65ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Linguística - 6. Liguística
DISCURSIVIZAÇÃO SOBRE A ATUAÇÃO POLÍTICA DE MARINA SILVA NA MÍDIA
Mayara Archieris Amorim - Depto. de Estudos Linguísticos e Literários – LAPADis/UESB
Jakeline Jesus Abade - Depto. de Estudos Linguísticos e Literários – LAPADis/UESB
Thiago Alves França - Depto. de Estudos Linguísticos e Literários – LAPADis/UESB
Eliane de Jesus Brito - Depto. de Estudos Linguísticos e Literários – LAPADis/UESB
Evangeline Ferraz Cabral de Araújo - Depto. de Estudos Linguísticos e Literários – LAPADis/UESB
Maria da Conceição Fonseca-Silva - Profa. Dra./Orientadora–Depto. de Estudos Linguísticos e Literários–LAPADis/UESB
INTRODUÇÃO:
Apesar de a luta das mulheres pelo espaço na política ser antiga, de as mulheres terem obtido importantes conquistas nos diferentes espaços da sociedade e de o cargo máximo da República ser ocupado por uma mulher, desde 2011, no Brasil, a participação das mulheres nas esferas do poder político, se comparada à participação dos homens, ainda é tímida. Isto indica a importância das pesquisas nesse campo. Neste trabalho, apresentamos parte dos resultados da investigação que desenvolvemos acerca do funcionamento de sentidos sobre mulheres que atuam nas esferas de poder executivo, e, especificamente, sobre a atuação política de Marina Silva, ex-ministra do Meio Ambiente. Para tanto, analisamos reportagens/matérias de edições da revista Istoé que circularam entre 2002 e 2010 e que constituíram o nosso corpus da pesquisa. Na análise, mobilizamos pressupostos teóricos da Análise de Discurso (AD) de linha francesa.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Identificar efeitos de sentido na discursivização da mídia sobre mulheres que atuam no poder político executivo e, mais especificamente, sobre a ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.
MÉTODOS:
Para o desenvolvimento da pesquisa que originou este trabalho, procedemos à leitura das edições da revista Istoé que circularam no recorte temporal correspondente ao período de 1999 a 2010, a fim de identificarmos, num primeiro momento, reportagens/matérias que tratavam da atuação de Marina Silva no cenário político brasileiro. Essa atividade, desenvolvida por membros do Grupo de Pesquisa em Análise de Discurso - GPADis, possibilitou a construção do corpus, a quantificação e a demonstração, em tabelas, dos números de textos catalogados referentes à atuação de Marina. Foram catalogadas 95 reportagens/matérias veiculadas entre 2002 e 2010, período em que Marina atuou no Ministério do Meio Ambiente, do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e, posteriormente, como candidata ao cargo da presidência da república. Neste trabalho, entretanto, não apresentamos resultados das análises de todas as reportagens/matérias que constituem o corpus, dado o limite de caracteres deste resumo expandido. Operamos, portanto, um recorte e selecionamos, por considerarmos importante, o resultado da análise de uma matéria, intitulada “Fera Ferida” e publicada na edição 1862, em 22 de junho de 2005. Na análise, mobilizamos pressupostos do arcabouço teórico-analítico da AD francesa.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Os resultados das análises indicaram que: i) o título da reportagem analisada, “Fera Ferida”, funciona como uma estrutura utilizada antes e em outro lugar que é deslocada para produzir um novo efeito-sentido no que tange à ministra Marina Silva, a época; ii) a construção de um campo semântico, que tem como ponto de ancoragem (PÊCHEUX, 1969) a questão “silvícola”, verificada em itens, tais como: floresta, gato maracajá, extinção, ícone dos ecologistas, selva, senadora da floresta, mostrar as garras, dentre outros, remete à questão ambiental, bandeira política de Marina; iii) a relação metafórica entre a imagem política de Marina e o gato maracajá, um felino da Amazônia, que embora pequeno, é mais ágil que felinos de maior porte, se explica porque a ministra é caracterizada como ‘miúda’, aspecto que implica uma comparação com o gato, outrora caracterizado da mesma maneira. No entanto, ainda que essa associação tenha sido indicada, uma outra característica utilizada para caracterizar o gato foi silenciada na adjetivação de Marina: a agilidade, o que indica que essa segunda qualificação não se adequa à ministra.
CONCLUSÕES:
Verificamos que o lugar de sujeito político, ocupado por Marina é indicado, uma vez que se discursiviza acerca da atuação da ministra no Ministério do Meio Ambiente. Embora seja a questão ambiental algo com o qual Marina se identifica, a associação com a floresta se mostra discursivamente numa comparação com o gato maracajá, reconstruindo a imagem de uma Marina “miúda” e frágil, que amarga derrotas na “selva de Brasília”. No entanto, um efeito de metamorfose também se constrói: diante das derrotas, a ministra “mostra as garras”, tal como um gato, e “parte para o ataque”. A adoção de uma postura firme diante dos eventos políticos, postura essa que difere do seu modo próprio de ser e altera o comportamento que lhe é comum – a serenidade – é discursivizada como resultado das vicissitudes políticas, quando Marina se viu forçada a reagir. Recria-se uma imagem animal, do gato que é miúdo, mas que reage, por menor que seja, para sobreviver. Desse modo, a não robustez de Marina a aproxima facilmente do gato maracajá, mas mais que isso exige um trabalho de reconfiguração, um tornar-se, uma prática a partir da qual se transforma naquilo que não se é.
Palavras-chave: Discurso, Mulheres nas Esferas de Poder, Política.