65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 7. Psicologia do Ensino e da Aprendizagem
RESILIÊNCIA: CARACTERÍSTICAS APRESENTADAS NA PRÁTICA DE SALA DE AULA DE UMA PROFESSORA DO ENSINO FUNDAMENTAL I
Jessica Barbosa da Silva - Licencianda em Matemática – Centro Acadêmico do Agreste (CAA)/UFPE
Danilo Pontual de Melo - Licenciando em Matemática – Centro Acadêmico do Agreste (CAA)/UFPE
Mariana Karoline Salgado da Silva - Licencianda em Matemática – Centro Acadêmico do Agreste (CAA)/UFPE
Tatiane Maria da Silva - Licencianda em Matemática – Centro Acadêmico do Agreste (CAA)/UFPE
Ana Lúcia Galvão Leal Chaves - Profª Drª / Orientadora e Co-autora – Núcleo de Formação Docente (NFD)/CAA/UFPE
INTRODUÇÃO:
O presente resumo é fruto da análise de um recorte da pesquisa de doutorado desenvolvida por nossa orientadora sobre a presença da resiliência em professoras do ensino fundamental I (LEAL, 2011). Esta produção ancora nas discussões travadas em nosso Grupo de Pesquisa intitulado: “Educação e Espiritualidade” e em nosso Grupo de Estudo sobre Víktor frankl, considerado o “Pai dos estudos sobre Resiliência”. A resiliência representa a capacidade das pessoas manterem-se íntegras, apesar das adversidades do caminho (ANTUNES, 2007; COSTA, 1995; CYRULNIK, 2004; POLETTI, DOBBS, 2007; TISSERON, 2007). Sabe-se que os professores são comumente expostos a obstáculos e situações críticas no meio externo e no seu trabalho fazendo com que fiquem estagnados a situações que exigem determinação de sua parte. Diante disso, a resiliência se torna fundamental para a tomada de decisões que propiciem as forças necessárias para enfrentar essas muitas outras adversidades. Docentes que usam a resiliência como uma estratégia de superação, estão aptos a conseguir uma melhor qualidade no trabalho, podendo desenvolver soluções para transformar a tensão do ambiente em vontade de vencer.
OBJETIVO DO TRABALHO:
O objetivo deste trabalho é observar as características de resiliência apresentadas por uma professora do ensino fundamental I, de um município no litoral norte do Estado de Pernambuco, sobretudo em relação à postura utilizada quando deparada com situações inesperadas em seu cotidiano em sala de aula
MÉTODOS:
Inicialmente foi aplicado um questionário fechado em 17 professores, a fim de selecionar os que permaneceriam até o término da coleta. Após ser selecionada da amostra geral, como tendo atingido um escore que a caracterizava como pouco resiliente, Patrícia foi entrevistada e suas aulas observadas e filmadas. A filmagem dessas aulas serviu para verificar se as afirmações dadas durante a entrevista estavam realmente sendo colocadas em prática na vivência escolar. Na fase final do estudo, quando já havia maior intimidade entre a pesquisadora e Patrícia, esta foi convidada a relatar sobre os fatos mais significativos de sua vida (entrevista autobiográfica), ou seja, a sua relação com a família, o que a levou a escolher a profissão de professora, e também a comentar sobre algumas situações que ocorriam em sua sala de aula. Posteriormente foi aplicada uma entrevista de auto-confrontação, quando lhe foi mostrado recortes das filmagens realizadas, previamente selecionados, para que pudesse avaliar a sua postura e compará-la com o que dizia fazer, refletindo sobre seus erros e acertos e, desse modo, demonstrando seu potencial resiliente. Em última análise, o que se buscou era checar a coerência entre o verbalizado ao longo das entrevistas e o revelado no dia-a-dia da sala de aula.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Os Padrões Disposicionais de Resiliência (POLK,1997) analisados, exploraram: autodisciplina, autossuficiência, autoestima, senso de humor e autocontrole. Patrícia, que se definiu como perfeccionista e organizada, apresentou dificuldades em justificar a balbúrdia de algumas de suas aulas, justificando as situações de modo pouco convincente. Para Tavares (2001), o desenvolvimento de capacidades de resiliência passa pela mobilização e ativação da autoestima. Destacamos posturas conflituosas, quando pareceu insistir em diminuir o seu valor, “acreditando” ser acomodada e considerando suas conquistas como obra do acaso, mas também referindo suas vitórias com orgulho e satisfação. Espera-se que resilientes construam momentos autênticos de alegria frente às adversidades (ANTUNES, 2007), mas, apesar de comumente dar risadas, isto parecia estar a serviço de uma necessidade de agradar o outro, ou de aparentar que nada a incomodava. Patrícia usava algumas estratégias para evitar perder o controle, do tipo: contar de um até três, servindo para que evitasse perder a paciência. Ressaltamos a importância da paciência em quaisquer circunstâncias, e em se tratando de questões educativas, sua existência passa a ser vital, encarada, para Bollnow (1979), como uma virtude do educador.
CONCLUSÕES:
Podemos considerar que Patrícia evidenciou resistência através do desconforto e rigidez diante das situações aversivas, apresentando mais comumente irritação, impaciência e ironia. Sua aparente prontidão e organização parecia estar a serviço de esconder uma postura perfeccionista e ansiosa. Em algumas situações “traía” seu rigor, como na situação em que exigia limpeza e organização dos alunos, enquanto a própria sujava o ambiente ao deixar cair as pontas e raspas dos lápis no chão. Chamou-nos atenção o modo contraditório com que às vezes expressava sua autodisciplina, pois ora demonstrava possuí-la, ora parecia desorganizada e pouco determinada. Seu excesso de justificativas nos fez pensar que ela vivia um conflito entre o perfeccionismo e a oposição a atitudes de aparente menosprezo por si mesma, referindo não ser “como as pessoas costumavam pensar que ela fosse”. Sendo assim, raras vezes parecia satisfeita com seu desempenho profissional, apesar de se mostrar vaidosa. Podemos concluir que Patrícia parecia dotada de poucas características resilientes, demonstrando dificuldades de estabelecer vínculos emocionais com seus alunos. Destacamos, por fim, que ela não vivenciou momentos dramáticos em sua história pessoal, tendo recebido um importante suporte familiar.
Palavras-chave: Resiliência, Educação, Formação Humana.