65ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 4. Botânica - 8. Botânica
ECOGEOGRAFIA DE UMA ESPÉCIE AMEAÇADA DE EXTINÇÃO DO CENTRO DE ENDEMISMO PERNAMBUCO
Naédja Kaliére Marques de Luna - FAFIRE / Jardim Botânico do Recife
Amanda Lins Bispo Monteiro - UFRPE / Jardim Botânico do Recife
Ricardo Rodrigues da Silveira Filho - Universidade Federal da Paraíba
Jefferson Rodrigues Maciel - Orientador - Jardim Botânico do Recife
INTRODUÇÃO:
Swartzia pickelii Killip ex Ducke, conhecida popularmente como jacarandá-branco, é uma espécie arbórea da família Fabaceae e está classificada na subfamília Papilionoideae, tribo Swartziae. É endêmica do Centro de Endemismo Pernambuco, ocorrendo nos estados de Alagoas, Pernambuco e Paraíba. Em geral, a espécie é rara e possui densidade relativamente baixa em fragmentos florestais, mas em alguns casos suas populações podem ser numerosas. A respeito dos habitat e preferências ecológicas do jacarandá-branco pouco se conhece. A única referência feita ao habitat da espécie indica que ela é encontrada em florestas de terras baixas, na região costeira e eventualmente em florestas secundárias. A espécie se encontra na lista das ameaçadas de extinção do Ministério do Meio Ambiente, e por isto é prioridade nos programas de pesquisa e de reintrodução de espécies do Jardim Botânico do Recife. Sendo assim, fica clara a necessidade de aprofundar o conhecimento sobre os tipos de habitat preferenciais da espécie, a fim de potencializar qualquer esforço de reintrodução. O conhecimento profundo sobre as preferências ambientais da espécie também é fundamental para evitar sua introdução em locais aonde a mesma venha a se tornar um problema ecológico.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Diante disso, o presente trabalho tem como objetivo analisar as preferências de habitat de Swartzia pickelii. Como objetivos específicos o trabalho visa identificar padrões de ecótipos e quais fatores abióticos mais afetam a distribuição da espécie.
MÉTODOS:
Os dados sobre a distribuição de S. pickelii foram coletados em buscas simples na base de dados do sistema Species link(disponível em: www.splink.cria.org.br) e em levantamento bibliográfico. As amostras sem coordenadas geográficas foram corrigidas manualmente cruzando informações das localidades com “gazetteers” disponíveis on-line. Nos casos de imprecisão de dados e coordenadas duplicadas, as amostras foram retiradas da análise. Os dados foram plotados no software DIVA-GIS. Os dados das variáveis climáticas e de relevo dos hábitats conhecidos da espécie foram extraídos do banco de dados “World-Clim”, através da ferramenta “Extract value by points” disponíveis no DIVA-GIS. Após a extração, foi realizada uma Análise de Componentes Principais (PCA), com os cálculos realizados a partir da matriz de correlação (para dados autoescalonados) e uma análise de agrupamento de distância euclidiana. Estas análises foram rodadas no programa R (versão 2.15.3 “Security Blanket”).
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
A PCA revelou que juntos, os dois primeiros componentes explicam 82,65% da proporção de variância encontrada, o componente principal 1 apresentou valor de 62,28% e o componente principal 2, 20,37%. Com relação à ortogonal principal, a variável isotermalidade uniu no quadrante I um grupo de espécimes da Paraíba, e a variável sazonalidade da precipitação apresentou no quadrante III um grande grupo de espécimes do estado de Pernambuco. Não houve grande influência das outras variáveis utilizadas. Quanto aos resultados da análise de agrupamento, houve a formação de 5 grupos que não mostraram padrão latitudinal de organização, deixando evidente que os ecótipos não são explicados pelas suas proximidades geográficas. Não obstante, os resultados da análise de agrupamento reforçam as influências das variáveis de sazonalidade da temperatura e de isotermalidade, as quais não necessariamente estão relacionadas a proximidades latitudinais das amostras.
CONCLUSÕES:
Os resultados obtidos mostram que a sazonalidade da precipitação e a isotermalidade influenciam diretamente na distribuição da espécie ao longo de seu gradiente de ocorrência, que vai desde o sul de Alagoas ao norte da Paraíba. Vale lembrar que registros imprecisos da distribuição da espécie também foram realizados para a Bahia e Sergipe, mas essa informação precisa ser validada “in loco” e é incoerente com o conhecimento produzido até o momento. Sendo assim, dentro do contexto da Floresta Atlântica ao Norte do Rio São Francisco, que representa o Centro de Endemismo Pernambuco, Swartzia pickelii apresenta como preferências ambientais altitudes que variam até no máximo 150 metros e temperaturas com pequena variação, um padrão típico da Floresta Atlântica de Terras Baixas. Por outro lado, o habitat preferencial da espécie é pouco influenciado pela precipitação anual, pela temperatura média anual e pela sazonalidade de temperatura. O próximo passo dessa pesquisa será acrescentar informações bióticas ao conjunto de variáveis e avaliar o quanto do habitat original do jacarandá-branco foi reduzido pelo intenso processo de fragmentação histórica da Floresta Atlântica.
Palavras-chave: Centro de Endemismo Pernambuco, Nicho Ecológico, Biogeografia.