65ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 13. Serviço Social - 6. Serviço Social do Trabalho
O TRABALHO FEMININO NAS FACÇÕES DO CEARÁ E AS MARCAS DA PRECARIEDADE E DA DIVISÃO SEXUAL DO TRABALHO
Brenna Moreira Feitosa - Centro de Estudos Sociais Aplicados (CESA) / UECE
Leandro Fernandes Valente - Centro de Estudos Sociais Aplicados (CESA) / UECE
Maria Helena de Paula Frota - Profa. Dra./Orientadora - Centro de Estudos Sociais Aplicados (CESA) / UECE
INTRODUÇÃO:
Desde a antiguidade a mulher é tida como submissa ao homem e que o masculino é sinônimo de dominação, força, autoridade central e poder, enquanto o feminino é identificado simbolicamente como fraqueza, subserviência. Delimitada e limitada socialmente por seus caracteres biológicos, a mulher teve a construção de sua identidade submetida ao seu papel de mãe, esposa e dona de casa. No entanto as relações de gênero, como qualquer outra relação social, são relações de poderes; sendo a figura feminina mais do que uma mera sombra da autoridade e poder masculino, como mostraram as mulheres através de suas conquistas ao longo da história, sendo o trabalho assalariado sem dúvidas essencial para seu ingresso em um mundo que até então era designado masculino. A mulher, então, com sua crescente participação no mercado de trabalho, passou a se constituir enquanto força de trabalho, sujeito ativo dentro de um processo de produção cada vez mais exigente e em constante aprimoramento tecnológico. A inserção nesse espaço foi definidor para o surgimento de especificidades no campo das forças sociais no campo do trabalho e de gênero passando a mulher ser objeto de análise na academia como fonte de pesquisa.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Nesse sentido, esse estudo foi proposto tendo como objetivo analisar as relações e condições do trabalho feminino em uma atividade socialmente considerada própria para mulheres: a costura.
MÉTODOS:
Tal análise foi realizada através da pesquisa "De volta para casa. A saga das costureiras: estudo realizado sobre as relações de produção nas indústrias de confecções e nas facções no Ceará", vindo a explicitar a complexidade da divisão social e sexual do trabalho em uma época cuja reestruturação produtiva veio a causar o aprofundamento da precariedade das relações de trabalho, resultando em sua crescente informalidade, desaguando na responsabilização dos sujeitos sociais em se relacionarem e sobreviverem através de trabalhos informais e, portanto, sem direitos trabalhistas garantidos. A referida pesquisa teve como procedimentos metodológicos a pesquisa bibliográfica e documental, aplicação de 44 questionários com mulheres no posto de trabalho denominado de costureira-faccionista, dos quais a partir da análise de dados foi construído um perfil das mesmas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Os resultados encontrados foram, com relação a idade 40% das entrevistadas declarou encontra-se na faixa etária 31 e 40 anos; 77,8% afirmou ser mãe; 46,7% se declarou a situação civil de solteira. 33% contava com a ajuda do marido e dos filhos nas tarefas domésticas. 40% recebia apoio do marido no exercício da atividade laboral; 40% se sentia realizada como mulher na atividade de trabalho; 90% não possuía vinculo empregatício; 55,6% trabalhava seis dias na semana e 51,1% realizava também as atividades domésticas como responsáveis por este, constituindo aí uma dupla jornada de trabalho.
CONCLUSÕES:
O resultado da pesquisa citada é um recorte da realidade que expõe aspectos diversos do trabalho realizado por essas mulheres e mostra que ainda há uma visão estereotipada do que se compreende como trabalho de mulher e quão pouco esse vale se comparado à força de trabalho masculina. A precariedade das condições que cercam as atividades dessas mulheres está pautada nas atividades domésticas que são, não remuneradas, portanto sem valor de troca. Essa relação influencia o mercado definidor dos valores salariais bem como a vida pessoal construindo identidades, subjetividades e papeis sociais marcados pelas relações desiguais de gênero.
Palavras-chave: Facções, Divisão Sexual do Trabalho, Mulher.