65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 15. Formação de Professores (Inicial e Contínua)
A FORMAÇÃO DE PROFESSORES NA ÁREA DE GÊNERO E DIVERSIDADE SEXUAL: PERSPECTIVAS E IMPLICAÇÕES DA LINGUAGEM AUDIOVISUAL.
Anna Luiza A. R. Martins de Oliveira - Núcleo de Formação Docente – UFPE/CAA
Amanda do Nascimento Rosa - Matemática-Licenciatura – UFPE/CAA
Ribbyson José de Farias Silva - Física-Lienciatura – UFPE/CAA
INTRODUÇÃO:
Estudos no campo da educação, gênero e diversidade sexual têm denunciado, nos últimos anos, que a escola historicamente sempre esteve comprometida com práticas pedagógicas heteronormativas e currículos que privilegiam o modelo nuclear de família, as identidades e relações afetivas heterossexuais. Em se tratando da formação inicial e continuada de docentes, tradicionalmente, o tema sexualidade não faz parte dos currículos dos cursos de licenciatura, nem dos programas de capacitação de educadores/as. A discussão sobre as diferentes identidades sexuais, os direitos civis de lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e intersexuais – LGBTTI e o enfrentamento da homofobia no contexto escolar fica sempre relegada ao silêncio. Desde 2004, entretanto, com a implantação do Programa “Brasil sem Homofobia”, cursos de formação continuada nesta área vêm sendo desenvolvidos em diversos municípios brasileiros, porém a resistência ao tema e a dificuldade de desconstruir preconceitos consistem nos principais obstáculos para os/as formadores. Pesquisadores/as deste campo buscam alternativas didáticas para a aproximação dos/as profissionais da educação com o debate sobre diversidade sexual. Neste trabalho, partimos do pressuposto que a linguagem audiovisual apresenta sofisticado potencial pedagógico para o desenvolvimento de formações nesta área porque, através da mesma pode-se proporcionar aos/às educadores/as a vivência da experiência estética.
OBJETIVO DO TRABALHO:
O estudo teve como objetivo analisar como a linguagem audiovisual – especialmente o cinema e a produção de documentários – pode contribuir para formação de professores/as no campo do gênero e da sexualidade. Através desta experiência é possível aproximar os/as docentes de contextos, geralmente, interditados e leva-los a pensar/elaborar novos posicionamentos?
MÉTODOS:
A pesquisa contou com a participação de vinte e cinco docentes que foram convidados a participar de um projeto de formação continuada composto por módulos temáticos que discutiam aspectos relacionados à diversidade sexual, ao enfrentamento da homofobia na escola e à homoparentalidade a partir do debate de filmes associado à reflexão sobre leituras previamente selecionadas. Além dessa atividade, ao final da formação, os/as cursistas desenvolveram vídeo-documentários sobre os assuntos discutidos no projeto. Para coleta de dados aplicou-se um questionário (antes e depois do curso) com os/as 25 participantes e analisaram-se os documentários produzidos pelos/as cursistas.
O questionário, segundo Richardson (2008), é um conjunto de perguntas ou afirmações apresentadas a um grupo social específico com o objetivo de caracterizá-lo e descrevê-lo. Neste estudo, aplicamos um questionário com perguntas abertas e fechadas entre os participantes, com a intenção de conhecer o nível de conhecimento dos mesmos sobre os conteúdos trabalhados. Através da comparação das respostas (pré e pós-curso) podemos ter pistas sobre o papel das atividades realizadas na formação dos/as docentes, sobre quais conceitos e temas foram compreendidos e quais requerem maior investimento em ações futuras. A análise dos documentários está em andamento e baseia-se nos pressupostos de Rose (2002) sobre imagens em movimento.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
O audiovisual apresenta sofisticados potencias pedagógicos: o diálogo com o cinema desperta sentimentos, curiosidade, memórias, medos, ansiedades, aproximação de contextos interditados e permite a exploração destes aspectos inserido num contexto de significação coletiva, sem sugerir a incompetência do/a formando/a. Tal possibilidade se dá porque a arte não pode ser apreendida somente por processos cognitivos, atua com percepções, memórias, emoções, temporalidades, simbolismos e convida-nos para o jogo intersubjetivo (GADAMER, 2005; 2006). A produção dos documentários incentivou a criação coletiva, a interdisciplinaridade, a integração do ensino com a ludicidade, a avaliação formativa e a intervenção sobre a realidade, convocando os/as educadores/as em formação a revisarem suas posturas e preconceitos.
CONCLUSÕES:
Os resultados encontrados reiteram a importância de desenvolvermos uma pedagogia com vocação emancipatória, voltada para o estreitamento dos laços entre a escola e a comunidade, que incentive a crítica/contestação dos saberes instituídos; o questionamento de práticas normalizadoras, que enfatize as diferentes narrativas sobre a sexualidade construídas ao longo da história e em diferentes contextos socioculturais e promova a oportunidade de conhecimento, discussão e construção de posicionamentos comprometidos com a justiça, a democracia e os direitos humanos.
Palavras-chave: Formação docente, Experiência estética, Educação escolar e sexualidade.