais tempo sem submergir (de 10 a 20 minutos), que pode ser explicado pelo aumento da capacidade respiratória com a idade e diminuição do metabolismo;
• Quando ao comportamento alimentar, forma de natação e períodos de atividade e descanso, não variou com o passar do tempo. Foi comum o deslocamento em cardume. Percebeu-se comportamento de hierarquia de dominância quando se ofertava ração, pois um grupo dominante se aproximava mais do sitio de alimentação e, os submissos mantinham-se a distância maior, chegando após os dominantes terem apreendido o alimento. Há dominância social como elemento motivador durante a alimentação;
• A voracidade na apreensão do alimento e a alternância de momentos de atividade e de descanso e o comportamento de fuga ante a presença humana foram padrões exibidos.
Palavras-chave: Respiração aérea, Alimentação, Manejo.