65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 9. Psicologia Experimental
BAIXA ACUIDADE VISUAL: FATOR DE RISCO PARA A PERCEPÇÃO DE FENÔMENOS VISUAIS POSITIVOS
Profª Drª Ana Cristina Taunay Cavalcanti - Pós-Graduação em Psicologia-UFPE (PNPD/CAPES)
Profª Drª /Orientadora Maria Lucia de Bustamante Simas - Proª. Drª./Orientadora - Departamento de Psicologia-UFPE
INTRODUÇÃO:
A acuidade visual prejudicada tem sido apontada como um importante fator de risco para a ocorrência de fenômenos visuais positivos em pacientes com doenças neuropsiquiátricas (Parkinson e Alzheimer), assim como em pessoas mentalmente preservadas com doenças oftalmológicas como a Degeneração macular, que pode acarretar na Síndrome de Charles Bonnet.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Buscamos investigar essa premissa submetendo voluntários saudáveis a condições experimentais que simulam a baixa acuidade e lacunas visuais (escotomas), estimulando a visão periférica e comparando com situações de alta acuidade visual (visão foveal).
MÉTODOS:
Adaptando imagens de faces e de objetos, durante 1 minuto, quantificamos as alterações percebidas na imagem pelos sujeitos em duas categorias: 1) movimento e 2) surgimento de outras características, faces ou objetos. O fenômeno observado foi denominado Ilusão de Múltiplas Configurações e é caracterizado pela percepção de movimentos, mudanças de expressão facial, surgimento de outras características ou diferentes faces sobrepondo a imagem apresentada na foto-estímulo. Esta pode induzir à percepção de movimentos naturais na face, mudanças de expressão emocional, surgimento de outras características ou novas faces com diferentes identidades. Oitenta e uma pessoas saudáveis (30 homens), adultas (X=21,4; Dp= ± 2,8) e com alta escolaridade (X= 13,7; Dp= ± 1,2) foram voluntários do estudo. Eles foram instruídos a fixar o olhar binocularmente em um ponto de fixação e prestar atenção nos estímulos por 1 minuto (cada), independente do local de apresentação. A ilusão foi quantificada por meio de duas teclas do computador (1 e 2) referentes às categorias de análise.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Os resultados analisados pelo teste Wilcoxon mostraram maior frequência da ilusão ocorrendo com estímulos de faces, em relação aos de objetos, p< 0,001. O teste de Friedman revelou maior frequência de respostas quando os estímulos foram posicionados nas periferias (à direita e à esquerda) em relação ao centro (fóvea), p< 0,001. O teste de Friedman mostrou que a categoria 2 foi mais frequente apenas para os estímulos de faces, p< 0,001.
CONCLUSÕES:
A periferia visual pode facilitar a ocorrência da ilusão em virtude da acuidade rebaixada e lacunas ou escotomas presentes nessa região. É possível que essa condição visual promova uma interpolação neural ou preenchimento “top-down” da informação sensorial empobrecida. A maior sensibilidade aos estímulos de faces pode estar relacionada à participação de centros corticais especializados que atuam no processamento de faces.
Concluiu-se que a baixa visual é um fator de risco para a ocorrência de fenômenos visuais positivos, mesmo em pessoas saudáveis. Sugere-se, como perspectiva futura, que este estudo seja replicado com grupos de pessoas com baixa acuidade para testar esta premissa.
Palavras-chave: Percepção de faces e objetos, Ilusão de Múltiplas Configurações, Periferia visual.