65ª Reunião Anual da SBPC
A. Ciências Exatas e da Terra - 3. Física - 2. Ensino de Física
FÍSICA, ASTRONOMIA E ROCK N’ ROLL: UTILIZANDO A CANÇÃO NO ENSINO DE FÍSICA SOB UMA PERSPECTIVA SOCIOCULTURAL
Emerson Ferreira Gomes - Programa de Pós-Graduação Interunidades em Ensino de Ciências da USP
Luís Paulo de Carvalho Piassi - Professor Livre Docente da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP
INTRODUÇÃO:
A música como ferramenta para o ensino de ciências vem sido debatida e defendida em diversos trabalhos da área de Ensino de Ciências. Alguns trabalhos ressaltam que a música: promove um diálogo entre a cultura científica e a cultura popular (PUGLIESE e ZANETIC, 2007; BERNARDO, ANTONIOLI e QUEIROZ, 2010); permite reflexões sobre questões relacionadas à história da ciência e a relação entre ciência, tecnologia e sociedade (MOREIRA e MASSARINI, 2006; ZANETIC, 2006); pode ser utilizada como ferramenta interdisciplinar em cursos de formação continuada de professores (SILVEIRA e KIOURANIS, 2008); é um instrumento que estimula a aprendizagem (RIBAS e GUIMARÃES, 2004; FRAKNOI, 2007); media um processo dialógico quanto à relação entre a ciência e o cotidiano dos estudantes (SILVEIRA et al., 2007). Esta pesquisa pretende contribuir com os trabalhos relacionados a essa interface no Ensino de Física.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Analisamos nesta pesquisa, o uso de canções do rock n’ roll no ensino de Física, especialmente nos temas relacionados à exploração espacial. Para isto, identificaremos no discurso de canções do rock n’ roll, elementos textuais que possibilitem reflexões no âmbito conceitual, epistemológico e social em temas relacionados à Física e à Astronomia.
MÉTODOS:
As canções foram selecionadas entre os diversos gêneros de rock, analisadas a partir de referenciais da linguística – análise de discurso de Mikhail Bakhtin (2006) para aspectos externos ao texto e semiótica de A.J. Greimas (1973) para os aspectos internos ao texto – e caracterizadas entre as esferas do conhecimento, conforme proposta por Piassi (2007): “conceitual-fenomenológica”, relacionada diretamente aos conceitos, fenômenos e descobertas da ciência; “histórico-metodológica”, representado pela epistemologia e história interna da ciência; e “sociopolítica”, decorrente das questões relacionadas à ciência, tecnologia, sociedade e ambiente. Na pesquisa foram selecionadas três canções que contemplavam essas esferas em diferentes níveis: “Space Oddity”, de David Bowie; “39”, do conjunto Queen; e “Iron Man” do conjunto Black Sabbath. Tais canções foram aplicadas no Ciclo Básico da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP, levando em pressupostos socioculturais da teoria de Vigotski (2001), que leva em conta os aspectos interacionais em sala de aula, e do trabalho de Georges Snyders (1988; 2008), que defende que uso de canções nos processos de ensino e aprendizagem, especialmente o rock, permite uma ponte entre a cultura primeira do estudante e a cultura elaborada, representada pelo conhecimento cientifico.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
A análise interna permitiu identificar no texto das canções evidenciar os valores enunciados à ciência. Na canção “Space Oddity”, o cotidiano de um astronauta é descrito através de questões existenciais epistemológicas que tangem a ciência. Em “39”, a narrativa descreve os fenômenos relativísticos que estariam envolvidos os sujeitos em missões espaciais. Já “Iron Man” descreve uma situação em que a sociedade atribui valores disfóricos à ciência. Analisando o discurso das canções, percebe-se que uma visão crítica sobre a corrida espacial da década de 1970, refratando um discurso crítico e reflexivo sobre o fazer científico. No momento de aplicação, identificamos que os estudantes contextualizam a letra das canções com os aspectos históricos e sociais relacionados à ciência. Além disso, identificaram os conceitos científicos, que estão expressos nas canções, especialmente nos conteúdos relacionados com a Astronomia, Astronáutica e Teoria da Relatividade. Como um viés sociocultural, a pesquisa evidencia a importância do pressuposto vigotiskiano de interação em sala de aula, assim como a satisfação cultural do estudante, ao utilizar produtos da cultura de massa para refletir sobre a ciência.
CONCLUSÕES:
Entendemos que tanto o discurso produzido a partir de um produto cultural quanto numa descoberta científica estão diretamente relacionados à realidade sócio-histórica. Dessa forma podemos observar diferentes posições sobre a ciência nas canções analisadas, e aplicadas em sala, permitem a construção de um espaço dialógico em sala de aula, refletindo sobre a forma que a sociedade pensa a natureza da ciência e adquire uma posição epistemológica a partir dela.
Nesse sentido atentamos que essas canções, possibilitam a discussão não apenas de conceitos, ou erros conceituais, mas potencializam a reflexão sobre o papel da ciência e do cientista. Dessa forma, mesmo quando uma canção apresenta equívocos conceituais (seja por interpretações errôneas de conceitos científicos) ou epistemológicos (adquirindo uma posição que enaltece ou estereotipa de forma exagerada à ciência), a análise desse produto cultural pelos estudantes, promove uma mediação entre o saber e o intuitivo do estudante, estabelecendo pontes entre a sua cultura primeira e a cultura elaborada. Neste caso, entendemos que canções como essas, permitem uma reflexão mais ampla sobre a natureza da ciência. Elas não apontam a solução, mostram os problemas e possibilitam ao educando refletir sobre a natureza, através da ciência.
Palavras-chave: Exploração Espacial, Teoria da Relatividade, Canção.