65ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 2. Ecologia Aquática
DISTRIBUIÇÃO ESPAÇO-TEMPORAL DA SARDINHA TRIPORTHEUS SIGNATUS (CHARACIDAE: TRIPORTHEINAE) EM UM RESERVATÓRIO TROPICAL
Simone Ferreira Teixeira - Dra.- Laboratório de Etnoecologia e Ecologia de Peixes Tropicais - UPE
Vanessa Maria Silva Rodrigues - Msc.- Laboratório de Etnoecologia e Ecologia de Peixes Tropicais - UPE
Camila Cristina Pires de Brito - Laboratório de Etnoecologia e Ecologia de Peixes Tropicais - UPE
Thâmara Cristina Araújo Silva - Laboratório de Etnoecologia e Ecologia de Peixes Tropicais - UPE
Susmara Silva Campos - Msc.- Laboratório de Etnoecologia e Ecologia de Peixes Tropicais - UPE
INTRODUÇÃO:
Os reservatórios estão, primariamente, relacionados à produção de energia elétrica, controle de vazão e ao abastecimento de água. Associadas aos usos secundários, essas funções podem representar benefícios sociais e econômicos (JÚLIO JÚNIOR et al., 2005). Entretanto, os represamentos ocasionam várias alterações ecológicas que interferem na dinâmica e estrutura da ictiofauna, principalmente das espécies migradoras, pois dificultam a reprodução e podem ocasionar a diminuição dos estoques naturais ou a extinção (AGOSTINHO et al., 2007). O gênero Triportheus engloba espécies de caráter migratório e ampla distribuição, comumente encontradas em áreas alagadas, devido à adaptabilidade a diversos biótopos (SOARES & JUNK, 2000; DORIA & QUEIROZ, 2008). Triportheus signatusé uma espécie bentopelágica de importância pesqueira que se encontra distribuída na bacia do rio Parnaíba e algumas drenagens costeiras do nordeste do Brasil. Considerando que a presença do reservatório de Boa Esperança no rio Parnaíba pode implicar em alterações contínuas na dinâmica populacional de T. signatus, a elaboração de estudos que visem compreender e fornecer informações sobre a ecologia desta espécie é relevante, pois podem subsidiar futuras estratégias de manejo e conservação.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Avaliar a distribuição espacial e temporal da sardinha Triportheus signatus na área de influência do reservatório de Boa Esperança, no Alto rio Parnaíba, Piauí (PI).
MÉTODOS:
O reservatório de Boa Esperança está localizado no alto rio Parnaíba, no município de Guadalupe (PI). O regime de precipitação pluviométrico da região é constituído por dois períodos climatológicos, sendo o período chuvoso nos meses de janeiro a junho, e o período de estiagem, nos meses de julho a dezembro (MARQUES et al., 2002; CAVALCANTE et al., 2007). As coletas foram realizadas bimestralmente, de outubro de 2004 a junho de 2006, em 10 estações de amostragem (F1 a F10) na área de influência do reservatório, abrangendo os ambientes lêntico (F2 a F5), de transição (F6 e F7) e lótico (F1 - à jusante da barragem, F8, F9 e F10). Os peixes foram coletados através de rede de arrasto (20 m x 1,5 m, com 5 mm entre-nós), com 3 repetições e, posteriormente, devidamente acondicionados e fixados em formaldeído a 10%. Foram obtidos o comprimento padrão (CP) (0,1 mm) e peso total (PT) (0,01 g). Os dados foram analisados por estação de amostragem e bimestralmente, através de densidade e biomassa média (30 m2). Os dados foram testados quanto à normalidade, através do teste de Shapiro-Wilk. Para detectar diferenças significativas espaço-temporal, foi procedida a analise de variância de Kruskal-Wallis (KW), utilizando o software estatístico Statistica 7.1 (STATSOFT INC., 2005).
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Foram capturados 287 exemplares de Triportheus signatus com CP entre 2,1 e 10,7 cm, totalizando 1155,9 g. Não houve registro da espécie nas estações F2, F3, F4 e F9. Os maiores valores de densidade média foram nas estações F6 (0,944 ind/30 m2), F1 e F10 (0,678 ind/30 m2, cada). Os maiores valores biomassa média foram obtidos em F1 (4,844g/30 m2) e F10 (2,882g/30 m2). Embora a espécie apresente adaptações a ambientes lóticos, a ocupação de diversos biótopos pode estar relacionada à flexibilidade e à capacidade de realizar movimentos amplos ou migrações (BATISTA, 1998). A baixa ocorrência em ambientes lênticos reflete a dificuldade de colonização no reservatório de Boa Esperança, provavelmente, devido às alterações decorrentes de sua implantação. Os maiores valores de densidade e biomassa média foram em abr/05 (1,544 ind/30 m2 e 6,222g/30 m2, respectivamente), no período chuvoso. O incremento no aporte de água durante esta época garante maior disponibilidade de recursos (SOARES et al., 1986) e favorece o desenvolvimento da espécie. Não houve diferença significativa no número de indivíduos em relação ao tipo de ambiente (KW= 0,0430; p= 0,9787), e à sazonalidade (KW= 2,1896; p= 0,1389).
CONCLUSÕES:
Triportheus signatus encontra-se distribuída por todos os biótopos na área de influência do reservatório de Boa Esperança, o que demonstra sua adaptabilidade na ocupação de ambientes distintos. Contudo, a predominância verificada nos ambientes lótico e de transição reflete a preferência por áreas mais alagadas, de maior disponibilidade de recursos e menor influência do represamento.
Palavras-chave: Boa Esperança, Nordeste do Brasil, Espécie endêmica.