65ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 6. Farmacologia - 3. Toxicologia
Avaliação toxicológica reprodutiva do 1,8-cineol em ratas Wistar
Germana Freire Rocha Caldas - Depto. de Ciências Farmacêuticas - UFPE
Alisson Rodrigo da Silva Oliveira - Depto. de Fisiologia e Farmacologia - UFPE
Melissa Barros Lima Mery - Depto. de Fisiologia e Farmacologia - UFPE
Alice Valença Araújo - Depto. de Fisiologia e Farmacologia - UFPE
Almir Gonçalves Wanderley - Depto. de Fisiologia e Farmacologia - UFPE
INTRODUÇÃO:
O 1,8-cineol, também denominado cineol, eucaliptol ou 1,8-epoxi-p-mentano, é um monoterpeno que apresenta fragrância fresca com características canforáceas e sabor picante (LANA et al., 2006). Trata-se de um composto orgânico natural, sendo o composto majoritário de vários óleos essenciais em diferentes espécies (ARAUJO et al., 2003; VILELA et al., 2009; HUSSAIN et al., 2011).
Este monoterpeno é amplamente utilizado como excipiente em produtos farmacêuticos e cosméticos (MADYASTHA; CHADHA, 1986) e como um agente aromatizante em alimentos (AHMAD; MISRA, 1994; De Vicenzi et al., 2002), proporcionando assim um potencial significativo de exposição humana ao composto. Além disto, atividades antinociceptiva (Santos, 2000), anti-inflamatória (Lahlou et al., 2002) e hepatoprotetora (Santos et al., 2001) foram atribuídas ao 1,8-cineol. No nosso laboratório, foi verificado que o 1,8-cineol apresenta atividade antiulcerogênica.
As drogas podem interferir em diversos processos de reprodução, não só causando malformações e matando o embrião, como também bloqueando a gametogênese e evitando a fertilização (SCHERTZ, 1991). Diante disto, pareceu-nos interessante investigar os efeitos da administração do 1,8-cineol durante a gestação.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Avaliar o efeito do tratamento com 1,8-cineol (CIN) durante as fases de pré-implantação (PI) e de organogênese (ORG) da prenhez em ratas Wistar.
MÉTODOS:
Ratas prenhes foram divididas em quatro grupos (n = 7 - 10 animais/grupo). O grupo controle recebeu solução aquosa de Tween 80® a 1% (veículo). Os demais grupos receberam CIN nas doses de 250, 500 e 1000 mg/kg, respectivamente. As fêmeas foram tratadas durante a fase de pré-implantação (1° ao 6° dia de prenhez) ou organogênese (7° ao 14° dia de prenhez). O ganho de massa corporal, assim como o consumo de água e ração, foi registrado semanalmente durante a toda a gestação. As fêmeas ainda foram avaliadas quanto à sobrevivência, mudanças na aparência e presença de sinais clínicos de toxicidade. Ao 20º dia de prenhez, as ratas foram anestesiadas com pentobarbital sódico (35 mg/kg, i.p.) e sacrificadas por deslocamento cervical. Em seguida, foi realizada laparotomia para retirada dos cornos uterinos e determinação das variáveis reprodutivas: número de fetos vivos e mortos; massa absoluta dos fetos, das placentas e dos ovários; número de implantações, de reabsorções, de implantações viáveis e de corpos lúteos; taxa de implantação, perda de pré-implantação e de pós-implantação. Aspectos macroscópicos foram observados, a fim de detectar eventuais anormalidades. As diferenças entre as médias foram determinadas por análise de variância (ANOVA) seguida pelo teste de Dunnet’s (p<0,05).
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
O CIN (250, 500 e 1000 mg/kg/dia), administrado durante a PI ou a ORG, não produziu quaisquer mortes ou sinais de toxicidade, tais como salivação, piloereção, diarreia, variação na atividade locomotora, mudanças no comportamento ou sangramento vaginal na mães durante a gestação. Tais variáveis são ferramentas usuais para identificar a toxicidade materna (Manson; Kang, 1994). Nenhuma alteração no consumo de ração e água foi observada ao longo da gestação após tratamento em ambas as fases. Quando analisado o ganho de massa durante toda a gestação, houve uma redução no grupo tratado no período PI com 1000 mg/kg. Já quando analisado o ganho de massa na fase em que houve o tratamento, houve uma redução em todos os grupos tratados com CIN. Quanto aos parâmetros reprodutivos, não houve diferença entre os grupos. Entretanto, na fase de PI, verificou-se a presença de fetos mortos, redução no número de fetos/mãe/grupo e da massa dos fetos em fêmeas tratadas com CIN 1000 mg/kg/dia. Na fase de ORG, verificou-se uma redução da massa dos corpos lúteos em fêmeas tratadas com CIN 250 mg/kg e também foi detectada redução do número de fetos/mãe/grupo em fêmeas tratadas com CIN 1000 mg/kg/dia.
CONCLUSÕES:
Os resultados obtidos fornecem evidências de que CIN apresenta toxicidade materna e fetal. Entretanto, novos testes já estão sendo realizados, incluindo o tratamento durante o todo o período fetal e sobre o desenvolvimento da prole, com a finalidade de melhor caracterizar os possíveis efeitos tóxicos deste composto.
Palavras-chave: Pré-implantação, Organogênese, Toxicidade Reprodutiva.