65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 4. Educação Básica
O PROJETO ALFA E BETO E O DESENVOLVIMENTO DA CAPACIDADE LEITORA DOS ALUNOS DO 1° ANO DO 1° CICLO: CONTRIBUIÇÕES OU LIMITAÇÕES?
Ewerton Ávila dos Anjos Luna - Prof. MSc/Co-Orientador - Depto. de Letras e Ciências Humanas - UFRPE
Hérica Karina Cavalcanti de Lima - Doutoranda/Orientadora - Programa de Pós-Graduação em Educação - UFPE
Juliana Carla Menezes da Silva - Formanda em Pedagogia - Depto. de Educação - UFRPE
Marcelo Monteiro de Aquino - Formando em Pedagogia - Depto. de Edcuação - UFRPE
INTRODUÇÃO:
A tarefa de alfabetizar, por muito tempo, restringiu-se à atividade de ensinar aos alunos a tecnologia da escrita, bem como os padrões silábicos através de textos cartilhados. Hoje, porém, a alfabetização na perspectiva do letramento defende a reflexão sobre o sistema de escrita alfabética, propondo a leitura e a escrita como práticas sociais. Considerando, então, a importância de uma alfabetização nessa perspectiva, investigamos como tem se dado esse processo nas escolas da nossa região. Para responder às nossas inquietações, voltamo-nos para as práticas de alfabetização em uma escola pública municipal, localizada em Jaboatão dos Guararapes, e constatamos que elas se davam dentro das ações do Projeto Alfa e Beto. Decidimos, então, analisar que atividades de leitura eram realizadas pelos professores dentro desse projeto para favorecer a formação do leitor e observar o que ele traz em termos de orientação para o professor. Assim, voltamo-nos para considerações de autores como Brandão e Leal (2005), Morais, Albuquerque e Leal (2005), Mortatti (2006) e outros sobre alfabetização. A relevância desse estudo se dá por colaborar significativamente com os estudos sobre alfabetização nas escolas pernambucanas que ainda veem a alfabetização como um processo de codificação e decodificação.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Analisar as práticas de alfabetização realizadas numa turma de 1° ano do 1° ciclo que trabalha com o Projeto Alfa e Beto, identificando se elas partem ou não das orientações desse projeto e analisar se essas atividades propiciam o desenvolvimento e a formação do leitor.
MÉTODOS:
Essa pesquisa educacional classifica-se como qualitativa. Foi realizada na Escola Municipal Luiz Gonzaga Maranhão, na cidade de Jaboatão dos Guararapes, escolhida por ser um espaço educativo importante da comunidade onde moramos. Os instrumentos de pesquisa utilizados foram a observação e a entrevista. Esses instrumentos foram escolhidos porque permitem que nos aproximemos dos sujeitos pesquisados conhecendo seu jeito de agir e de pensar. Inicialmente, realizamos a observações de 10 (dez) horas-aula feitas em uma sala de aula do 1° ano do 1° ciclo da referida escola. Após as observações, fizemos uma entrevista semiestruturada com a docente para sabermos suas impressões a respeito do projeto Alfa e Beto, bem como para questionar se ela seguia realmente as orientações do seu manual. Por fim, analisamos o Manual de Orientação do Projeto Alfa e Beto, com a perspectiva de observar se as práticas de leitura utilizadas pela professora em sala de aula tinham relação com o mesmo.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
De acordo com as observações realizadas, percebemos que a reflexão sobre o sistema de escrita alfabético (SEA) não é posto em relevância nas práticas da professora ao usar o Projeto Alfa e Beto. O ensino do SEA e da leitura se dá a partir de atividades características dos anos 1980, com as típicas atividades de memorização. Os textos trabalhados em sala de aula não estavam relacionados com o cotidiano dos alunos, sendo considerados “textos vazios” (BRANDÃO; LEAL, 2005, p.28). As atividades de leitura e apropriação do SEA, promovidas a partir das atividades do Projeto Alfa e Beto, são retrógradas e, como afirmam Brandão e Leal (2005), baseadas apenas no treinamento de habilidades perceptuais, coordenação motora e com memorização de grafemas e fonemas, com o objetivo de juntar sílabas para formar e ler palavras. Em suas respostas à entrevista, a professora deixa claro que a aplicação do Projeto se dá por imposição política. Em vários fragmentos, ela menciona que é obrigada a ensinar apenas o que o Projeto Alfa e Beto propõe, seguindo as orientações do seu manual, que objetiva, em síntese, fazer com que o aluno codifique e decodifique o SEA sem precisar refletir sobre o que está lendo, o que não garante a formação de um leitor ativo, crítico e atuante num contexto social letrado.
CONCLUSÕES:
O objetivo da nossa pesquisa foi investigar como tem se dado o processo de alfabetização e a formação de leitores numa turma de 1º ano do 1º ciclo de uma escola da rede municipal de Jaboatão dos Guararapes que utiliza o Projeto Alfa e Beto. A partir daí, observamos as práticas da professora e realizamos entrevista semiestruturada. Constatamos, com as análises dos dados, que as atividades desenvolvidas têm como objetivo apenas fazer com que o aluno decodifique e memorize palavras e frases, sem exigir que reflitam sobre o SEA e sobre os textos que leem. As atividades existentes no material do Projeto “Alfa e Beto” são, portanto, consideradas tradicionais, pois solicitam apenas codificação e decodificação. Apesar de o ensino da leitura precisar se dar hoje na perspectiva do letramento e de essa concepção já se fazer presente nas instituições escolares, essa não é a realidade dessa turma nem do Projeto Alfa e Beto.
Palavras-chave: Alfabetização, Letramento, Leitura.