65ª Reunião Anual da SBPC
A. Ciências Exatas e da Terra - 4. Química - 2. Química Ambiental
SABER DAS ÁGUAS: EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO ENSINO DE QUÍMICA
JANE GERALDA FERREIRA SANTANA - INSTITUTO FEDERAL BAIANO
DANIEL RODRIGUES MAGALHÀES - INSTITUTO FEDERAL BAIANO
INTRODUÇÃO:
Há muito tempo vem se questionando o ensino de Química no Brasil, marcado por uma visão tecnicista e reducionista que transforma o aprendizado da disciplina em uma tarefa árdua, muitas vezes limitada à memorização de nomes e fórmulas sem qualquer relação com o cotidiano do aluno. Propostas de mudanças existem também há bastante tempo, como os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) que propõem uma abordagem interdisciplinar inserida na realidade dos estudantes. Uma possibilidade que garante a contextualização com os problemas da sociedade moderna é a abordagem ambiental no ensino de Química. A Educação Ambiental (EA), conforme aponta Loureiro (2004), é uma prática educativa e social que tem por finalidade a construção de valores, conceitos, habilidades e atitudes que permitam uma atuação responsável dos atores sociais no meio ambiente. Nessa perspectiva desenvolveu-se uma proposta de ensino aprendizagem buscando situar o ensino de Química nas questões ambientais, em particular a temática água, cuja escassez vem se tornando um problema grave em diversas regiões do Brasil, em especial o Nordeste e bastante acentuado na cidade de Guanambi, localizada no extremo sul do estado da Bahia.
OBJETIVO DO TRABALHO:
O objetivo dessa proposta de abordagem foi trazer para as aulas de Química a situação de escassez de água enfrentada pela população de Guanambi que se reflete diretamente no cotidiano do estudante, propiciando uma reflexão do papel de cada cidadão na proposição de alternativas para o problema.
MÉTODOS:
A abordagem foi desenvolvida no Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia Baiano (IF Baiano) Campus Guanambi. Três turmas do segundo ano do ensino médio, tendo em média 30 alunos cada uma participaram da proposta de ensino aprendizagem. Nas duas primeiras aulas caracterizou-se a disponibilidade hídrica da região através de um vídeo e mapas interativos possibilitando a visualização dos reservatórios que abastecem a região. Em outra oportunidade realizou-se uma atividade prática de medida de sólidos dissolvidos na água visando caracterizar a água de abastecimento do instituto. Tal atividade prática foi desenvolvida no conteúdo Soluções, componente curricular do segundo ano do ensino médio. No decorrer de outras quatro aulas apresentou-se aos alunos a legislação ambiental sobre água potável. Após a abordagem solicitou-se dos discentes a confecção de uma cartilha enfatizando ações que cada cidadão poderia desenvolver no sentido de preservar a qualidade e quantidade de água no mundo. As cartilhas foram disponibilizadas nos murais do campus bem como nas redes sociais das quais os alunos são inscritos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Não é necessário abrir mão dos conteúdos da disciplina para que a Química se torne mais interessante. Mudar de estratégia sim. Freire (1980) assegura que só é possível mudar a realidade a partir do momento que se passa a conhecê-la. É dever da escola e das diversas disciplinas propiciar reflexões acerca dos problemas socioambientais buscando inseri-los no contexto do aluno. Foi o que se buscou através desta proposta de ensino aprendizagem. O vídeo possibilitou a caracterização da disponibilidade hídrica da região, fato conhecido pelos alunos mais pelo esvaziamento de seus reservatórios particulares ou compartilhamento da parca água com seus vizinhos, ou ainda a insatisfação de um dia, ou vários, sem banho. O desenrolar do conteúdo da disciplina não foi prejudicado, uma vez que a atividade prática proporcionou o conhecimento das soluções, seus componentes, métodos de separação e ainda contextualização com os cálculos matemáticos e o aprendizado de operações básicas de laboratório como pesagem, filtração e evaporação. A produção e socialização das cartilhas possibilitou o intercâmbio de informações para além das quatro paredes das salas de aulas permitindo reconhecer aspectos químicos relevantes na interação individual e coletiva do ser humano com o ambiente (PCNs, 2000).
CONCLUSÕES:
O Nordeste brasileiro e em particular, o município de Guanambi são afetados pela escassez de água doce. Atentando que cada indivíduo tem sua parcela de responsabilidade com a manutenção da qualidade e quantidade de água para as futuras gerações esta abordagem se propôs a estimular uma reflexão sobre a escassez de água no IF Baiano – Campus Guanambi propiciando uma contextualização com o conteúdo de soluções abordado no segundo ano do ensino médio da disciplina Química. Com isso modificou-se a opinião dos alunos em relação às atividades da disciplina, consideradas muitas vezes desinteressantes, sem aplicação prática e carregadas de conteúdos prioritariamente teóricos. Soma-se a isso a abordagem ambiental, dever de todas as disciplinas, que possibilitou um despertar para a questão da água no município de Guanambi e uma maior compreensão da temática soluções através da metodologia diferenciada.
Palavras-chave: Escassez de água, Contextualização, Soluções.