65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 6. Sociologia Urbana
O CONSUMO DE PLANTAS MEDICINAIS EM BAIRROS DA REGIÃO METROPOLITANA DE BELÉM, PARÁ
Eliciany de Nazaré Miranda Sanches - Universidade Federal Rural da Amazônia – UFRA
Deyvid Novaes Marques - Universidade Federal Rural da Amazônia – UFRA
Cyntia Meireles de Oliveira - Profa.Dra./Orientadora – Instituto Socioambiental e dos Recursos Hídricos – UFRA
INTRODUÇÃO:
Os conhecimentos nativos sobre a utilização de plantas medicinais têm sido divulgados em várias partes do mundo (Begossi et al., 2002). Segundo Castelluci et al. (2000), muitos produtos vegetais que são indispensáveis à sociedade urbana têm sua origem em populações de origem rural, as quais aprenderam a domesticar e a manipular as propriedades curativas das plantas. Tal prática tradicional ainda é comum em vários povos, sendo mais evidente nos países em desenvolvimento. Entretanto, as modernas condições de vida dessas populações comprometem a transmissão desse conhecimento às futuras gerações, como observado em várias comunidades brasileiras. A floresta amazônica concentra a maior diversidade de espécies de plantas medicinais. Segundo o IBGE, o estado do Pará é o que mais se destaca, com 540 espécies. No estado, a utilização de plantas medicinais como alternativa terapêutica vem atingindo um público cada vez maior. Tal crescimento requer dos pesquisadores um maior empenho, no sentido de fornecer informações que colaborem para o desenvolvimento de métodos que propiciem melhor avaliação científica do valor terapêutico de espécies vegetais, assim como, a respeito das possíveis barreiras para o consumo, aceitação de mercado e acesso de tais espécies por grande parte da população.
OBJETIVO DO TRABALHO:
O objetivo do presente trabalho foi caracterizar o uso de plantas medicinais em bairros da região metropolitana de Belém, Pará, avaliando o consumo de tais plantas, procurando estabelecer uma correlação entre os padrões socioeconômicos dos entrevistados e a utilização da fitoterapia como prática em seu cotidiano.
MÉTODOS:
Este trabalho foi realizado por meio de uma pesquisa quantitativa, na qual foram escolhidas, aleatoriamente, 25 pessoas de cada um dos seguintes bairros da região metropolitana de Belém, Pará: Guamá, Jurunas, Doca e Nazaré, sendo os dois primeiros bairros periféricos e os últimos nobres. Utilizou-se um questionário estruturado com perguntas semi-abertas (múltiplas opções de respostas para geração de resultados percentuais), composto de questões que trataram sobre o grau de instrução dos entrevistados, espécies consumidas, aquisição e utilização, até a forma de consumo dos que utilizam plantas medicinais. As questões foram formuladas com base em estudos sobre consumo e perfil do consumidor de plantas medicinais, de modo a permitir que as informações obtidas atinjam o objetivo da pesquisa.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Por meio dos registros coletados, percebe-se que há maior consumo de plantas medicinais nos dois bairros periféricos (Guamá e Jurunas), onde 84% afirmaram consumi-las. Nas áreas nobres, 60% possuem nível superior e 70% afirmaram que não consomem, embora 100% dessas áreas, assim como das periféricas, onde 64% possuem nível médio, reconhecem a ampla importância fitoterápica dessas plantas, como: boldo (Peumus boldus Molina), erva-doce (Pimpinella anisum L.) e camomila (Matricaria recutita L.), espécies as quais foram bastante mencionadas pelos entrevistados. Nos bairros nobres, em relação às pessoas que consomem, 56,25% afirmaram adquirir raramente e 54% têm renda mensal acima de R$ 3500,00. Por sua vez, na periferia, onde 78% possuem renda mensal entre R$ 501,00 a 1500,00, 71,43% afirmaram consumir semanalmente. Nos dois bairros periféricos, onde o menor grau de instrução dos entrevistados coincide com o maior consumo, 72,50% dos produtos de tais plantas são adquiridos em feiras ou quintais e 27,50% em supermercados ou farmácias. Nessas áreas, 93,75% afirmaram ter estímulo familiar para o consumo, sendo que a maioria relatou que tais familiares pertencem ou pertenceram a comunidades interioranas do estado.
CONCLUSÕES:
Os benefícios provenientes de plantas medicinais são amplamente conhecidos por moradores de bairros da região metropolitana de Belém, onde o maior consumo de produtos dessas plantas ocorre em áreas periféricas, fazendo com que tais pessoas tenham maior conhecimento sobre os benefícios gerados pelo consumo dessas espécies. Isso está amplamente correlacionado com a realidade socioeconômica dessas áreas, onde fatores como o limitado acesso a programas de saúde pública permite uma maior conservação da prática desse consumo, diferentemente da realidade de área nobres, onde há maior acesso a medicamentos industrializados em virtude do maior poder aquisitivo. Conhecimentos sobre plantas medicinais acabam sendo passados de geração após geração, sobretudo em classes com baixo poder aquisitivo, sendo importante a conservação e propagação de tais conhecimentos para as gerações futuras.
Palavras-chave: Amazônia, Plantas medicinais, Saberes tradicionais.