65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 3. Geografia
A CONDIÇÃO DO MORAR NAS ÁGUAS
Moacir Vieira da Silva - Aluno da especialização em Geografia e Gestão Ambiental (FIP)
Magaretátia Morais Maia - Aluno da especialização em Geografia e Gestão Ambiental (FIP)
Josélia Carvalho de Araújo - Profa. Me./Orientadora – Depto. de Geografia - UERN
INTRODUÇÃO:
A moradia é um dos bens na sociedade hodierna cujo acesso é seletivo. Os que podem pagar por esta mercadoria, vivem em espaços bem equipados de arrimos urbanos. Em contrapartida, os que não têm essa possibilidade, estão expostos as piores condições de vida e aos mais precários espaços. A condição do morar nas áreas margeadas por águas, denominado neste trabalho de “morar nas águas”, apesar de constituir-se uma prática comum, desde os primórdios da humanidade, é um dos exemplos explícitos dessas disparidades espaciais e das (im) possibilidades do morar nos dias atuais. Assim, contextualizados a partir da idéia de espaços desiguais e díspares, e das (im) possibilidades do morar frente às “limitações” capitalista, o presente trabalho discuti o processo de ocupação de áreas susceptíveis a alagamentos para a construção de moradias, enfocando o fator socioeconômico como um dos elementos que implica na configuração de tal processo. A área de estudo escolhida para esse trabalho situa-se às margens da Lagoa dos Pintos, no bairro Costa e Silva, Mossoró, Rio Grande do Norte. Esse trabalho está calcado na idéia de possibilitar a explicitação de um problema encontrado na maioria das cidades brasileiras, a partir de um olhar geográfico “local”.
OBJETIVO DO TRABALHO:
O objetivo deste trabalho é analisar como as condições socioeconômicas de uma determinada parcela da população, formada essencialmente por indivíduos de classe social baixa, fazem com a mesma seja “coagida” a ocupar os espaços urbanos mais vulneráveis e inabitáveis (susceptíveis a alagamentos), bem como, demonstrar os reflexos que esse processo desigual traz para esse estrato da sociedade.
MÉTODOS:
Para a construção deste trabalho, foram adotadas as seguintes posturas metodológicas: Inicialmente, foram realizadas pesquisas bibliográficas das fontes que demonstrassem afinidade com a temática da investigação. Seguido deste regaste teórico e conceitual, foram realizadas entrevistas com moradores antigos do bairro em estudo, para que fosse compreendido como era o “morar” na área antigamente e como ocorreu o processo de ocupação deste espaço. Em consonância com as entrevistas citadas, foram aplicados formulários com a finalidade de se fazer um levantamento dos aspectos socioeconômicos da população desta área. Além disso, também foi realizada a caracterização da área, a partir do levantamento de dados estatísticos (fontes oficiais). Para a culminância final do trabalho, foi realizado o levantamento de dados gerais sobre a área na Unidade Básica de Saúde do bairro, para a constatação dos principais problemas (de saúde da população) encontrados nesse espaço. De maneira paralela a todas as etapas supracitadas, foram realizadas constantes visitas a área de estudo.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
A partir da realização deste trabalho pode-se constata que, o “morar nas águas” foi uma condição estabelecida desde os primórdios da humanidade, e que teve seu cerne interligado a imposições naturais; o “morar nas águas” é, nos dias hodiernos, um reflexo das imposições capitalistas, das limitações socioeconômicas frente à possibilidade do morar, ou seja, os “moradores das águas” são indivíduos relegados pelo sistema, sujeitos que são “obrigados”, a partir de suas limitações econômicas, a habitarem espaços insalubres, sem arrimos urbanos, ou simplismente espaços segregados; as condições de vida da população estudada se apresentam como fator impulsionante desta problemática (condição imposta pela lógica capitalista); o “morar nas águas” está afeito a uma série de problemas, que partem desde os alagamentos às condições de vida insalubres, sendo que tais condições são inerentes à realidade da comunidade estudada; a falta de atuação dos governantes maximiza os problemas deste espaço; a solução dos problemas desta área está pautada na possibilidade de mudanças estruturais (melhor infra-estrutura urbana ou alocação da população para outros pontos da cidade), sociais e políticas (planejamento urbano e ambiental eficaz – controle do uso e ocupação dos espaços).
CONCLUSÕES:
A realidade de quem vive em meio às “águas” é marcada pelas dificuldades, pelas impossibilidades de uma vida melhor e mais condigna as condições humanas, e pela falta de atuação do Estado, que deveria está compromissado com os ideais que os regem, de igualdade e regulação entre espaços e povos. Esta condição é um dos reflexos explícitos de uma sociedade marcada pela diferenciação social. A solução para a problemática do “morar nas águas” estaria em mudanças estruturais, políticas e sociais nas áreas em que esta condição se faz presente, a exemplo do caso de estudo. Porém, a efetivação dessas mudanças só será capaz a partir de transformações da sociedade como um todo, ou seja, de mudanças na sociedade desigual, marcada pela estratificação socioespacial. Destarte, o “morar nas águas” é, assim como o morar nas favelas, nas áreas de encosta, nos cortiços, a forma encontrada por uma enorme parcela da sociedade para resolver o problema habitacional. Porém, apesar de apresenta-se como uma solução, esta condição só fere ainda mais os indivíduos relegados pelo sistema, indivíduos que habitam as “águas escuras” de uma sociedade “marcada” pelos contrastes sociais, por chagas que dificilmente saram.
Palavras-chave: Moradia, Ocupações Insalubres, Fatores Socioeconômicos.