65ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 1. Ecologia Aplicada
SIMULAÇÃO DO CICLO DE VIDA DO MOSQUITO Aedes aegypti (DIPTERA: CULICIDAE) SOB CONDIÇÕES CONTROLADAS DE TEMPERATURA
Valéria Ferreira Cardoso - Especialização em Engenharia Ambiental – UNICEUMA
Richardson Gomes Lima da Silva - Prof. Ms./ Orientador - Curso de Ciências Biológicas – UFMA
INTRODUÇÃO:
O Aedes aegypti possui ampla distribuição geográfica, predominando nas áreas tropicais e subtropicais. O mosquito apresenta grande capacidade de adaptação a criadouros artificiais o que possibilita o aumento de sua população e o aparecimento de epidemias de dengue (BESERRA et al, 2006).
Se tratando da transmissão de doenças por mosquitos, Retier considera que desenvolvimento, comportamento e ciclo de vida dos mosquitos e a dinâmica da transmissão das doenças associadas a eles são fortemente influenciados por fatores climáticos. Entre esses fatores, destaca-se a temperatura (RETIER, 2004).
A dengue, hoje, constitui-se em sério problema de saúde pública, especialmente nos países tropicais, onde as condições ambientais favorecem o desenvolvimento e a proliferação do Aedes aegypti vetor da doença. Seu ciclo de vida é bastante dependente de fatores como temperatura e a umidade que no Brasil se apresentam favoráveis a vetores como ele (MENDONÇA, 2009).
Considerando o cenário de aquecimento global, provocado por mudanças climáticas, uma consequência é a expansão da zona tropical que, aumentaria a extensão de um ambiente favorável ao desenvolvimento de inúmeras doenças, entre elas a dengue (MENDONÇA, 2009) que poderia elevar a morbidade e mortalidade no planeta (BARCELLOS et al, 2009).
OBJETIVO DO TRABALHO:
Este trabalho teve como objetivo verificar a temperatura ótima para eclosão dos ovos de Aedes aegypti, analisar como aumento graduais de temperatura influenciam no ciclo do mosquito, baseados nas previsões de aumento de temperatura para os trópicos e possibilitar o desenvolvimento de estratégias de controle adequadas para erradicação do mosquito em ambientes urbanos.
MÉTODOS:
Os ovos de Aedes aegypti foram obtidos utilizando ovitrampas com palhetas para recolhimento dos ovos depositados pelas fêmeas do mosquito. No procedimento, foram submetidos à umidade de 75%, mantida constante, e divididos em grupos experimentais em Becker de 250 mL nas temperaturas de 26°C (controle), 27°C, 28°C, 30°C e 32°C dentro de uma estufa para observação do desenvolvimento do ovo até o final da fase larval.
As larvas resultantes da eclosão dos ovos foram separadas em outro Becker de 250 mL na mesma estufa e submetidas às mesmas condições dos ovos para continuação do ciclo e alimentadas com ração para peixes ornamentais.
De posse dos dados sobre o número de ovos eclodidos em cada tratamento térmico, mortalidade larval e duração da fase de larva que foram registrados em uma planilha do Excel realizou-se teste ANOVA utilizando o programa Biostat 2009. O tempo de eclosão dos ovos do mosquito e as temperaturas experimentais foram as variáveis abordadas no teste.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Com base nos resultados obtidos por meio do teste ANOVA que verificou o efeito da temperatura na eclosão dos ovos, não houve uma diferença significativa no tempo para eclosão dos ovos do Aedes aegypti (p= 0, 996). Outros organismos apresentam uma aceleração mais evidente do seu ciclo vital em altas temperaturas como o Rhodinius robustus, Chironomus sancticaroli e Phytoseiulus macropilis (ROCHA et al, 2001).
Considerando que, por causa do aquecimento global, as regiões tropicais poderão ser expandidas, haverá também uma expansão na região com intervalo de temperatura favorável ao desenvolvimento do mosquito (MENDONÇA, 2009) e, consequentemente, aumentará a área de ocorrência da doença.
O encurtamento da fase larval do Aedes no tratamento térmico de 28°C é compatível com estudo realizado pelo SESC-PR (2011) que demonstra que o intervalo de temperatura entre 25°C e 30°C favorece a aceleração do ciclo do mosquito. Esse fato pode provocar um aumento no número de gerações anuais e de indivíduos o que aumenta a possibilidade de transmissão da doença.
A mortalidade de larvas do mosquito não se mostrou relevante, pois não apresentou uma variação significativa nos diferentes tratamentos térmicos.
CONCLUSÕES:
Uma aceleração sutil no desenvolvimento do mosquito Aedes aegypti pode aumentar o número de gerações anuais do vetor da dengue e, consequentemente, o número de indivíduos que podem ser ou estar infectados com vírus e ser tornarem transmissores da arbovirose. A temperatura ótima sugerida é de 28°C para o desenvolvimento larval.
O comportamento observado no vetor da dengue pode se apresentar em outros organismos e vetores que podem provocar epidemias ou desequilibrar ecossistemas mais sensíveis.
Com o aumento da temperatura global existe a possibilidade de aumento na área de distribuição do mosquito e aumento na ocorrência da doença pelo mundo. A principal medida a ser tomada nesse caso é a eliminação de criadouros artificiais, principalmente na época de estiagem, quando a população armazena água em recipientes para enfrentar a estação mais quente e seca.
Palavras-chave: Aquecimento global, Ecologia, Parasitologia.