65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 5. História - 4. História e Filosofia da Ciência
COMENTÁRIOS SOBRE OS “BICHOS QUE SE COME” DAS PRIMEIRAS DESCRIÇÕES DA MASTOFAUNA BRASILEIRA
Thalita Milena Araújo Xavier de Amorim - Departamento de Nutrição – UFPE
Gileno Antonio Araújo Xavier - Prof. Dr./Orientador – Departamento de Morfologia e Fisiologia Animal – UFRPE
INTRODUÇÃO:
As narrativas de exploradores relatam sobre viagens tanto na navegação pelo litoral brasileiro e/ou penetração do seu território através dos rios, quanto em incursões por terra. São as únicas referências à fauna brasileira na primeira metade do século XVI e prosseguem, até o final do período colonial. Em geral, na forma de cartas, enviando notícias aos superiores religiosos, às autoridades civis e militares, ou aos próprios monarcas. Nelas, os animais surgem no contexto da trajetória percorrida, em referências esparsas, fruto de comentários sobre uma rápida visão de sua beleza ou estranha impressão, ou se referem a uma caçada, ao sabor de sua carne, à ameaça de sua presença oculta pelos caminhos ou pela escuridão da noite. As obras de cronistas só surgem na segunda metade do século XVI e vão sendo substituídos, a partir do final do período colonial, pelos trabalhos dos naturalistas luso-brasileiros e também pelos estrangeiros. A presente investigação considerou a importância do estudo das diversas visões sobre algumas espécies de mamíferos da fauna brasileira, restringindo-se àquelas comestíveis, relatadas pelos viajantes, com seus olhares de europeus, e seus comentários sobre os costumes alimentares dos primeiros habitantes da nossa terra.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Destacar a importância dos comentários dos viajantes e cronistas coloniais sobre os mamíferos de caça e os costumes alimentares dos habitantes brasileiros em narrativas referentes às primeiras descrições da nossa fauna.
MÉTODOS:
Para realização do estudo foram analisados diversos manuscritos e relatórios publicados por viajantes, missionários e cronistas dos séculos XVI e XVII que referenciam as espécies de nossa fauna. As análises foram trabalhadas por animal e de acordo com seus conteúdos específicos, os usos de cada espécie são sempre destacados ao final da descrição e incluem o seu emprego como alimento, couro, remédio e outras finalidades.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Sobre a Anta, o Padre Anchieta comenta que - é próprio para se comer; Jean de Léry enfatiza que - a carne tem quase o mesmo gosto da do boi; e Gabriel Souza narra que - a carne é muito gostosa, como a de vaca, mas não tem sebo; e quer-se bem cozida, porque é dura. Com referência ao Tamanduá o Padre José de Anchieta enfatiza que - é saborosíssimo; dirias que é carne de vaca, sendo, todavia mais mole e macia; e Gabriel de Souza adverte - cuja carne comem os índios velhos, que os mancebos têm nojo dela. Observou-se que a espécie que se destacou entre as outras, quanto aos comentários, foi o Peixe-boi, que nas narrativas do Padre Anchieta é tido como - excelente para comer-se, não saberias discernir se deve ser considerado como carne, ou antes, como peixe: da sua gordura, que está inerente á pele e mormente em torno da cauda, levada ao fogo faz-se um molho, que pode bem comparar-se á manteiga, e não sei se a excederá; o seu óleo serve para temperar todas as comidas; e de Pero Gandavo - muito saboroso e totalmente parece carne e assim tem o gosto dela; assado parece lombo de porco ou de veado, coze-se com couves, e guisa-se como carne, nem pessoa alguma o come que o tenha por peixe, salvo se o conhecer primeiro.
CONCLUSÕES:
Entre outras riquezas, a comida também é considerada uma das motivações que impulsionaram os portugueses em suas jornadas de expansão marítima. Com este estudo analisou-se que os costumes, tanto dos europeus quanto dos primeiros brasileiros, no período colonial, puderam permutar experiências e valores, os quais ainda mostram reflexos nos nossos hábitos atuais, quer seja nos lugares mais longínquos ou nas grandes cidades e capitais do Brasil, no que se refere às preferências alimentares ou gosto, mesmo que dissimulado e antiecológico, pelo consumo da carne dos animais ditos de caça.
Palavras-chave: História da Alimentação, Brasil Colônia, Animais Silvestres.