65ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 8. Fisioterapia e Terapia Ocupacional - 1. Fisioterapia e Terapia Ocupacional
TREINAMENTO MUSCULAR INSPIRATÓRIO E VOLUMES DA PAREDE TORÁCICA EM UM INDIVÍDUO HEMIPARÉTICO CRÔNICO: RELATO DE CASO.
Aline Andrioni Fernandes - Mestranda do Programa de Pós-graduação em Ciências da Reabilitação - UFMG
Camila Trindade Paulino - Graduanda - Departamento de Fisioterapia - UFMG
Susan Martins Lage - Mestre pelo Programa de Pós-graduação em Ciências da Reabilitação - UFMG
Janaíne Cunha Polese - Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Ciências da Reabilitação - UFMG
Luci Fuscaldi Teixeira-Salmela - Professora Titular / Dra. / Orientadora - Depto. de Fisioterapia – UFMG
Raquel Rodrigues Britto - Professora Adjunta / Dra./Orientadora - Depto. de Fisioterapia – UFMG
INTRODUÇÃO:
Na fase crônica, o Acidente Vascular Encefálico (AVE) representa a principal causa de incapacidade em indivíduos adultos, sendo que suas consequências funcionais são as mais diversas. Dentre os déficits apresentados após a lesão, observa-se frequentemente o comprometimento da função respiratória, devido à diminuição da força dos músculos respiratórios e alterações posturais. Em relação à musculatura respiratória, estudos mostram que o diafragma destes indivíduos apresenta-se mais elevado e possui menor movimentação na região do hemicorpo afetado. Quando avaliado o movimento de toda a caixa torácica, a literatura relata redução do movimento no hemitórax comprometido durante a respiração profunda e em situação de hiperventilação. A redução do movimento no hemitórax afetado e elevação do diafragma comprometem a função respiratória e, associado à redução da reserva cardiológica, reduzem a tolerância ao esforço. O treinamento muscular inspiratório (TMI) é utilizado para aumentar a capacidade ventilatória, no entanto com efeito pouco investigado nesta população.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Analisar a influência do treinamento muscular inspiratório na cinemática ventilatória e no padrão respiratório de um indivíduo hemiparético crônico pós-AVE.
MÉTODOS:
Trata-se de um estudo de caso do indivíduo J.A.C., sexo masculino, 70 anos, com história de AVE isquêmico há cinco anos, que resultou em hemiparesia esquerda. Após assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, foram coletados os dados sociodemográficos e antropométricos, bem como aplicado o questionário Perfil de Atividade Humana (PAH) que avalia o nível de atividade física e a capacidade funcional. Foram realizadas medidas seriadas semanais de pressão inspiratória (manovacuometria), volumes e padrão respiratório (pletismografia optoeletrônica), por oito semanas. Após esse período, iniciou-se o TMI com Threshold® durante 14 semanas (oito de familiarização e seis de treinamento), ajustando semanalmente a carga em 30% da pressão inspiratória máxima (PImáx). No período de familiarização, o indivíduo recebeu orientações para realizar os exercícios em casa utilizando esse equipamento durante 10 minutos diários na primeira semana e 20 minutos diários da segunda à oitava semana. No treinamento sistematizado, o indivíduo foi orientado a realizar o exercício diariamente por 30 minutos, dividido em seis séries de cinco minutos, com intervalo de um minuto entre cada série, nos sete dias da semana. Ao fim do TMI, o indivíduo foi reavaliado pelas mesmas medidas iniciais.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
O indivíduo foi considerado moderadamente ativo pelo questionário PAH com escore de atividade ajustada de 67 e apresentou fraqueza da musculatura inspiratória (PImáx 20,61% do previsto para a idade). Para os valores de PImáx, foi observado um aumento de 247,48% entre as fases, inferindo que o TMI foi capaz de aumentar a força da musculatura inspiratória. Estudos demonstram que a força da musculatura inspiratória, inferida por meio da PImáx, é significativamente menor em indivíduos pós-AVE e que o TMI gera efeitos positivos nesses indivíduos. Em relação aos volumes da parede torácica, no presente estudo, foi observado um aumento de 5,17% do volume corrente total da parede torácica do indivíduo entre as medidas pré e pós TMI. Essa mudança do VC total ocorreu principalmente no compartimento abdominal e no hemitórax esquerdo. Os volumes dos compartimentos da caixa torácica abdominal e caixa torácica pulmonar permaneceram inalterados. Teixeira-Salmela et al observaram valores maiores de PImáx em indivíduos pós-AVE, entretanto não foi observada diferença significativa de volume corrente, ventilação minuto e frequência ventilatória. Diante disso, pode-se hipotetizar que a força muscular inspiratória não é o único fator que poderia interferir no volume corrente.
CONCLUSÕES:
O treinamento muscular inspiratório proporcionou um grande incremento na força da musculatura inspiratória de um indivíduo hemiparético crônico pós-AVE, entretanto esse aumento não foi suficiente para alterar proporcionalmente a cinemática ventilatória do indivíduo durante o repouso. A partir do presente estudo, pode-se observar que a realização do TMI com duração de seis semanas e frequência de 30 minutos diários é viável para esta população, podendo ser estendido para a prática clínica.
Palavras-chave: Acidente Vascular Cerebral, Mecânica respiratória, Exercícios respiratórios.