65ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Linguística - 1. Linguística Aplicada
A NATUREZA CONSTITUTIVA DO GÊNERO DISCURSIVO AULA
Jéssica Stefhânia Figueiredo Rocha - Prog. de Pós-Grad. em Letras: Cultura, Educação e Linguagens -PPGCEL/UESB
Ester Maria de Figueiredo Souza - Profa. Dra./Orientadora - PPGCEL/UESB
INTRODUÇÃO:
Pesquisas na área da Linguística Aplicada (LA) assinalam a importância de gestos de transposição didática para aperfeiçoar e dar subsídios para que os educadores possam atualizar o conhecimento produzido e diariamente reconstruído no espaço escolar, Souza (2009). Como abordagem teórica, a pesquisa referencia-se nos estudos da interação didática na sala de aula, sustentando-se em Matencio (2001); e na teoria dialógica da linguagem, em Bakhtin (2003) e Bakhtin/Volochinov (1986). Valoriza-se as relações de língua(gem) e educação para subsidiar a formação do professor, propiciando (re)tomadas de posição sobre o agir docente na aula. Enfatiza-se uma abordagem didática para o ensino a qual busca assumir a função interativa da linguagem, no sentido de auxiliar o aluno a refletir, intervir, comparar, relacionar saberes e práticas de experiências. O trabalho aborda as condições de produção dos discursos que atualizam a linguagem em diferentes contextos históricos. Destaca os processos de interação verbal, já que esses proporcionam maior visibilidade sobre a construção de conhecimento que ocorrem na aula. Particulariza a natureza dialógica e a alteridade constitutiva das pesquisas em LA, afirmando-se a aula com um gênero do discurso que faculta a ruptura de práticas tradicionais de ensino.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Investigar as práticas discursivas da sala de aula como um espaço de reconstrução de identidades interacionalmente encenadas; complexificando as cenas da sala de aula sob o viés teórico da concepção dialógica da linguagem e seus efeitos de sentido no trabalho didático de ensinar e aprender na sala de aula, enfocando-se a dimensão discursiva da docência e a interação entre os sujeitos da aula.
MÉTODOS:
A metodologia empregada nesse trabalho é sustentada na abordagem teórico-metodológica de pesquisas qualitativas, na intervenção etnográfica para a interpretação de indícios discursivos da aula como fonte natural das interações verbais que são processadas pelos sujeitos sociais docente/aluno(s), lançando mão de contribuições da análise discursiva para a interpretação dos dados colhidos nos episódios de aulas. Assim, realizaram-se leituras relativas à compreensão da aula como um gênero discursivo e a extração de categorias de análise dos processos de interação que deram o embasamento teórico para o trabalho. Bem como a análise/discussão sobre textos teóricos, seguida de gravação de aulas e, por fim, transcrição linguística de dados da aula, como práticas discursivas com textos e interações entre os seus participantes. Os procedimentos metodológicos adotados consistiram em leitura, observação, gravação em áudio de aulas e sua transcrição, aplicando-se notações de recuperação dos tipos de interação, análise, discussão e resultados. Os sujeitos da pesquisa foram alunos do ensino fundamental e seus respectivos docentes. O intuito dessa análise foi interpretar a presença dos gêneros discursivos presentes na aula e a constatação da própria aula como um gênero polifônico e intertextual.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Através das análises das trocas de turno da interação verbal no gênero discursivo aula, apresentam-se fatores que demonstram que de acordo com Bakhtin (1986; 2003), principalmente, por entender a linguagem (interação verbal) como um fenômeno social, a aula é considerada como social e ideologicamente constituída, isto é, um ambiente no qual há o conflito de vozes e valores mutáveis e concorrentes. Com base nos dados colhidos constatou-se que o discurso pedagógico aproxima-se de um discurso autoritário, pois o docente é tido como “o senhor do saber” e, por isso, “inquestionável”; observou-se que a diversidade cultural presente no ambiente aula não é contida ou privilegiada pela ação pedagógica do docente e tal diversidade é um dos recursos para diversificar os momentos de interação entre os sujeitos e, assim, possibilitar a construção de novos conhecimentos. Pontua-se aqui que o saber produzido dentro do espaço aula é um saber que deve levar em consideração o conhecimento que o aluno traz consigo e que haja uma construção desse saber de forma que ocorra uma troca de conhecimento entre mestre/aluno, ou seja, uma troca que possibilite ao discente (des)construir novos conhecimentos, pois é a sala de aula um gênero do discurso que faculta a ruptura de práticas tradicionais de ensino.
CONCLUSÕES:
Por meio das analises realizadas constatou-se que o professor fala em terceira pessoa do plural, mas a voz do aluno não aparece, não por ser oculta, mas por ser considerada de não valia neste momento. O caráter autoritário do discurso pedagógico está presente na sala de aula e serve como elemento de controle utilizado pelo docente para gerir o andamento de sua aula. Conclui-se, por fim, que a troca discursiva de natureza dialógica possibilita ao aluno uma melhor aprendizagem, pois se pensa que a interação discursiva permite ao estudante ser um questionador dentro do ambiente aula. Daí sua inserção social desenvolvida através do conhecimento legitimado pelos falares e, consequentemente, esses alunos poderão se perceber como sujeitos com papéis ideológicos marcados dentro da sociedade, bem como compreenderem o funcionamento do discurso e os efeitos desse na sociedade e na/para construção de textos.
Palavras-chave: Aula, Dialogia, Discurso.