65ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 4. Botânica - 8. Botânica
ECOGEOGRAFIA DE AECHMEA MERTENSII (BROMELIACEAE) E A CONEXÃO ENTRE A FLORESTA ATLÂNTICA NORDESTINA E A FLORESTA AMAZÔNICA
Amanda Lins Bispo - Jardim Botânico do Recife/Universidade Federal Rural de Pernambuco
Naédja Kaliére Marques de Luna - Jardim Botânico do Recife/Faculdade Frassineti do Recife
Jefferson Rodrigues Maciel - Jardim Botânico do Recife
INTRODUÇÃO:
Aechmea mertensii pertence a família Bromeliaceae e possui ampla distribuição, ocorrendo na Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Guiana Francesa, Peru, Suriname, Trinidad e Venezuela. No Brasil, ocorre nos estados do Acre, Alagoas, Amapá, Amazonas, Bahia, Mato Grosso, Pará, Paraíba, Pernambuco, Rondônia, Roraima e Sergipe. A distribuição de A. mertensii coincide com o padrão usado para apontar uma conexão florística entre a Floresta Atlântica Nordestina e a Amazônica. Essa conexão chamada de Paralelismo da Flora Amazônico-Nordestina, é uma das evidências usadas por fitogeógrafos para confirmar a hipótese de que no passado essas duas massas vegetacionais estiveram conectadas. Atualmente, o acúmulo de informações climáticas e a sofisticação das ferramentas de Sistema de Informação Geográfica permitem avaliar uma quantidade grande de dados sobre as variáveis climáticas e topológicas dos pontos onde as espécies ocorrem. Nesse sentido, é possível ampliar o conhecimento sobre a distribuição de táxons e criar um panorama ecogeográfico que deem suporte para as hipóteses evolutivas, taxonômicas e biogeográficas. Fica clara então a importância do presente trabalho para o conhecimento da conexão entre a Floresta Atlântica e Amazônica e a evolução destes dois biomas.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Os objetivos deste trabalho são: confirmar o padrão de distribuição de A. mertensii, identificar diferenças ecogeográficas entre as populações brasileiras da espécies e testar se existe maior similaridade ecogeográfica entre as populações da Floresta Atlântica ao Norte do Rio São Francisco e da Amazônia.
MÉTODOS:
Os dados foram coletados em buscas no sistema SpeciesLink (disponível em http://splink.cria.org.br/) e levantamento bibliográfico. Os dados oriundos do SpeciesLink passaram por correção nomenclatural e geográfica. A correção nomenclatural eliminou identificações imprecisas, nomes duplicados, erros de digitação e avaliou a existência de sinônimos. A correção geográfica foi realizada manualmente usando os topônimos das espécies. Nos casos onde os topônimos foram imprecisos a amostra foi retirada da análise. Também foram retiradas da análise ocorrências duplicadas. Os dados corrigidos foram plotados no software DIVA-GIS. As informações sobre os habitats de Aechmea mertensii foram retiradas da base do WorldClim disponível no DIVA-GIS através da ferramenta “Extract value by points”. Os dados extraídos foram utilizados para realizar análises de agrupamento com método de agrupamentos pareados e com o algoritmo Bray-Curtis. As análises estatísticas multivariadas foram executadas no software PAST ver. 2.15.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Dois grupos principais foram formados, compartilhando índice de similaridade de 0.78. Esses dois grandes grupos representam essencialmente as populações Atlânticas e Amazônicas. No entanto, dentro do grupo Atlântico são encontradas poucas populações de Roraima e do Nordeste do Amazonas. Por sua vez, no grupo Amazônico são encontradas algumas populações da região centro-sul da Bahia. O agrupamento Atlântico se divide em mais três grupos principais que compartilham índice de 0.82 de similaridade. A primeira divergência representa ecótipos da Bahia, sobretudo da porção sul da Floresta Atlântica desse estado. Os dois grupos posteriores são formados por populações de Sergipe, Alagoas e Paraíba, com inclusões das populações de Roraima e Amazonas. O grupo Amazônico se divide em cinco agrupamentos que representam quatro ecótipos: porção norte do Amazonas, porção nordeste do Pará, porção central do Amazonas e Pará, porção sul do Amazonas+Acre+Rondônia. O quinto grupo é formado por populações do nordeste do Amazonas e sul de Roraima com populações do centro-sul da Bahia. Os resultados mostram que na Amazônia existe a formação de ecótipos muito claramente, enquanto que no Nordeste só dois ecótipos são visualizados: sul da Bahia e Floresta Atlântica ao Norte do Rio São Francisco.
CONCLUSÕES:
A distribuição disjunta de A. mertensii foi confirmada neste estudo. Disjunções similares têm sido explicadas por muitos autores como produto dos eventos climáticos ocorridos no Pleistoceno. Outros argumentam que tais disjunções são originadas pela capacidade de dispersão a longa distância das espécies. Os dados também permitem concluir que as populações Atlânticas e Amazônicas de A. mertensii claramente se distinguem em termos ecogeográficos. Os ecótipos formados na Floresta Atlântica coincidem com os Centros de Endemismo registrados para a região. A porção Nordeste do Estado do Amazonas e o Estado de Roraima compartilham com regiões da Floresta Atlântica forte similaridade de fatores abióticos, que permitem o estabelecimento das populações desta espécie. Considerando as evidências de que no passado as Florestas Atlântica e Amazônica estiveram conectadas ou mais próximas, é possível que tenha se formado um corredor de condições favoráveis para a dispersão desta espécie entre as regiões nordeste do Amazonas+sul de Roraima+Norte do Pará+Maranhão e o Nordeste do Brasil. Essa hipótese poderá ser testada no futuro com estudos filogeográficos e de modelagem de nicho ecológico.
Palavras-chave: Centro de Endemismo Pernambuco, Nicho Ecológico, Biogeografia.