65ª Reunião Anual da SBPC
A. Ciências Exatas e da Terra - 4. Química - 8. Química
ANÁLISE DE LIVROS DIDÁTICOS DE QUÍMICA DO ENSINO MÉDIO À LUZ DA PEDAGOGIA DA PRÁXIS: ASPECTOS EPISTEMOLÓGICOS E SOCIOFILOSÓFICOS
Debora Santos - Graduanda, IC - Licenciatura em Química - Campus Vila Velha/IFES
Sidnei Quezada Meireles Leite - Prof. Dr./Orientador - Prog. de Pós-graduação Educimat - Campus Vitória/IFES
Luz Marina de Souza - Profa.Química/Mestranda - Prog. de Pós-graduação Educimat - Campus Vitória/IFES
Elizabeth Detone Faustini Brasil - Profa.Química/Mestranda - Prog. de Pós-graduação Educimat - Campus Vitória/IFES
INTRODUÇÃO:
As questões pedagógicas, epistemológicas e sociofilosóficas no âmbito das escolas do ensino médio, estão presentes no contexto das orientações das Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN). O livro didático é um dos instrumentos pedagógicos que norteiam a implantação dessas práticas na sala de aula, reforçado de alguns anos para cá pela políticas de avaliação e distribuição de coleções de livros didáticos da educação básica, realizado pelo Programa Nacional do Livro Didático - PNLD (Brasil, 2008). Já é sabido que o livro didático quando utilizado de forma crítica, veicula o conteúdo programático podendo promover práxis docente, com uma articulação entre a prática e a teoria, perpassando pelas questões epistemológicas, sociofilosóficas, políticas e curriculares (Lopes, 1993). Assim, é possível superar os desafios dos obstáculos epistemológicos, que tantas vezes estão presentes nas escolas e impedem uma aprendizagem crítica e emancipadora dos conteúdos programáticos (Bachelard, 1972). Assim também é uma das diretrizes do movimento CTSA, que priorizam a contextualização, interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade (Santos e Auler, 2011). Gadotti (1995) propôs as categorias para nortear uma educação crítica e emancipadora, a saber: cidadania, planetaridade, sustentabilidade, virtualidade, globalização, transdisciplinaridade e dialogicidade.
OBJETIVO DO TRABALHO:
O objetivo desse trabalho foi analisar os aspectos epistemológicos e sociofilosóficos presentes nos livros de química do ensino médio à luz da Pedagogia da Práxis proposta por Moacir Gadotti e do Movimento CTSA.
MÉTODOS:
Trata-se de uma pesquisa qualitativa, produzida na perspectiva de um estudo de caso (Lüdke e André, 1986). Foram escolhidos três livros, a saber: Gerson Mol e Wildson Santos, “Química cidadã”, Editora Nova Geração; Ricardo Feltre, “Química”, Editora Moderna; João Usberco e Edgar Salvador, “Química”, Editora Saraiva. Esses livros constam nas listas de materiais didáticos nas escolas públicas do Estado do Espírito Santo. Foram empregadas as sete categorias propostas pela Pedagogia da Práxis de Moacir Gadotti. Para analisar os aspectos epistemológicos, foi escolhido o conteúdo de “soluções”. Uma ficha de avaliação elaborada pelo Grupo de Pesquisa em Educação Científica e Movimento CTSA serviu como base para analisar os livros, que apresentavam alguns questões tais como, a presença ou não de erros conceituais; se havia uma enfoque CTSA nas abordagens dos temas; promovia alguma reflexão transdisciplinar; a presença ou não de temáticas da globalização, entre outros. Posteriormente, fez-se a tabulação e interpretação dos dados obtidos, seguindo as recomendações de Bardin (2009).
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
A pesquisa foi divididas em dois momentos: uma análise globral dos livros e uma análise do conteúdo programático de soluções. Nenhum dos livros analisados sugere leituras complementares e nem promove a articulação dos conteúdos com as tecnologias educacionais, comprometendo as possibilidades de aprendizagem a partir dos aspectos da virtualidade e da globalização. Dentre as obras analisadas, somente um livro apresenta uma forte relação com o Movimento CTSA, abordando temas socioambientais e sociocientíficos, o que é importante para um direcionamento crítico e emancipatório do ensino de Ciências. (Cachapuz et. al., 2005). Foi constatado a presença de uma abordagem transdisciplinar, embora de forma tímida, mas capaz de produzir uma diálogo entre a ciência química e as ciências de fronteira, que o cartesianismo historicamente a separou. Por outro lado, há sugestões de experiências investigativas com materiais alternativos, sem riscos à saúde dos alunos, principalmente, podendo ser executadas na própria sala de aula. Segundo Bachelard (1972), mudanças sociais, culturais, econômicas, decorrentes do intenso avanço científico torna-se imprescindível no acesso ao conhecimento científico, servindo como alicerce na construção de um pensamento crítico.
CONCLUSÕES:
Foi possível constatar mudanças, ainda que tímidas, na filosofia da escolha dos livros didáticos da Rede Pública de Educação Básica. Ressaltamos que o material didático produzido por Gerson Mol e Wildson Santos representa maior potencial para uma educação química crítica e emancipadora, dentro dos critérios adotados em nossa análise, promovendo não só as temáticas CTSA, mas também a contextualização, a interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade, bem como a maior parte das categorias da pedagogia da práxis. No entanto, é necessário que o professor esteja preparado para usar todos os recursos no livro didático. Nesse sentido, talvez estejamos avançando para uma prática voltada para diminuição das desigualdades, para a libertação (Freire, 2010), ou seja para uma práxis transformadora (Gadotti, 1995). Referencias: Bachelard, G. A Epistemologia. 1972. Bardin, L. Análise de Conteúdo. Edições 70, LDA, 2009. Brasil, Resolução n.º 3, de 11 de janeiro de 2008. Freire, P. Pedagogia da Libertação. 2010. Gadotti, M. Pedagogia da Práxis, 1995. Lopes, A. C.; Livros Didáticos: Obstáculos Verbais e Substancialistas ao Aprendizado da Ciência Química, 1993. Santos, W. L. P. dos; Auler, D. CTS e Educação Científica: Desafios, Tendências e Resultados de Pesquisas. Editora UnB, 2011.
Palavras-chave: livro didático, CTSA, pedagogia da práxis.