65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 5. História - 1. História da Cultura
LUZ E BELEZA: UMA CAMINHADA PELO “PARAÍSO” DANTESCO
Gabriella Nunes da Silveira - Dept. de História - UPE
INTRODUÇÃO:
Segundo Eco o homem medieval conceituava a beleza de modo transcendental. Apesar de ter herdado da antiguidade parte do conceito de belo, o medieval inseriu o pensamento cristão ao termo. Como pensador da época, São Boaventura dedicou-se a tecer explicações sobre o belo, para ele tudo que se considerava belo era oriundo de Deus e da luz divina que tocava os homens e tornava-os harmônicos moralmente. Dante teria feito uso dos pensamentos boaventuranos ao escrever o ‘Paraíso’, por isso estariam presente na obra tantas manifestações de luz.
Considera-se o ‘Paraíso’ leitura obrigatória para quem deseja conhecer mais a fundo o contexto histórico em que foi escrito, visto que hoje a literatura figura firmemente entre as fontes históricas existentes. Observando a nossa realidade, a Beleza ganha cada vez mais peso social, tornando-se riquíssima fonte de questionamentos. Visando ainda conhecer como o homem de outrora formulava a beleza e fazendo uma tentativa de ver reflexos de tais pensamentos em nossa própria sociedade nossa indagação pode tomar corpo. Embasados na premissa de que as concepções de beleza são flexíveis no tempo e, baseando-se ainda no fato de que os conceitos que temos hoje são construções culturais
OBJETIVO DO TRABALHO:
Inferir o conceito de beleza e a relação deste com a sociedade medieval do baixo medievo através de análise crítica à terceira parte do poema “Divina Comédia”, de Dante Alighieri.
MÉTODOS:
Além de ter feito do “Paraíso” dantesco sua fonte principal, a pesquisa necessitou de um arcabouço teórico sobre a própria filosofia medieval. Baseando-se principalmente na leitura de autores como Umberto Eco, Moisés Romanazzi Tôrres, o próprio Dante Alighieri e alguns escritos de São Boaventura, filosofo patrístico que demostrou ser basilar ao longo do desenvolvimento da pesquisa. A partir desse ponto tornou-se possível uma investigação direta dentro do poema a cerca do posicionamento filosófico, tangente ao conceito de beleza e suas representações, tomado por Dante ao escrever o Paraíso. De forma secundária, buscou-se aliar o poema às suas representações pictóricas feitas por Sandro Boticelli afim de obter maior embasamento para a discussão e as conclusões. Assim sendo, a pesquisa fundou-se primordialmente em leitura bibliografia e aplicação do conhecimento adquirido para análise de fonte histórica visando o alcance dos objetivos e produção de conhecimento historiográfico
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Observando que na contemporaneidade as pessoas tendem a naturalizar o conceito de beleza como sendo único, universal e clássico e, observando que o medievo tende a ser anulado quando nos referimos ao belo pode-se questionar como o próprio homem medieval construia sua concepção de Belo/Beleza, numa tentativa de valorização deste e como modo de reflexão a cerca de nossos próprios cercamentos ideológicos.
Segundo Umberto Eco, o pensamento boaventurano baseia-se na ideia metafísica da luz, dela viria toda a beleza, já que, através da luz podemos ver as cores e as formas terrenas. No momento em que Dante entra no céu ele torna-se incapaz de enxergar, posto que teve a visão prejudicada tamanha era a luz que iradiava do centro do céu. Sua visão apenas restaura-se quando ele torna-se merecedor de enxergar a luz divina, fonte de toda beleza e de tudo que a ela pertence. Observando a presença de luz, não apenas nessa, mas em várias passagens do poema dantesco e observando que essa luz também se faz presente nas representações pictóricas do poema, em obras de Sandro Botticelli, podemos inferir que o pensamento de São Boaventura foi claramente usado por Dante na composição do poema. Para Dante e para São Boaventura a luz é a representação da beleza perfeita oriunda de Deus.
CONCLUSÕES:
Ao término da pesquisa ficou constatado que além da beleza está intrinsecamente ligada a Deus e a luz que emana dele, sendo belo todas as formas tocadas pela luz de Deus, nota-se que além de embelezar a luz divina também tornava o homem medieval verdadeiro e bom. Assim sendo, beleza, verdade e bondade formam o tripé ético e moral do homem medieval e estão relacionados a luminosidade. Na obra analisada foi observado que o momento em que Dante recupera a visão é o mesmo momento em que ele perde a humanidade, ele torna-se divinizado e merecedor de ver a real beleza, luz que ilumina todos os homens que passam a ser considerados bons e verdadeiros. Assimilamos ainda que esse tripé moral ainda está presente em grandes obras literárias e cinematográficas, locais em que a personagem que representa o lado positivo do enredo sempre é retratado dentro dos padrões de beleza físicos vigentes em nossa sociedade. Ainda podemos ve que em determinados discursos, como: “João é feio, mas tem um coração bom.” o suposto João, apesar de ser feio, é bonito moralmente, fugindo do ideal bonito, bom e verdadeiro e, ao mesmo tempo, ratificando esse pensamento de beleza moral.
Palavras-chave: beleza, são boaventura, divina comédia.