65ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 1. Literatura Brasileira
Bárbara Calabar: A voz feminina de protesto forjada no calor das batalhas.
Mário Jorge Barbosa - Aluno/Curso Técnico de Nível Médio Integrado em Alimentos - IFRN
Evandro Gonçalves Leite - Mestre/Professor do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico - IFRN
INTRODUÇÃO:
O presente trabalho estuda a obra dramática Calabar: o elogio da traição, escrita por Chico Buarque e Ruy Guerra em 1973, mas encenada apenas em 1980. O estudo que faremos dela focará na voz de resistência da personagem Bárbara (mulher de Calabar) que se destaca pela sua irreverência e por não temer o poder que a submete. A obra foi produzida durante o período da ditadura militar, mas retrata a época do Brasil Colônia, em especial as invasões Holandesas. De acordo com Fausto (2001), o governo militar criou atos institucionais, desencadeou perseguições aos adversários do regime, cassou mandatos de alguns políticos, prendeu e torturou os opositores. Nesse contexto, artistas e intelectuais inconformados com problemas sociais assumiram a responsabilidade de produzir uma arte engajada que denunciasse o pessimismo, os problemas e a própria realidade sem si (Cf. NAPOLITANO, 1997, 2010). O próprio livro Calabar é um exemplo disto, já que este utiliza como contexto a época do Brasil colônia para que, dessa forma, as críticas à ditadura militar não ficassem tão explicitas. Mesmo assim, o regime militar desaprovou e proibiu a peça e o próprio título, de modo que ela foi liberada para apresentação somente em 1980.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Pretendemos analisar, na obra Calabar: o elogio da traição, de Chico Buarque e Ruy Guerra, a voz de resistência da personagem Bárbara contra o poder instituído, seja no contexto das invasões holandesas no século XVII, seja no período da ditadura militar no século XX.
MÉTODOS:
Para realizarmos o trabalho, primeiramente procedemos à leitura do livro, dando ênfase na voz da personagem a ser estudada, para, assim, identificar os momentos precisos de protesto e critica. Nesse sentido, concordamos com Grazioli (2007), quando afirma que o texto dramático pode ser apreendido e estudado por meio da leitura. Também se faz de extrema necessidade construir uma base de conhecimento a respeito das duas épocas que o livro critica: tanto a do Brasil colônia, que é o período em que o enredo se passa; como o da ditadura militar, que é o período a ser criticado com a produção do livro. A partir disso, procuramos entender como de fato a personagem usa suas palavras como ferramenta de denuncia e evidenciar o que ela estava a criticar.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Na obra, as falas da personagem Bárbara se mostram como instrumento de protesto para denunciar e protestar contra o regime vivenciado, o abuso de poder e a censura tanto do período da ditadura quanto do Brasil colônia. Ela representa os rebeldes, os submissos, os revoltados e os guerrilheiros que tentaram de algum modo reverter a situação de desconforto e opressão a que estavam submetidos. Toda sua rebeldia nasce após a execução de Calabar, seu marido. A personagem deixa bem claro em uma de suas falas que todos que se mostrassem traidores a pátria, ou seja, não concordassem com as regras e normas impostas pelos comandantes, seriam punidos e provavelmente executados: “Há sempre um lugar na forca pra quem não pensa do mesmo jeito” (Buarque; Guerra, 1983, p.48). Em ambos os períodos, quem era inimigo do governo e fosse uma ameaça, devia ser punido perante a lei, porém essa lei era injusta, pois, segundo a personagem, seu marido foi executado sem ter nenhum direito: “[...] Não foi julgado nem nada, não pôde reagir, não teve defesa, nem foi condenado. Foi executado e ponto final” (Buarque; Guerra, 1983, p.48). Com isso, podemos perceber que o governo estava no controle e acima das leis, e mostra a forma como Bárbara é uma denunciante das atrocidades e injustiças cometidas.
CONCLUSÕES:
Podemos concluir que a arte, aliada a sua função estética, pode agregar uma função social e mostrar-se útil à sociedade, combatendo injustiças, revelando ideologias, ouvindo os submissos e falando pelos fracos e mudos. Seria uma arte engajada, comprometida em, se não mudar uma realidade, ao menos denunciá-la. Podemos afirmar que Bárbara se mostra como a personagem que atua como porta-voz da sociedade, pois representa todos aqueles que não permaneceram calados diante das exigências do regime ditatorial e das ordens dos poderosos do Brasil colônia. Assim, por mais que sua dor fosse de certo modo individual (a morte de seu esposo), ela não ficou resguardada ao luto e desafiou as autoridades a ponto de deixar claro o quanto injustas e traidoras elas foram. Suas palavras serviram de ferramenta de protesto contra o governo em dois períodos históricos diferentes, porém marcados pela submissão da população, pela centralização do poder nas mãos de poucos, pelas injustiças e pela censura. Portanto, podemos dizer que a obra Calabar: o elogio da traição, e em especial a voz de Bárbara, atua como manifestação artística e “retrato” da realidade, atuando como instrumento de denúncia.
Palavras-chave: Texto teatral, Engajamento social, Calabar: o elogio da traição.