65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 7. Educação Infantil
Continuidades e descontinuidades nas relações entre família e escola no momento de transição da Educação Infantil para o Ensino Fundamental de nove anos.
Keila Hellen Barbato Marcondes - Depto de Psicologia da Educação – UNESP, Araraquara/SP
Silvia Regina Ricco Lucato Sigolo - Profa Dra / Orientadora - Depto de Psicologia da Educação – UNESP, Araraquara/SP
INTRODUÇÃO:
A transição da educação infantil para o ensino fundamental pode ser considerada como um ponto crucial na trajetória de escolarização das crianças, uma vez que nesse momento podem ocorrer continuidades e/ou descontinuidades, especialmente quando há uma alteração de políticas educacionais, como a implementação do ensino fundamental de nove anos. A proposta para a ampliação do Ensino Fundamental para nove anos é regulamentada pela Lei nº 11.274 de 06 de fevereiro de 2006, a qual altera a redação dos artigos 32 e 87 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação nº 9394/96 e determina a obrigatoriedade do ensino fundamental de nove anos, estipulando a matrícula das crianças com seis anos de idade no primeiro ano do Ensino Fundamental, estipulando que até o ano de 2010 todas as escolas deveriam se adaptar a essa mudança.
Com essa ampliação diversas modificações e adaptações passam a ocorrer, sendo que as interações entre família e escola é uma destas. Diante deste cenário, questiona-se como a política de ampliação do ensino fundamental para nove anos de duração, pode ter afetado as relações desenvolvidas entre ambiente escolar e familiar. O questionamento demonstra a relevância do estudo.
OBJETIVO DO TRABALHO:
O estudo objetiva compreender as continuidades e descontinuidades existentes na relação entre família e escola no momento de transição das crianças das instituições de educação infantil para as escolas de ensino fundamental de nove anos de duração.
MÉTODOS:
Participaram da pesquisa treze famílias de crianças que no ano de 2009 freqüentavam a educação infantil e em 2010 estavam nos anos iniciais do ensino fundamental e dez docentes, sendo quatro professoras de duas escolas da educação infantil de um município do interior paulista e seis professoras de duas escolas de ensino fundamental do mesmo município. A pesquisa realizada, portanto, enquadra-se em um estudo de caráter longitudinal.
Para a coleta de dados foram utilizadas entrevistas semi-estruturadas realizadas com os responsáveis nos próprios domicílios e com as docentes no ambiente escolar.
As entrevistas foram gravadas em áudio digital e posteriormente transcritas. Em posse das transcrições, foram realizadas diversas leituras com o intuito de haver uma impregnação dos dados pela pesquisadora. Em seguida, foram elencadas as categorias que emergiram dos dados coletados (BIASOLI-ALVES,1998; BOGDAN E BIKLEN, 1991).
As categorias elencadas foram: 1- Comunicação entre família e escola na educação infantil e ensino fundamental e 2- Envolvimento entre família e escola na educação infantil e ensino fundamental. Tais categorias foram desenvolvidas tendo base os estudos de Bhering e Siraj-Blachtford, (1999), Bhering e De Nez, (2002) e Bhering (2003).
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
A comunicação entre família e escola na educação infantil e ensino fundamental indicou no geral continuidades no que concernem às formas como se davam as trocas de informações entre estas instituições, contudo, a intensidade dos contatos, a proximidade e a facilidade para que estes acontecessem eram diferentes. As responsáveis afirmavam que o acesso às docentes da educação infantil era mais fácil e estas ultimas se mostraram disponíveis para o diálogo, diferentemente do ensino fundamental.
Os assuntos comumente abordados em reuniões, em ambos os níveis de ensino, eram relativos ao comportamento das crianças, rendimento acadêmico. Já as dinâmicas das reuniões apresentavam descontinuidades, pois, na educação infantil havia um equilíbrio entre a participação docente e a dos responsáveis, enquanto que no ensino fundamental esta interlocução não ocorria.
Docentes da educação infantil e responsáveis relataram que havia envolvimento efetivo das famílias nas festividades escolares, enquanto que no outro nível de ensino este era menos frequente. Os familiares engendravam esforços para acompanhar as tarefas de casa junto às crianças quando passaram a frequentar o ensino fundamental, pois estas se constituíam como parte integrante da rotina das crianças apenas nesta etapa da escolarização.
CONCLUSÕES:
O que se pode concluir frente aos relatos dos sujeitos participantes do estudo é que na instituição de educação infantil há uma maior relação entre escola e família, comparado ao que ocorre nas escolas de ensino fundamental. O que permite concluir que há uma descontinuidade dessas relações.
Obviamente, a pesquisa não abarca, toda a complexidade existente nessa trajetória das famílias e escola no transcorrer desses anos, mas traz importantes contribuições para serem objeto de reflexão pelos professores, gestores, familiares e outros pesquisadores interessados na temática.
Assim, há que se refletir sobre as possíveis estratégias a serem adotadas, buscando estabelecer uma continuidade entre as formas da família e escola se relacionar, estabelecendo assim uma interconexão que seja benéfica para o desenvolvimento das crianças.
Palavras-chave: Relação família-escola, Educação Infantil, Ensino Fundamental de nove anos.