65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 1. Geografia Humana
ANÁLISE DA CONSTRUÇÃO SIMBÓLICA DA VIOLÊNCIA E DO MEDO EM CARAÚBAS (1980 a 2010)
Magaretátia Morais Maia - Aluna da especialização em Geografia e Gestão Ambiental (FIP)
Moacir Vieira da Silva - Aluno da especialização em Geografia e Gestão Ambiental (FIP)
Otoniel Fernandes da Silva Junior - Prof. Me./Orientador – Depto. de Geografia - UERN
INTRODUÇÃO:
Nas últimas décadas, os temas culturais têm ganhado destaque nas pesquisas dos geógrafos, em que os estudos contemplam temas que abordam o cotidiano das grandes, médias e pequenas cidades. A cidade pode ser entendida como produção de formas simbólicas, e é dentro das várias discussões abordadas na geografia cultural, que a discussão da violência e do medo tem ganhado destaque no cenário das investigações de geógrafos brasileiros nos últimos anos. É diante desse contexto que buscamos compreender quais referenciais indenitários são gerados a partir dos discursos da criminalidade, e quais os elementos simbólicos foram produzidos pela sociedade norte-rio-grandense em relação à cidade de Caraúbas ao longo das décadas de 1980 e 2000, período que atinge índices de violência elevados e grande destaque na mídia através de conflitos familiares que envolviam a família Carneiro, bem como o envolvimento de alguns de seus membros em atos criminosos, constatados através de reportagens do jornal Gazeta do Oeste, e estudos sobre o Mapa da Violência no Brasil divulgados nos anos de 2010 e 2011, que aponta Caraúbas como uma das cidades mais violentas do Brasil, com base em dados estatísticos de homicídios.
OBJETIVO DO TRABALHO:
O estudo objetiva analisar o papel da família Carneiro na construção de uma imagem simbólica da violência e do medo para cidade de Caraúbas - RN, ao longo das décadas de 1980 e 2000. Pretende-se compreender como a mídia influenciou para a construção de uma geografia do medo para Caraúbas e quais os referenciais identitários que são gerados na sociedade caraubense em relação à violência e o medo.
MÉTODOS:
Para que os objetivos dessa pesquisa fossem almejados, foram adotadas as seguintes metodologias: Primeiramente, foram realizadas pesquisas bibliográficas sobre o contexto histórico e sobre o desenvolvimento socioeconômico do município, e leituras relacionadas à violência e o medo, que fornecesse embasamento teórico a temática. Em seguida, foi realizada a coleta de dados no jornal Gazeta do Oeste, que envolvesse a família Carneiro no período de 1980 a 2000. Diante dos dados coletados, realizou-se uma pesquisa na delegacia de Caraúbas tendo como foco principal, a compreensão da violência e insegurança na cidade entre os períodos de 2003 a 2010, para verificar se houve aumento ou diminuição nos índices de violência e se estavam ligados aos conflitos familiares envolvendo a família Carneiro, foco de nossa investigação. Para a culminância final do trabalho, foram realizadas entrevistas com os moradores locais com idades variando entre 15 e 80 anos, distribuídos nos diferentes bairros da cidade para compreendermos a percepção da população em relação à violência e o medo e quais os elementos podem ter contribuído para essa construção simbólica da violência e do medo para a cidade de Caraúbas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Na realização deste trabalho constatou-se que, os conflitos familiares fazeram parte do contexto histórico da região Nordeste; os conflitos envolvendo a família Carneiro contribuíram de forma emblemática para construção da imagem da violência e do medo para Caraúbas; o discurso jornalístico contribuiu na formação mitica entorno da família Carneiro ao longo das décadas de 1980 a 2000, que enfatizavam de forma enblemática as discussões e apreensões nas páginas policiais (nos diversos meios de comunicação de massa). Analisando os dados da violência em Caraúbas divulgados pelo Instituto Sangari através dos Mapas da Violência no Brasil de 2010 e 2011, que destacaram Caraúbas como uma cidade mais violentas da Brasil, e verificando os dados coletados na delegacia de Caraúbas através dos boletins de ocorrência, e nas entrevistas com os moradores constatou-se que os atos de violência e criminalidade ocorridos entre 2003 e 2010 não possuíam relação com os conflitos familiares ou atos criminosos relacionados à referida família, mais ao contexto vivido pela sociedade brasileira em que as drogas estão presentes em todas as classes sociais e Caraúbas não foge a regra diante do contexto das demais cidades brasileiras.
CONCLUSÕES:
Nas análises das reportagens produzidas pelo jornal Gazeta do Oeste constatou-se que os atos de violência que envolvia a família Carneiro, apresentavam discursos que contribuíram para a criação de uma imagem simbólica da violência e do medo em torno da referida família e consequentemente sobre seus habitantes, no imaginário da população norte-rio-grandense. Reportagens produzidas pelo referido jornal contemplavam a falta de segurança por parte população, demonstrando um sentimento de negligenciamento por parte do Estado. Os moradores não se identificam com os atos de violência expressos no contexto histórico da cidade envolvendo a família Carneiro, apesar de estarem presentes na memória coletiva da população e não se identificam com a violência dos últimos anos da cidade. No entanto, os sujeitos da pesquisa não se identificam com a violência, pois estes não reconhecem a cidade como violenta, e nem como perigosa. A construção simbólica em relação à violência e o medo em Caraúbas deram-se especialmente pela influência da mídia, pois a mesma dá ênfase aos acontecimentos ocorridos na cidade e principalmente se os casos de violência envolvessem a família Carneiros.
Palavras-chave: Violência e medo, Conflitos familiares, Discurso midiático.