65ª Reunião Anual da SBPC

G. Ciências Humanas - 7. Educação - 8. Educação Matemática

O antropomorfismo da faculdade humana de contar da etnia Wai Wai.

Gabriele Gomes Amorim - Aluna Bolsista/PIBICT - IFRR/Câmpus Boa Vista Jainny Diôgo Oliveira da Silva - Aluna Bolsista/PIBICT - IFRR/Câmpus Boa Vista Adnelson Jati Batista - Profo. MSc. Orientador-Depto de Pesquisa e Pós-Grad/IFRR Anderson Trevisan - Aluno colaborador - IFRR/Câmpus Novo Paraíso Sheron Motta Batista - Aluna colaboradora - IFRR/Câmpus Novo Paraíso

INTRODUÇÃO:

O trabalho descreve uma investigação que diz respeito ao sistema de numeração da etnia Wai Wai. O objeto de estudo foi escolhido em razão do interesse do grupo nos seguintes pontos: identificar um sistema de numeração local, na ausência de um saber erudito sobre sistema de numeração regional; verificar em que estágio da evolução dos números os Wai Wai se encontram; comparar o sistema de numeração dos Wai Wai com os sistemas estudados nas aulas de matemática do primeiro ano, verificando se é o mesmo que aprendemos na escola. De início, o objeto de pesquisa busca resgatar as idéias matemáticas da etnia, colaborando para um resgate histórico-social regional, compilando em um documento único tais idéias. Para aplicação da pesquisa foi escolhida a aldeia Jatapuzinho, situada no Município de Caroebe, em Roraima, visto que, o primeiro grupo de alunos pesquisadores conhecia a região, facilitando a política de entrada e do estreitamento de parcerias. O trabalho contou com parcerias da Secretaria de Educação de São João do Baliza, Secretaria de Saúde de Caroebe, dos pais dos alunos, que acreditaram e ajudaram no andamento do projeto, da Unidade Descentralizada de Novo Paraíso e atualmente com Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Roraima – Câmpus Boa Vista.

OBJETIVO DO TRABALHO:

Identificar se a etnia Wai Wai possui, ou possuía, um sistema de numeração genuíno.

MÉTODOS:

Utilizou-se para a pesquisa a abordagem qualitativa, devido a despreocupação com tratamento estatístico. A coleta dos dados foi realizada com técnicas da pesquisa etnográfica – história oral e observação participante – com o enfoque do Programa Etnomatemática. Foram utilizados os seguintes instrumentos: diário de campo, entrevistas e coleta de depoimentos. O programa Etnomatemática foi utilizado devido a maneira que ele tem de abordar as várias formas culturais de matemática de povos, ou grupos sociais, bem como, nortear os estudos dos aspectos tecnológicos e culturais presentes na comunidade investigada. A técnica da história oral foi utilizada para rememorar idéias matemáticas dessa etnia.

RESULTADOS E DISCUSSÃO:

Verificamos que: a etnia Wai Wai possui um sistema de contagem genuíno; o sistema vem sendo esquecido; os mais jovens desconheciam a representação oral dos números; O número “três” era conhecido por alguns anciões. A entrevista feita com os anciões apresenta os resultados obtidos sobre essa invenção, que não poderia escapar das idéias dos Wai Wai. Podemos perceber que para o “um” usavam o termo “cewne” que representa um dedo da mão; ao “dois” o termo “asakî” dois dedos da mão; para o “três” “osorwao”, três dedos da mão; para o “quatro” “taknoys”, contração das palavrastak maisnoroî, significa “casal” ou “tu ta com ele”, ou ainda, “dois homens e duas mulheres”; ao “cinco” “cewnekamorî”, derivado de duas palavras cewne, “uma” e kamorî, “mão” logo, “uma mão”; para o “seis” “cewnekamorîcewnexahara”, uma mão e mais um dedo; para o “sete” “cewnekamorîasakîxahara”, uma mão e mais dois dedos, assim sucessivamente. O dez “ahnorokamothîrî” deriva da palavra ahnoro, “tem mais” e kamothîrî contração que significa, “o fim da mão” ou “acabou todos os dedos da mão”. Podemos perceber que, a partir do número seis até o número nove, temos uma base quinaria, apresentado por algumas civilizações.

CONCLUSÕES:

Através dessa pesquisa, concluímos que a etnia Wai Wai utilizava em sua formação numérica o antropomorfismo que é, nesse caso, a capacidade de atribuir aos números partes do corpo humano, prática vista em alguns estudos como o de Boyer “Os dedos de uma mão podem facilmente ser usados para indicar um conjunto de dois, três, quatro ou cinco objetos, não sendo o número um geralmente reconhecido inicialmente como um verdadeiro número. Usando os dedos das duas mãos podem ser representadas coleções contendo até dez elementos; combinando dedos das mãos e dos pés pode-se ir até vinte” (BOYER, 1974, p.2). Os Wai Wai são exemplos de povos locais que tinham um sistema genuíno de contagem. Isso nos orgulha dizer que, a filogênese do número aconteceu aqui, também, em nossa região. O presente estudo abre um leque para outras discussões, a respeito de idéias matemática da etnia Wai Wai, identificadas na pesquisa.

Palavras-chave: Povos Indígenas, Algarismos, Antropologia.