65ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 14. Zoologia - 6. Zoologia
Conhecimento herpetológico de moradores da comunidade do entorno da Fazenda Fieza em Santa Cruz do Capibaribe- PE
Daniele Batista dos Santos - Depto. de Biologia - UFRPE
Ednilza Maranhão dos Santos - Profa. Dra. / Orientadora – Depto. De Ciências Biológicas – UFRPE
INTRODUÇÃO:
A etnoherpetologia é um estudo mais específico da etnociências que pode ser interpretada como a ciência que investiga os conhecimentos ou saberes da herpetologia (estudo dos anfíbios e répteis) de uma determinada sociedade. Essa ciência tem grande valia, onde a mesma vem a contribuir significativamente nos trabalhos de inventários, conservação e até mesmo no manejo de um determinado grupo taxonômico, e posteriormente pode agregar, contribuir no planejamento e ações de pesquisadores, gestores e comunidades do entorno de áreas naturais ou unidades de conservação, como é o caso das áreas de Caatinga encontrada na Fazenda Fieza. O papel dos répteis e anfíbios na natureza podem se enquadrar no grupo de animais bioindicadores e tem extrema importância na cadeia ecológica como controladores de invertebrados e de outros vertebrados, enfatizando a importância nos estudos de impactos e bioprospecção , podendo assim nortear medidas conservacionistas mais eficazes. O presente trabalho vem colaborar com informações relevantes no que diz respeito ao manejo e conservação, com ênfase na educação ambiental, e tem como parceiro de troca de saberes com a comunidade que reside no entorno da Fazenda Fieza em Santa Cruz do Capibaribe/PE.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Registrar aspectos etnoherpetológicos relacionado a percepção, conhecimento e usos da fauna de anfíbios e répteis no entorno da Fazenda Fieza em Santa Cruz do Capibaribe-PE
MÉTODOS:
A Fazenda Fieza é uma propriedade rural localizada a cerca de 10 km do centro de Santa Cruz do Capibaribe, município pertencente a bacia do Alto Capibaribe, a cerca 190 km da capital de Pernambuco. Seu acesso é feito pela PE 160. A fazenda é administrada por uma família desde 1981 e atualmente é referência na conservação da Caatinga, com atividades de Educação Ambiental.
As atividades foram realizadas entre agosto/2012 e fevereiro/2013, através de pesquisas bibliográficas, entrevistas abertas e observação direta. Comunidades foram inicialmente selecionadas tendo como requisito a proximidade a área de estudo. Todas coletas de dados com informantes tiveram como pré-requisito a autorização do mesmo para posterior divulgação dos dados. Para as entrevistas utilizou-se como auxílio um mini-gravador digital Panasonic. As conversas e questionários tiveram como critério obter informações sobre a percepção, conhecimento e uso (produto zooterápicos, crenças, caça, alimentação). Posteriormente essas informações foram analisadas, comparadas com a literatura para o nordeste e armazenadas em banco de dados na coleção Herpetológica e Paleontológica da UFRPE.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Foram entrevistados 20 informantes (14 homens e 6 mulheres) moradores do entorno da Fazenda, escolheu-se os detentores de conhecimento dos animais da caatinga, esses tinham idade entre 17 e 88 anos. Um total de 10 táxons foi citado, entre esses nove répteis e um anfíbio. Observou-se que a maioria (90%) dos informantes citavam os animais com sentimento de desprezo e medo, principalmente as serpentes peçonhentas (Bothropoides erythromelas Amaral, 1923 e Caudisona durissa Linnaeus, 1758) e o sapo cururu (Rhinella jimi), fato já documentado em outros trabalhos para a região Nordeste (Alves et al., 2007).
Os informantes eram detentores de vários conhecimentos empíricos, como histórias contadas, fatos e “causos”. Essas informações relatadas foram mais evidentes para as serpentes (66,6%) o que é comum também em outros trabalhos (Alves, 2010). No entanto os moradores ressaltaram conviver “sem problemas” com a fauna local e com algumas serpentes, como exemplo da mussurana (Boiruna sertaneja) Zaher, 1996, mas a jararaca (Bothropoides erythromelas) Amaral, 1923 e a cascavel (Caudisona durissa) Linnaeus, 1758) são sempre.
Foi registrado um total de 4 usos, entre esses o uso zooterápico e alimentar foram os destaques (85%). O lagarto teiú foi o mais utilizado comunidade, principalmente como alimento.
CONCLUSÕES:
Os dados quanto à percepção, conhecimento e uso, apresentados aqui, são similares aos de outras pesquisas realizadas na região do Nordeste para a herpetofauna registrada. Apesar do medo e cautela com alguns táxons, foi observado nas falas a citação da sua importância. Conclui-se que o conhecimento popular é muito importante para o diagnóstico da herpetofauna local e podem contribuir com as ações de conservação e educação ambiental apoiados pela Fazenda Fieza.
Palavras-chave: Caatinga, Conservação, Etnoherpetologia.