65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 1. Antropologia - 8. Antropologia
UM ESTUDO ETNOGRÁFICO SOBRE A OCUPAÇÃO ESPONTÂNEA NO MANGUEZAL DE GARGAÚ – MUNICÍPIO DE SÃO FRANCISCO DO ITABAPOANA-RJ
Edêmea Faria Carlos da Rocha - Especialista em Educação Ambiental - Instituto Federal Fluminense
Hamilton Cassiano Dias - M.sc em Engenharia Ambiental - Instituto Federal Fluminense
Gleison das Chagas Abrêu - Graduando em Geografia - Instituto Federal Fluminense
Luana das Chagas Abrêu - Graduando em Geografia - Instituto Federal Fluminense
Raquel de Salles Freitas dos Santos - Pós Graduando em Educação Ambiental - Instituto Federal Fluminense
Ricardo Pacheco Terra - Profº. M.sc / Orientador - Produção Animal - UENF
INTRODUÇÃO:
A zona costeira brasileira concentra a maior parte da população do país e apresenta um quadro agravante na geração e despejo de resíduos sólidos, efluentes domésticos e industriais em ecossistemas localizados junto à costa, como os manguezais. Isso compromete a sua qualidade ambiental. A pesquisa realizada na comunidade de Gargaú (Município de São Francisco do Itabapoana/RJ) mostra que a geração de trabalho e renda pela população local advém principalmente dos produtos obtidos no manguezal, como a pesca e a cata de caranguejo. Contudo, essa área vem sendo agredida pelo desmatamento, despejo do esgoto e lixo lançado diretamente dentro do canal que alimenta o manguezal. Soffiati (2009) destaca que pequenos abatedouros clandestinos e frigoríficos lançam seus efluentes no canal e que o lixo e o esgoto completam o quadro dos poluentes que impactam negativamente o ecossistema local. Estudos feitos anteriormente a este trabalho, trouxeram à baila a poluição do manguezal apresentando propostas de ações para a mitigação dos impactos na área, porém, não foi encontrado registro sobre o processo de ocupação espontânea. Conforme Dias (2004) a ocupação espontânea é uma realidade em todo país e apresenta precariedade nas condições sócio-ambientais devido à ocupação desordenada.
OBJETIVO DO TRABALHO:
A presente pesquisa buscou explicar a ocupação espontânea da localidade do Buraco Fundo, situada junto ao manguezal, na margem esquerda do delta do Rio Paraíba do Sul, em Gargaú. Para tanto, foi realizado um estudo etnográfico com moradores da área para conhecer a construção do povoado e a sua relação com o atual estado de poluição desse ecossistema.
MÉTODOS:
A pesquisa utilizou coleta de dados primários com trabalhos de campo na localidade do Buraco Fundo, através de entrevistas etnográficas feitas com a concordância dos moradores locais, registros fotográficos, gravações em vídeos e visitas aos manguezais; as ações foram anotadas nos relatórios de campo. Os dados secundários foram obtidos na literatura acadêmica e outros. Malinowski (1978) orienta que em muitas ocasiões o etnógrafo deve deixar de lado a sua máquina fotográfica, lápis e caderno e participe pessoalmente do que está acontecendo. Zioni e de Souza (2008) complementam que o trabalho de campo baseia-se na observação sistemática ou participante - técnica e etnográfica que se realiza por meio do contato direto do pesquisador com o fenômeno estudado. Já para Geertz (2008) a descrição etnográfica é interpretativa; o que ela interpreta é o fluxo do discurso social e a interpretação envolvida consiste em tentar salvar o “dito” e fixá-lo em formas pesquisáveis. Nesse sentido, foram realizadas entrevistas com a população dentro da área de estudo, para conhecer a história da região e explicar o processo de ocupação espontânea no local, como também, a importância do manguezal em suas vidas e sobre a poluição desse importante ecossistema.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
De acordo com Menezes (2010) a ocupação de Gargaú teve inicio por volta do século XVIII, por indígenas vindos de aldeias próximas. O primeiro núcleo de ocupação antrópica é onde hoje está situada a atual localidade do Buraco Fundo. Conforme relato de um antigo morador, o Sr. M., “esse processo de ocupação está relacionado à supressão de canais, restingas e manguezais, para abrir ruas e construções”. Ele destaca que “a grande feira que ocorria num ‘largo’, e onde posteriormente foi construído o Barracão (edificação que abrigava o comércio de gêneros e produtos agropecuários) foi importante para o progresso de Gargaú”, pois essa era a única via na área costeira para o escoamento das mercadorias, o que atraiu as pessoas para o local. A questão do lançamento de esgotos no manguezal é reforçada pelo pescador, Sr. A., ao dizer que “todos os esgotos das residências são lançados no manguezal do Buraco Fundo, sendo esse o maior problema”. Outro impacto negativo que ocorre é a retirada de madeira de mangue, que segundo o morador, Sr. G. “cortam as árvores de mangue e vendem a madeira para fazendeiros da região”. Esse processo acaba proporcionando o despejo de lixo para aterramento das bordas do manguezal e conseqüente ocupação espontânea (Dias, 2004) para a construção de novas edificações.
CONCLUSÕES:
Este estudo visou trazer conhecimentos referentes à ocupação espontânea do Buraco Fundo, principalmente, com o aterramento do manguezal pelo descarte de lixo doméstico e industrial, como também pelo lançamento de esgoto na área. Por ser um relevante ecossistema da biosfera, é necessário que o poder público promova ações pró-ativas e efetivas que visem nortear um novo olhar sobre o manguezal local. Para tanto, espera-se que um novo tipo de conhecimento possa vir a ser produzido na localidade do Buraco Fundo, no qual, os atores sociais devam ser envolvidos para promover uma melhor articulação dentro da comunidade. Durante a pesquisa pode-se perceber que a maioria dos entrevistados sente-se incomodado com o atual estado de poluição do manguezal, devido ser a sua fonte de sobrevivência. Observa-se que esse ecossistema tende a desaparecer se continuar com a significativa ocupação antrópica no seu entorno e, consequentemente, haverá a perda da biodiversidade local. Atualmente, existem esforços de entidades e instituições acadêmicas como de alguns moradores da localidade, que se preocupam com a mitigação dos problemas sócioambientais advindos dessa ocupação desordenada.
Palavras-chave: Interferência Antrópica, Delta do Rio Paraíba do Sul, Poluição Ambiental.