65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 3. Educação Ambiental
A Etnobotânica na Praia do Açu - RJ
MARISTELA DE LIMA DIAS - INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA FLUMINENSE
ALBA VALÉRIA COVRE - INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA FLUMINENSE
RICARDO PACHECO TERRA - INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA
INTRODUÇÃO:
O avanço das cidades no litoral ameaça os ecossistemas costeiros, áreas consideradas como prioritárias para a conservação da biodiversidade, por representarem a zona de transição entre o ambiente marinho e o terrestre, apresentando alta diversidade e complexidade. Os ecossistemas costeiros, por sua alta diversidade em ambientes, espécies e saberes de seus habitantes propiciam uma multiplicidade de usos de plantas até hoje não completamente conhecida e avaliada (MMA/SBF, 2002).
GANDOLFO&HANAZAKI,2011, afirmam que em áreas em transformação, a pesquisa etnobotânica pode levantar questões importantes para a conservação de áreas naturais nos interstícios da malha urbana, contribuindo com a inserção de valores relacionados à importância cultural de tais áreas para a população residente, contribuindo tanto para a manutenção da qualidade de vida quanto para a identificação dos grupos culturais que persistem no local, possibilitando a continuidade da dinâmica de elaboração e reelaboração do conhecimento etnobotânico.
A Barra do Açu, recorte desse trabalho, está localizada em Pipeiras - 5º Distrito do município de São João da Barra –RJ. Dominado pelo Bioma Costeiro e de Mata Atlântica, nele está sendo instalado o Complexo Industrial – Portuário do Açu.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Este trabalho tem como objetivo identificar as relações de uso e apropriação dos recursos da restinga pela comunidade local, considerando sua cultura e os aspectos fitofisionômicos do ecossistema de restinga, na comunidade Barra do Açú, pertencente ao 5º Distrito de São João da Barra – RJ.
MÉTODOS:
O método utilizado foi o da percepção ambiental. Estudos de percepção ambiental vêm sendo incluídos em projetos de gestão que visam à conservação da natureza. Percepção ambiental é uma representação científica e, como tal, tem sua utilidade definida pelos propósitos que embalam os projetos do pesquisador. As representações científicas são como mapas que “fornecem um retrato parcial que é, todavia, adequado a alguma proposta. Todos eles surgem em ambientes organizacionais, que restringem o que pode ser feito e definem os objetivos a serem alcançados pelo trabalho” Becker (1996).
A coleta de dados para o trabalho descrito neste artigo, consistiu na aplicação de um questionário, realizado pelos alunos da EJA (Ensino de jovens e Adultos)- turma 2013, com os moradores da Praia do Açu e adjacências, visto que alguns alunos residem em localidades próximas. O questionário, continha questões sobre a restinga, a origem do seu conhecimento sobre o uso, quanto tempo ele a utiliza. As plantas foram categorizadas como de uso: medicinal, alimentação, artesanato, ornamentação e outros, se a mesma possui uma sazonalidade e se é utilizada para aumentar a renda familiar.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Sobre a definição do que é uma restinga, os dados levantados originaram seis definições: - não sabem ou não responderam; é uma mata; é mato; são vários tipos de plantas; vegetação associada a presença de água; vegetação associada a presença de solo arenoso ou relevo baixo. O uso de alguma planta da restinga foi afirmado em 70,49% dos questionários, o que indica uma forte relação etnobotânica. Foram citadas o uso de 44 espécies de plantas, das quais mais da metade são encontradas na restinga . As plantas não puderam ser identificadas taxonômicamente, por não ter havido coleta das mesmas, já que o trabalho consistia apenas em registrar o nome popular da planta. Observa-se aqui uma cultura relacionada ao uso de plantas medicinais, sendo algumas de origem externa ao seu meio, mas uma presença marcante de espécies como a aroeira, pitanga, salsa da praia, bromélia, cardeiro, etc. que são encontradas na restinga onde moram. A questão que trata sobre a origem do conhecimento sobre o uso da planta, resultou na conclusão de que ocorre entre gerações de uma mesma família. Verificou-se também, que no geral, o uso de plantas se inicia bem cedo na vida dos informantes, o que pode estar relacionado com a transferência de informação analisada anteriormente.
CONCLUSÕES:
Existe uma relação etnobotânica entre os moradores da Praia do Açu com o ambiente, e que apesar de não terem um conhecimento do ecossistema onde moram, utilizam-se de sua flora de variadas formas. O número de espécies apresentadas demonstra que o uso dessas plantas pode ser maior, se considerarmos que o trabalho foi realizado apenas na Praia do Açu , quando a extensão de restinga se estende para o interior do Distrito de Pipeiras.
Palavras-chave: ETNOBOTANICA, RESTINGA, POPULAÇÃO.