65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 7. Sociologia
DIVERSIDADE SEXUAL, HOMOFOBIA E ATIVISMO – PESQUISA NA 11ª PARADA DA DIVERSIDADE DO RECIFE 2012
Micheline Dayse Gomes Batista - Programa de Pós-Graduação em Sociologia – UFPE
Vilma Barbosa Felix - Programa de Pós-Graduação em Sociologia – UFPE
INTRODUÇÃO:
A violência contra homossexuais é crescente no Brasil, em particular no Nordeste, sendo assunto recorrente na mídia. Levantamento da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, divulgado em junho de 2012, contabiliza 6.909 denúncias, sendo 278 assassinatos, ligadas à homofobia em 2011 no Brasil. Os números consideram denúncias feitas aos serviços Disque Direitos Humanos, Central de Atendimento à Mulher, dados do Ministério da Saúde e notícias publicadas pela imprensa. O levantamento aponta que em 62% dos casos o agressor é alguém próximo à vítima, indicando um nível preocupante de intolerância. Foram identificadas 1.173 vítimas e 2.275 suspeitos.
Não há dados específicos por região, mas números alarmantes como esses apontam para a necessidade da realização de pesquisas que possam orientar a formulação de políticas públicas, não apenas na área da justiça e da segurança, mas também da saúde e da educação em todas as esferas de governo. É preciso conhecer essa população a fundo. Segundo Facchini (2007:12), as paradas gays representam uma excelente oportunidade para obtenção de dados, por reunirem uma ampla gama de orientações sexuais e identidades de gênero no contexto do movimento LGBT – gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais.
OBJETIVO DO TRABALHO:
O objetivo deste trabalho é investigar aspectos referentes a práticas homofóbicas percebidas pelos participantes da 11ª Parada da Diversidade do Recife, ocorrida no dia 16 de setembro de 2012, no bairro de Boa Viagem. Faremos um levantamento do perfil sócio-político, de dados sobre vitimização e discriminação do público LGBT, relacionando-os às formas de ativismo deste público.
MÉTODOS:
Esta é uma pesquisa quantitativa, com amostra intencional composta por 100 casos aleatórios, baseada na sexualidade autoatribuída, ou seja, não determinamos qualquer tipo de cota para a realização das entrevistas. Mas, alguns cuidados foram tomados na tentativa de potencializar o mínimo de representatividade das sexualidades presentes no evento, seguindo a tendência levantada em outras pesquisas já realizadas sobre o tema. Procuramos diversificar ao máximo algumas características dos entrevistados como sexo, raça, idade, orientação sexual, etc. Uma parte dos questionários foi aplicada na concentração do evento, outra durante o desfile e outra na dispersão. Aplicamos ainda alguns questionários depois do evento como forma de alcançar com alguma representatividade todas as sexualidades autoatribuídas. Como os dados não advêm de uma amostra probabilística, apontam apenas tendências.
Utilizamos um questionário estruturado com cerca de 30 perguntas abertas e fechadas e tempo médio de aplicação de 15 minutos. Em algumas questões utilizamos cartões de estímulo para evitar um alto índice missing. A equipe envolvida no projeto foi voluntária e composta por 5 entrevistadores e um supervisor. A verificação foi realizada in loco e por telefone, compondo 20% da produção de cada entrevistador.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Identificamos entre os entrevistados uma maioria do sexo masculino (69%), de cor parda (49%), com escolaridade superior ao ensino médio (42%) e adeptos da religião católica (49%), onde 51% possuem no máximo 27 anos e renda individual de até 3 salários mínimos (56%). Foram entrevistados 48 gays, 25 lésbicas, 10 bissexuais, 10 heterossexuais, 5 travestis e 1 transexual, alem de um entrevistado que não se identificou com nenhuma dessas categorias. Os dados mostram que 79% dos entrevistados já participaram de outras paradas da diversidade. Entretanto, 70% deles não participam de qualquer movimento social e apenas 8% participam do movimento LGBT, apesar de 40% terem afirmado conhecer programas, projetos ou leis favoráveis à comunidade LGBT.
Observamos que 47% foram ao evento para lutar contra a homofobia e para dar visibilidade/defender os direitos dos homossexuais, sendo que 54% já assumiram sua sexualidade abertamente. Quanto à discriminação, 25% dos entrevistados afirmaram ter sido discriminados por amigos e conhecidos e 23% marginalizados no ambiente familiar. Os dados indicam que 38% dos entrevistados já sofreram agressão verbal ou ameaça de agressão devido a sua orientação sexual. Essas agressões foram praticadas por desconhecidos (14%), amigos (7%) e familiares (5%).
CONCLUSÕES:
A pesquisa concluiu que existe uma relação estatisticamente significativa e substancial entre assumir a sexualidade e ser vítima de agressões. Esta relação varia em função da cor dos entrevistados, demonstrando que, quanto mais as pessoas de cor parda/preta assumem sua sexualidade, mais sofrem agressão física. Os testes indicaram que a discriminação contra a população LGBT tem um baixo grau de associação com o ativismo dos participantes da Parada da Diversidade, mesmo quando o grupo é analisado pelo grau de instrução. Também foi identificada uma correlação baixa entre ativismo e motivo da participação na Parada. Aqueles que não são considerados ativistas tendem a comparecer à parada principalmente por diversão, enquanto que os ativistas tendem a comparecer para dar visibilidade ou defender os direitos homossexuais e lutar contra a homofobia. Por fim, igualmente identificamos que há uma correlação baixa entre o ativismo e a sexualidade dos participantes, indicando que as lésbicas tendem a ser um pouco mais ativistas do que os gays. Essa relação também varia pouco quando consideramos a idade dos entrevistados. Pessoas com mais de 26 anos tendem a associar, em grau moderado, sua sexualidade e seu ativismo.
Palavras-chave: Orientação sexual, Discriminação, Mobilização.