65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 5. História - 1. História da Cultura
AS ENCHENTES E A CONSTRUÇÃO DO MEDO NO PROCESSO DE VERTICALIZAÇÃO DA PAISAGEM NO RECIFE (1970-1975)
Paulo Vinícius da Silva - Depto. de História - UFPE
Allan Rodrigo Arantes Monteiro - Coordenação-geral de Estudos da História Brasileira
INTRODUÇÃO:
Podemos entender a verticalização de uma paisagem como o aparecimento cada vez mais constante de edifícios, por vezes substituindo as residências individuais. Mais que uma mudança física da paisagem esse processo é carregado de representações e significados. Muitas vezes, a paisagem vertical é ligada a uma ideia de progresso e modernidade, evidenciando que há inúmeros aspectos simbólicos ligados a essa transformação.
A década de 1970 marca a intensificação da verticalização em Recife. Vários fatores contribuíram para isso. Um deles foi às catástrofes naturais ocorridas no Recife de 1960 a 1975. As enchentes contribuíram para a formação de uma cultura de medo na população. Os edifícios podem se considerados como uma saída, uma opção segura contra essas catástrofes.
Com este trabalho, pretendemos mostrar como as cheias influíram na construção da cultura do morar vertical e analisar as consequências desse processo. A pesquisa se mostra muito relevante à medida que nos ajuda a entender e interpretar o edifício como um discurso, um modo de vida, e não apenas como uma estrutura física.
OBJETIVO DO TRABALHO:
A pesquisa visa compreender, sob uma perspectiva histórica, a influência das cheias no processo de verticalização da cidade do Recife na década de 1970, discriminando as tendências de época e seus aspectos gerais. Compreendendo as transformações históricas nas concepções sobre a verticalização da paisagem em Recife bem como sobre os efeitos dessa verticalização na dinâmica urbana.
MÉTODOS:
A análise sobre a verticalização da cidade na década de 1970 foi feita a partir de pesquisa nos documentos que compõem o acervo do Centro de Documentação da História Rodrigo de Melo Franco (Cehibra/Fundaj). Além da pesquisa no setor de iconografia do Cehibra, foi utilizado o acervo de livros e periódicos da biblioteca Blanche Knopf (Fundaj). Esta pesquisa toma como principal fonte de informação os anúncios, matérias, reportagens e textos diversos publicados nos jornais locais ao longo das décadas abrangidas no estudo.
O jornal “Diário de Pernambuco” foi escolhido como referência principal por ser considerado um dos jornais de maior circulação da época. A consulta a outros jornais foi feita apenas em casos específicos, de modo a ampliar a análise a sobre a cobertura de determinado acontecimento nos jornais da época. Isso ocorreu, por exemplo, no caso da enchente de 1975.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Pode-se dizer que a década de 1970 consolida a verticalização como solução para de moradia entre os setores mais favorecidos da sociedade e intensifica a construção de prédios na cidade do Recife. Nesse período o mercado imobiliário centra seu foco de propaganda para a venda de apartamentos. A verticalização, nesse período de 1970, transparece nos jornais nos anúncios e propagandas do mercado imobiliário, voltados à venda de apartamentos em edifícios.
Um dos principais fatores relacionados ao fenômeno da verticalização refere-se ao medo das cheias no Recife. Nos anos de 1970, 71 e 75 foram noticiadas mortes e incalculáveis perdas materiais em virtude de cheias ocorridas nesses anos. Para tentar resolver o problema, o governo começou a investir na construção de barragens ao longo da bacia do rio Capibaribe. Apesar da existência dessas barragens, aA frequência e intensidade das cheias ocorridas ao longo da década de 1960 e até 1975 contribuíram para criar uma imagem do Recife como sendo uma cidade insegura. Loureiro e Amorim apontam a importância desse período de grandes enchentes como fator que teria favorecido o processo de verticalização nas cidades, tornando o apartamento em edifícios uma solução segura de moradia, frente às ameaças constantes das águas.
CONCLUSÕES:
As matérias e reportagens analisadas permitiram confirmar a hipótese dos autores trabalhados, ou seja, de que as enchentes contribuíram para criar na população uma mentalidade de medo e insegurança. Mais do que isso, as enchentes foram responsáveis pela desvalorização imobiliária de diversas áreas da cidade, ao mesmo tempo em que outras, aquelas livres do perigo das enchentes, passaram a ser supervalorizadas. Certas áreas do bairro de Casa Forte sofreram uma desvalorização por terem sido fortemente atingidas. Já Boa viagem que inicialmente, teve sua ocupação motivada pela boa opção que a praia oferecia em termos de veraneio. Sofreu uma demanda de moradores cada vez maior por conta do medo das cheias.
Palavras-chave: Cheias, Edifícios, Jornais.