65ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Linguística - 6. Liguística
MEMÓRIA, DISCURSO RELIGIOSO E DISCURSO POLÍTICO
Alexandre Ribeiro Lessa - Depto. de Estudos Linguísticos e Literários – LAPADis/UESB
Jakeline Jesus Abade - Depto. de Estudos Linguísticos e Literários – LAPADis/UESB
Mayara Archieris Amorim - Depto. de Estudos Linguísticos e Literários – LAPADis/UESB
Leandro Chagas Barbosa - Depto. de Estudos Linguísticos e Literários – LAPADis/UESB
Maria da Conceição Fonseca-Silva - Depto. de Estudos Linguísticos e Literários – LAPADis/UESB
Edvania Gomes da Silva - Profa. Dra./Orientadora–Depto. deEstudosLinguísticos e Literários–LAPADis/UESB
INTRODUÇÃO:
Neste trabalho, apresentamos resultado de pesquisa sobre memória, discurso religioso e discurso político. Os dados coletados dizem respeito à campanha presidencial de José Serra nas eleições de 2010. Naocasião, em meio ao debate religioso que tomou conta da campanha eleitoral, o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) buscou associar a imagem de José Serra à fé cristã. Selecionamos, para tratar da questão, panfletos e“santinhos”, que foram distribuídos na campanha para prefeito de São Paulo,em outubro de 2010, e que apresentam o candidato José Serra como um homem religioso. Interessou-nos, pois, identificar quais discursos estão materializados nessas materialidades significantes. Defendemos a hipótese de que os discursos materializados nos materiais analisados vinculam-se tanto à esfera política quanto à esfera religiosa, estando ligados a certa memória discursiva, quedetermina o que os partidospodem e devem dizer, bem como o que eles não podem e não devem dizer (FONSECA-SILVA, 2007), contribuindo assim com a análise do entrecruzamento do discurso religioso com o discurso político.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Identificar e analisar os discursos materializados nos slogans e nas materialidades imagéticas doe panfletos e de santinhos distribuídos na campanha para prefeito de São Paulo, nas eleições de 2010, bem como verificar e analisar o entrecruzamento do discurso religioso com discurso político.
MÉTODOS:
Para este trabalho, fizemos um recorte e selecionamos um panfleto e um “santinho” que foram distribuídos no dia 15 de outubro de 2010, em São Paulo, na campanha do candidato José Serra. Nadescrição/interpretaçãoda materialidade significante mencionada, constituída de slogans, mobilizamos o dispositivo teórico-analítico da Análise, principalmente os conceitos de ethos e cenografia, desenvolvidos por Maingueneau (2001, 2005, 2008a, 2008b), entendendo o ethos como a construção de uma imagem por meio do discurso; e a cenografia como a ideia de que um texto não é apenas um conjunto de signos inertes, mas um rastro deixado por um discurso em que a fala é encenada.Quem compõe um slogan não tem preocupação com citações de fontes e nem a responsabilidade pelo seu enunciado. Assim, “um slogan está associado à sugestão e se destina, acima de tudo, a fixar na memória dos consumidores potenciais a associação entre uma marca e um argumento persuasivo para a compra” (MAINGUENEAU, 1998, p. 171).Tomamos aqui a definição de Pêcheux (1983) de memória discursiva,entendida como “um espaço móvel de divisões, de disjunções, de deslocamentos e de retomadas, de conflitos de regularização” (p. 56).Por fim, tomamos emprestada a noção de lugares de memória discursiva, cunhada por Fonseca-Silva (2007), para quem toda materialidade significante funciona como um lugar de memória discursiva, porque o símbolo investe os lugares de memória.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Na análise do santinho, por meio do slogan “Jesus é a verdade e a justiça”, o citado material aproxima a imagem do candidato José Serra à fé cristã. Serra é apresentado como alguém que reconhece Jesus Cristo como sendo “verdade e justiça”. Dessa maneira, o enunciador aproxima a imagem do candidato à fé cristã, provocando um efeito de memória no qual Serraé um religioso. Por outro lado, os dois planos do santinho, um em que aparece a frase em discurso direto e outro em que aparece os dados de Serra, mantêm uma espécie de paralelismo imagético. Cria-se, assim, um efeito de sentido, segundo o qual: assim como Jesus Cristo é a verdade e a justiça dos cristãos, José Serra é a verdade e a justiça dos eleitores.No panfleto é apresentada uma fotografia do candidato àpresidência do Brasil e há o slogan “Serra é do bem, vote 45”, grafado nas cores da bandeira brasileira. Serra foi fotografado em meio a uma reunião de culto cristão.O enunciado e a imagem remetem o co-enunciador, por meio do interdiscurso, à imagem de um homem religioso. Ao fundo, há algumas pessoas contritas e outras sorrindo. O slogan “Serra é do bem” é uma tentativa de aproximar o candidato José Serra dos eleitores religiosos, em especial dos cristãos.
CONCLUSÕES:
Segundo Maingueneau (2005, 2008a, 2008b) o ethos, por se constituir por meio do discurso é uma noção discursiva, um processo interativo de influência sobre o outro,não pode ser apreendido fora de uma situação de comunicação precisa, pois o contexto sócio-histórico constitui e configura a existência de determinados ethé em detrimento de outros. Dessa forma, os candidatos a cargos eletivos na esfera de poder político atuam em conformidade como o que percebem que o povo anseia e, a partir disso, constroem seus discursos, em que se pode perceber se eles enfatizam seus valores ou o valor de sua plataforma política, se reconhece e se mobilizam o valor dos cidadãos. Nessa atuação, os candidatos seguem a estratégia da construção de sua própria imagem, tentam montar um ethos(ou vários ethé)que tenha credibilidade, que seduza os eleitores. As duas materialidades significantes, tomadas como lugar de memória discursiva e analisadas neste trabalho, indicam, pois, um dos ethé que o candidato Serra tentou construir para conseguir adesão dos eleitores no Brasil, relacionados a uma imagem de religiosidade, de cristandade. Desse modo, o enunciadorutiliza de todos esses estereótipos para construir uma imagem valorizada de si, enquanto marginaliza a imagem de seu adversário.
Palavras-chave: Discurso religioso, Discurso Político, Memória.