65ª Reunião Anual da SBPC
A. Ciências Exatas e da Terra - 4. Química - 4. Química de Produtos Naturais
Estudo da interação química entre aroeira e lagarta predadora. Parte 1: Avaliação do teor de ácido gálico nas folhas de Schinus terebinthifolius Raddi (aroeira) e fezes da lagarta Automeris sp
José Rodrigo Silva Barreto - Depto. De Química - UFS/ITA
Geraldo Humberto Silva - Prof. Dr/Orientador – Depto. De Química – UFS/ITA
INTRODUÇÃO:
Schinus terebinthifolius Raddi é uma espécie de planta conhecida popularmente como aroeira, aroeira vermelha, aroeira pimenteira, aroeira da praia e diversos outros nomes que variam de região para região, esta é um espécie da família Anacardiaceae. A aroeira é empregada popularmente no tratamento da diarréia, inflamações, para promover a transpiração e a eliminação de líquidos. Comumente árvores de aroeira são predadas por uma espécie de lagarta, classificada como Automeris sp, causando intenso desfolhamento. Para digerir o alimento o trato digestivo dos insetos produz várias enzimas, que transformam macromoléculas complexas em moléculas mais simples, capazes de serem absorvidas pelo organismo, as não absorvíveis são eliminadas nas fezes. Neste trabalho fez-se um estudo qualitativo e quantitativo do ácido gálico em folhas de Schinus terebinthifolius Raddi (aroeira) e em fezes de lagartas Automeris sp alimentadas com folhas de aroeira, visando identificar indiretamente a ação das tannases presentes no trato intestinal dos insetos sobre os taninos presentes em folhas de aroeira.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Fazer um estudo do ácido gálico presente em folhas de Schinus terebinthifolius Raddi e em fezes de lagartas Automeris sp, comparando os extratos utilizando CLAE-PDA.
MÉTODOS:
Lagartas com cerca de 6,0 cm de comprimento foram transferidas para gaiola fabricada com material reciclado. A gaiola foi limpa e o alimento, folhas de aroeira, foram trocados diariamente. As fezes foram coletadas e secas diariamente. Amostras de folhas foram secas em estufa ventilada por 72 horas a 50°C. As folhas e fezes secas foram separadamente maceradas em almofariz e pistilo até atingir um aspecto de pó. Foi feita a pesagem de 15g e adicionado 150 ml de MeOH, os recipientes foram tampados e deixado em repouso para extração dos metabolitos por uma semana. Em seguida os extratos foram filtrados e particionados três vezes com hexano. Em seguida, foram filtrados em membrana de 0,45 µm e submetidos à análise via CLAE-PDA analítico com coluna de fase reversa C18 Shim-Pak, sendo injetados 5 µl e fazendo corrida utilizando H2O/MeOH, com eluição gradiente linear de 5-100% de MeOH, em 40 minutos a uma vazão de 0.8 ml/mim e 5 min com 100% de MeOH, registrando com varredura e monitoramento de 254 nm. Também foi feita a análise do padrão ácido gálico para construção de curva analítica. Os valores de área do pico foram coletados e construído uma curva de concentração versus área em planilha do EXCEL, obtendo a equação y = 0,0000000937x - 0,0064128976 e R² = 0,9999825027.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Comparação entre os cromatogramas obtidos por CLAE-PDA do padrão do ácido gálico, do extrato das folhas e do extrato das fezes indicou a presença de ácido gálico tanto nas folhas de aroeira como nas fezes de lagartas Automeris sp alimentadas com folhas desta árvore, pois todos os cromatogramas apresentaram pico com tempo de retenção de 10,7 minutos e mesmo espectro de UV, tal fato foi comprovado fazendo co-injeção do padrão as amostras. A quantificação mostrou que existem 5,93x10-3 % de ácido gálico nas folhas e 2,89% nas fezes. Tais resultados mostram que a concentração do ácido gálico nas fezes é 487 vezes maior que a encontrada nas folhas, caracterizando que a lagarta hidrolisa os ésteres dos ácidos gálico presentes principalmente nos taninos, desta forma, sendo liberado em alta concentração nas fezes da lagarta.
CONCLUSÕES:
A alimentação de lagartas com folhas de aroeira leva a um aumento de concentração do ácido gálico nas fezes da lagarta em comparação com a concentração nas folhas, este fato pode ser explicado pela ação das enzimas tannases no trato intestinal das lagartas hidrolisando ésteres de ácido gálico presentes nas folhas e desta forma aumentando sua concentração nas fezes. Portanto, as lagartas Automeris sp podem apresentar um forte papel facilitador no processo de isolamento do ácido gálico a partir de folhas de Schinus terebinthifolius Raddi.
Palavras-chave: Ácido gálico, Aroeira, Lagarta.