65ª Reunião Anual da SBPC |
G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 11. Psicologia Social |
Gênero, pobreza e morte: dificuldades enfrentadas pela população rural para a realização dos funerais de familiares |
Wanessa Maria de Oliveira Correia - Dpto. De Serviço Social- UFPE Rosineide de Lurdes Meira Cordeiro - Dpto. De Serviço Social- UFPE |
INTRODUÇÃO: |
O presente projeto aborda a disciplinarização e regulamentação da morte em comunidades rurais do Sertão de Pernambuco, considerando gênero e classe como eixos de diferenciação social e as reflexões de Foucault sobre biopolítica, biopoder e dispositivo. Pretende responder à seguinte pergunta: Quais são as dificuldades apresentadas por homens e mulheres, moradores de área rurais de Santa Cruz da Baixa Verde, para o sepultamento de seus familiares diante das exigências legais e documentais? O projeto parte do pressuposto de que as práticas, legislação e documentação exigidas para o sepultamento fazem parte das estratégias do biopoder, que provoca efeitos diferenciados nos modos de vida e condutas de homens e mulheres pobres rurais. Foucault (2005; 2008) assinala três aspectos fundamentais que são articulados entre si e permitem entender os mecanismos da biopolítica. Primeiro, há o aparecimento da noção de população, que comporta fenômenos próprios. A biopolítica toma como foco a população que é tida como um problema biológico, científico e político. O segundo elemento é que a biopolítica vai atuar na natureza dos fenômenos coletivos, pertinentes ao nível das massas – são os acontecimentos aleatórios que ocorrem em uma população considerada em sua duração. Por último, a biopolítica vai implementar vários mecanismos como previsões: a estatística e as medições gerais. |
OBJETIVO DO TRABALHO: |
Verificar as dificuldades e os obstáculos enfrentados pelos (as) moradores (as) das comunidades rurais do município Santa Cruz da Baixa Verde para realizarem os funerais de seus familiares diante das exigências legais e documentais. |
MÉTODOS: |
Pesquisa qualitativa que utilizou entrevistas como principal estratégica metodológica.Foram entrevistados homens e mulheres, maiores de 18 anos, moradores de áreas rurais, que enfrentaram algum tipo de dificuldade para realizar o sepultamento de seus familiares. Para isso, foi feito um levantamento a fim de identificar as pessoas que se encaixam nesse perfil, no Sindicato de Trabalhadores Rurais de Santa Cruz da Baixa Verde e Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais do Sertão Central de Pernambuco. As entrevistas foram realizadas a partir de roteiro semiestruturado, que abordou questões como percurso realizado para a realização do funeral, instituições, atores e documentação acionados, principais dificuldades e estratégias utilizadas. Para a escolha dos entrevistados (as) foi feita a técnica de ‘bola de neve’, os primeiros entrevistados indicarão outras pessoas, e assim sucessivamente. Isto foi facilitado pelas características das comunidades rurais nas quais as relações de interconhecimento são bastante fortes. O número total de entrevistas que será realizada obedecerá ao critério de saturação (GASKELL), ou seja, quando o conteúdo das entrevistas se tornar repetitivo, sem novas informações relevantes. |
RESULTADOS E DISCUSSÃO: |
O trabalho de campo compreendeu um total de 38 entrevistas, em um período de 15 dias. Após o término da coleta de dados, ficaram explícitas as dificuldades vivenciadas por homens e mulheres rurais para a realização dos sepultamentos de seus parentes. Logo após o falecimento, é necessário que uma rede de instituições seja acionada para que tudo ocorra diante das exigências legais e documentais. Setores como: diretoria do hospital, setor da epidemiologia, cartório e a funerária são indispensáveis. Essas instituições trocam informações entre si quando ocorre uma morte, essa interação é para que se tenha o controle de morte ocorrido e registrado oficialmente no município. |
CONCLUSÕES: |
Uma análise preliminar aponta que as famílias de baixa renda, que não tem dinheiro para comprar uma urna funerária, recorrem ao CRAS do município. A prefeitura recebe, anualmente, uma verba que é destinada para o auxilio funeral. Ao solicitá-lo, o CRAS faz uma averiguação das reais condições da família para que seja liberado esse beneficio eventual. O solicitante não recebe o dinheiro. A instituição responsável pela compra de urna e traslado do corpo é o CRAS. Nas entrevistas, foram relatadas as dificuldades de algumas famílias quando morre alguém em outro Estado e a família decide sepultar seus parentes em Santa Cruz da Baixa Verde. Assim, para que seja feito o translado, é necessário acionar o serviço da funerária. |
Palavras-chave: Sertão, Sepultamento, Dificuldades. |