65ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 13. Parasitologia - 1. Entomologia e Malacologia de Parasitos e Vetores
DETECÇÃO DE MUTAÇÕES NO GENE DO CANAL DE SÓDIO EM POPULAÇÕES NATURAIS DE Aedes aegypti RESISTENTES À CIPERMETRINA
Antonio Emanuel Holanda Dias Cavalcanti - Depto. de Entomologia – CpqAM/Fiocruz e Faculdade Frassinetti do Recife
Ana Paula de Araújo - Depto. de Entomologia – CpqAM/Fiocruz
Marcelo Henrique Santos Paiva - Depto. de Entomologia – CpqAM/Fiocruz
Norma Machado da Silva - Depto. de Entomologia – CpqAM/Fiocruz
Constância Flávia Junqueira Ayres - Prfa. Dra./Co-orient - Depto. de Entomologia – CpqAM/Fiocruz
Maria Alice Varjal de Melo Santos - Profa. Dra./Orientadora - Depto. de Entomologia – CpqAM/Fiocruz
INTRODUÇÃO:
No Programa Nacional de Controle da Dengue (PNCD), inseticidas químicos da classe dos piretróides, como a cipermetrina e a deltametrina, passaram a ser usados para o controle do mosquito Aedes aegypti a partir de 2000. A aplicação continuada destes adulticidas levou a uma intensa pressão de seleção aos compostos e ao conseqüente aparecimento de populações resistentes. Os piretróides têm como molécula-alvo os canais de sódio regulados por voltagem (Nav), e a ligação nesta molécula, manterá os canais de sódio na conformação aberta, permitindo a propagação contínua do impulso nervoso, podendo levar o inseto à morte. Mutações no gene Nav, conhecidas como mutações do tipo Kdr (resistência Knockdown) ou tipo nocaute, podem reduzir a afinidade de ligação do inseticida, ocasionando o fenótipo da resistência por alteração do sítio alvo. Em populações de A. aegypti já foram referidas cinco ou mais mutações neste gene associadas à baixa sensibilidade aos piretróides. Estudos recentes, com populações resistentes do Sul e Sudeste do Brasil, têm revelado o envolvimento deste mecanismo, ligado às substituições Ile1011Met e Val1016Ile, mas pouco se sabe sobre a realidade em outras regiões brasileiras. Tais informações são de grande relevância para estabelecer nos programas de controle estratégias para o manejo da resistência.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Este trabalho teve como objetivo investigar a presença das mutações Ile1011Met e Val1016Ile em três populações naturais de A. aegypti do Estado de Pernambuco, previamente diagnosticadas como resistentes à cipermetrina.
MÉTODOS:
Amostras de ovos de A. aegypti foram coletadas nos seguintes municípios de Pernambuco: Glória do Goitá, Petrolina e São José do Egito, o primeiro localizado na Mesorregião da Zona da mata e os outros dois no Sertão do Estado. Essas amostras foram enviadas ao Insetário do CPqAM/Fiocruz/PE para serem fundadas as populações parentais e obtidas as gerações filiais. Fêmeas adultas do mosquito foram testadas em ensaios em garrafas impregnadas com a dose discriminatória da cipermetrina (8 μg/garrafa), para definir qualitativamente o status de susceptibilidade das populações. As fêmeas provenientes do bioensaio foram separadas em resistentes e susceptíveis e individualmente acondicionadas em microtubos de 1,5 ml à -80º C. A extração de DNA genômico com hidróxido de sódio foi realizada com 10 fêmeas susceptíveis e 10 resistentes. Esses DNAS foram amplificados por PCR, utilizando um par de primers que flanqueiam os sítios de mutações Ile1011Mel e Val1016Ile, presentes no Nav. Os produtos de PCR foram posteriormente submetidos à sequenciamento e o programa CodonCode Aligner (3.7.1 for Windows) foi usado para a edição e análise das sequências.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
A análise dos sítios de mutações em 60 fêmeas previamente fenotipadas revelou a presença do alelo mutante 1011Met em todas as populações estudadas, cuja frequência nos indivíduos resistentes e susceptíveis foi de 0,45 e 0,15 em Petrolina, 0,40 e 0,37 em São José do Egito e 0,25 e 0,10 em Glória do Goitá. Petrolina foi a população com a maior frequência do alelo 1011Met e a única que apresentou a mutação 1016Ile, embora em baixa frequência tanto nos indivíduos resistentes (0,20) quanto nos susceptíveis (0,15). Esta população também foi a que apresentou a menor taxa de mortalidade após a exposição à cipermetrina (22,1%). Testes estatísticos posteriores analisarão a correlação entre a frequência dos alelos e o status de resistência nas três populações.
CONCLUSÕES:
As três populações analisadas estão resistentes à cipermetrina. A presença dos alelos de resistência ainda que apenas em heterozigose pode, com o tempo e com a contínua pressão de seleção do inseticida, aumentar em frequência e causar mais alterações na susceptibilidade destas populações. Além da presença destes alelos mutantes no gene do canal de sódio, não deve ser descartada a possibilidade da existência de outros mecanismos, como a ação de enzimas detoxificantes, que também possam estar contribuindo para o fenótipo de resistência nestas populações. O acompanhamento das frequências alélicas nas populações deve ser realizado continuamente, uma vez que o aumento drástico na frequência do alelo mutante pode levar à sua fixação na população, dificultando futuras ações de controle do A. aegypti nessas localidades.
Palavras-chave: Aedes aegypti, Resistência sítio-alvo, Mutação do tipo kdr.