65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 5. História - 9. História Social
O GRANDE BAZAR AOS OLHOS DAS CRIANÇAS DA VILA MALUCA E DA VILA MARCIA EM BARUERI/SP
Deise Dias Semim - UFSCAR-Universidade Federal de São Paulo
Fernanda do Nascimento Thomaz - Profa. Dra./Orientadora - UFSCAR
INTRODUÇÃO:
A partir da projeção do filme moçambicano “O grande bazar”, alunos da escola EMEF Professor Aristides da Costa e Silva e moradores da Vila Maluca, em Barueri/SP, puderam observar as vivências de algumas crianças moradoras da cidade de Maputo, Moçambique. Filmado em um mercado popular, a obra apresenta a realidade de duas crianças que vivem em um mundo violento grassado pela pobreza e pela necessidade de sobrevivência, uma realidade semelhante a dos alunos. A pesquisa concentra-se em analisar o olhar dos alunos residentes na Vila Maluca em relação à África e aos africanos. A proposta desta pesquisa é bastante relevante, uma vez que propôs mostrar uma realidade africana em sala de aula, discutir sobre nossa proximidade com esse vasto continente, refletindo sobre o racismo incorporado ao longo da nossa história e sobre a importância das culturas africanas para a formação da identidade brasileira. A partir disso, e não havendo nenhum trabalho dentro dessa perspectiva, foi utilizado para reflexão, as obras de Alberto da Costa e Silva, Um rio chamado Atlântico, Edward E. Telles O Significado da Raça na Sociedade Brasileira, Michael Pollak, Memória, Esquecimento, Silêncio, Michael Pollak, Memória e Identidade Social e Kabengele Munanga Diversidade, etnicidade, identidade e cidadania.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Analisar o olhar dos alunos em relação à África e culturas africanas, discutir o racismo incorporado em nossa história, à proximidade com o continente africano e a importância dessas culturas para formação da identidade brasileira. Fazer um estudo etnográfico da comunidade da Vila Maluca e Vila Márcia, uma análise fílmica de O Grande Bazar e da realidade moçambicana comparando as duas realidades.
MÉTODOS:
Foram utilizadas três metodologias neste estudo: filme; atividades com alunos e a produção de um material etnográfico; análise de periódicos. A atividade consistiu na exibição do filme ‘O Grande Bazar’. Através do filme suscitei a discussão dos alunos sobre a realidade retratada pelo cineasta Licínio de Azevedo, o qual produziu uma espécie de ficção documentário em relação às pessoas que viviam em uma localidade da cidade de Maputo. Essa discussão possibilitou registrar as questões e o olhar dos alunos sobre a África e os africanos. Os jornais foram utilizados como fonte de pesquisa para analisar a realidade das crianças da Vila Maluca e da Vila Márcia. Ao longo da análise, procurei destacar o grupo que o edita e a que conjuntura política ele pertence. A utilização das três fontes permitiu não somente cruzá-las, mas também usar uma para produzir outra.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Nos depoimentos orais, os alunos não reconhecem as semelhanças entre Brasil e África e as culturas africanas. Mesmo havendo uma similaridade entre a realidade dos alunos moradores da Vila Maluca e da Vila Márcia com as crianças da cidade de Maputo. Observa-se nos depoimentos, o distanciamento dos alunos em relação à realidade africana, resultado do silenciamento da sociedade brasileira em relação a suas origens e a proximidade com o continente africano.
CONCLUSÕES:
Mesmo sendo a condição social dos alunos semelhante à dos meninos apresentada no filme, eles não se identificam com as crianças moçambicanas. É explícito que os alunos demonstram um desconhecimento sobre as questões da realidade moçambicana. Desconhecimento produzido pelo silenciamento da sociedade brasileira em relação às suas origens e proximidades com o continente africano. O racismo perpetrado no Brasil se reflete na necessidade dos alunos de tentarem se distanciar, constantemente, dos moçambicanos. Com isso tornou-se possível concluir que, no município de Barueri, os alunos se percebiam no escalão mais baixo daquela localidade, ao passo que olhavam para os africanos como pessoas em um patamar inferior ao seu. Por isso, a necessidade de se distinguirem.
Palavras-chave: Alunos, Moçambique, Racismo.