65ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 6. Arquitetura e Urbanismo - 5. Arquitetura e Urbanismo
Os engenheiros e sua contribuição para a construção de uma arquitetura modernista em Natal
Angela Lucia Ferreira - Profa,Dra/orientadora-Depto. de Arquitetura e Urbanismo-UFRN
Kelly Jesus Sodré - Depto. de Arquitetura e Urbanismo- UFRN
Maísa Cortez de Oliveira - Depto.de Arquitetura e Urbanismo
INTRODUÇÃO:
Os IAPs – Institutos de Aposentadorias e Pensões, Natal RN– cuja ação perdurou entre as décadas de 1930 e 1960, tinham agregado às suas atribuições os financiamentos de imóveis destinados à habitação para os trabalhadores associados. Segundo Bonduki (2002) esses institutos promoveram a introdução de elementos inovadores na arquitetura das cidades em que atuaram, difundindo preceitos e facilitando o acesso às novas tipologias de moradias isoladas ou de conjuntos habitacionais, que por sua vez aliavam ao seu programa de necessidades, áreas coletivas de lazer e educativas. Podem-se identificar distintas formas de espacialização das concepções modernistas nas cidades em que atuaram, o que atribui uma identidade característica a cada lugar que recebeu os financiamentos dos IAPs. Dessa forma faz-se necessário o conhecimento dos mecanismos de reverberação e incorporação de sses elementos na arquitetura e no urbanismo no interior dessas instituições e nas obras realizadas. Neste processo os engenheiros vinculados aos institutos se constituíram em agentes importantes na difusão dos novos princípios arquitetônicos e urbanísticos.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Objetiva-se dar elementos para compreender o desempenho da atuação dos profissionais de engenharia na circulação de ideias na cidade de Natal. Pretende-se assim contribuir para os estudos, acerca da produção habitacional dos IAPs e a trajetória dos agentes participantes deste processo, realizados pelo Grupo de Pesquisa História da Cidade, do Território e do Urbanismo - HCUrb.
MÉTODOS:
O estudo realizado teve como base o Banco de Dados “Empreendimentos” do HCUrb, que apresenta um vasto levantamento de informações acerca das Transações com financiamentos por parte dos institutos arquivados no Setor Imobiliário do INSS-RN. Estes documentos oferecem subsídios para análise da atuação dos engenheiros e arquitetos envolvidos, identificando as diferentes formas de adaptação dos elementos modernistas promovida por esses profissionais. A revisão bibliográfica serviu como aporte teórico-metodológico e referencial empírico tanto para a análise dos aspectos modernistas incorporados pelos agentes dessas inovações, como para reunião de informações a respeito desses profissionais, levantamento das obras construídas e identificação das áreas de atuação. As principais referências utilizadas foram: “Origens da habitação social no Brasil” de Nabil Bonbuki (1998), “A construção do habitat moderno no Brasil – 1870-1950” de Telma de Barros Correia (2004) e “Modernidade e moradia: habitação coletiva no Rio de Janeiro, séculos XIX e XX” de Lílian Fessler Vaz (2002), além de artigos do HCUrb de autoria de Jéssica Costa e Luiza Lima (2010) e Caliane Almeida (2010), que foram fundamentais para reunir informações a respeito das obras desses profissionais em Natal.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Dentre a listagem de profissionais cadastrados no Banco de Dados nota-se que pelo menos quinze engenheiros, vinculados aos institutos, foram responsáveis pela edificação de moradias, enquanto treze atuaram não somente como responsáveis e avaliadores de imóveis. Das ilustrações encontradas nos processos foram selecionadas trinta e duas fotos que servem de base para análise dessas obras, financiadas pelos IAPs, identificou-se traços inovadores, embora com significações diferentes. Destaca-se nessas obras engenheiros atuantes nos bairros de Tirol e Petrópolis, região que apresenta maior número de obras modernistas, como Moacyr Maia, Luiz Volfzon e Milton Dantas. Uma das referências m[AF9] ais significativas é de autoria de Maia, o Conjunto Nova Tirol, que apresenta uma proposta original, aliando edifícios verticais a espaços de uso comunitário. As residências unifamiliares apresentavam fachadas menos adornadas, de acordo com as ideias modernistas e plantas baixas setorizadas demarcando as áreas íntimas, sociais e serviços articulados à circulação.
CONCLUSÕES:
Ao analisar a produção dos engenheiros nota-se que os novos elementos inseridos em suas obras se enquadram na classificação assinalada por Lima (2011), que divide tais inovações nos seguintes aspectos: técnico-construtivos, estético-formais e espaciais. Em Natal os IAPs financiaram a construção de mais casas isoladas que de conjuntos residenciais. No entanto, o conjunto Novo Tirol apresentou a apropriação mais completa de elementos modernos, evidenciando uma tipologia inédita e diferente de casas isoladas e edifícios verticais aliados a áreas verdes, equipamentos comerciais, sociais e recreativos. Percebe-se que, embora as inovações sejam pontuais, essas tiveram para cidade à época um significado, principalmente, ao complementarem o ideário de modernidade que se iniciou com as intervenções urbanísticas do início do século xx. Desse modo se confirma a importância do desempenho desses profissionais que mantinham atualizados com as tendências mundiais, na construção de uma arquitetura residencial inovadora com a produção de ícones modernistas, porem adaptados e traduzidos a sua maneira. Dessa forma a atuação dos engenheiros foi responsável pela modernização da capital potiguar, entre as décadas de 1930 e 1960.
Palavras-chave: Habitação moderna, Agentes difusores, IAPs.