65ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 4. Ecologia
INCIDÊNCIA DO VÍRUS RÁBICO EM QUIRÓPTEROS SOB EFEITO DA FRAGMENTAÇÃO DE HABITATS NO ESTADO DE SERGIPE
Laryssa Alves dos Passos - Depto. de Biociências- UFS
Wesla Marcelina Dantas - Depto. de Biociências- UFS
Eduardo José dos Reis Dias - Prof. Dr./orientador- Depto. de Biociências
INTRODUÇÃO:
Tentativas para explicar a grande diversidade ecológica dos quirópteros neotropicais baseiam-se nos métodos de partição de recurso, em especial os alimentares. (Tamsitt, 1967; McNab, 1971; Fleming, Heithaus e Sawyer, 1977). Compreende-se, assim, a necessidade de se conhecer a estrutura das faunas de morcegos em nível de taxocenoses e o papel ecológico das espécies que interagem. A determinação dos padrões adaptativos das taxocenoses aos vários ambientes é também de grande importância, tendo em vista o papel dos quirópteros como predadores de insetos, disseminadores de sementes e polinizadores. Assim, há grande interesse em se conhecer a ecologia dos morcegos hematófagos, particularmente da espécie Desmodus rotundus , pela importância sanitária, sobretudo na transmissão de epizootias.
A despeito da sua grande importância biológica, os morcegos receberam relativamente pouca atenção dos naturalistas do passado (Kunz e Racey, 1998) e somente nas três últimas décadas registrou-se um enorme avanço nos estudos biológicos, biogeográficos, taxonômicos e filogenéticos (Hill e Smith, 1986; Novak, 1991; Koopman, 1993; Simmons, 1994; Kalko e al., 1996; Kalko, 1997; Kunz e Racey, 1998; Simmons e Geisler, 1998), implicando em um amplo entendimento sobre o grupo.
OBJETIVO DO TRABALHO:
O objetivo deste trabalho é analisar o efeito da fragmentação de habitat natural na fauna de quirópteros e como este fator pode afetar a incidência da raiva em humanos, tendo os morcegos como vetores, identificando possíveis regiões do estado de Sergipe onde ocorre incidência da raiva em humanos.
MÉTODOS:
O presente trabalho foi desenvolvido em duas etapas: na primeira delas ocorreu o levantamento de dados na Secretaria de Saúde do Estado de Sergipe (cobertura vacinal de cães e gatos e notificações de ataques de morcegos por município), no Laboratório Central (LACEN) (incidência do vírus rábico) e no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (informações agropecuárias). Estes dados foram tabulados em computador e analisados posteriormente.
Os quirópteros foram coletados, nos municípios com maior incidência de raiva, utilizando quatro redes de espera do tipo “Mist-Net” (dimensões de 6 x 3 metros), armadas sempre que possível, em ambientes de mata fechada, mata ciliar em área de borda de mata entre 17:30 em 5:30 horas, vistoriadas a cada 40 minutos. Todos os animais foram sacrificados com injeção de anestésico veterinário e colocados em recipiente térmico com gelo e levados ao laboratório. Após a identificação das espécies em laboratório 50% dos espécimes coletados, foram enviados ao LACEN para análise da presença do vírus rábico.
Adicionalmente, foram registrados dados para a análise das características ambientais (temperatura e umidade do ar, quantidade de luz e diâmetro das árvores) durante o dia, nos mesmos pontos onde os morcegos foram coletados à noite.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Foram analisados registros de notificação de ataque por morcegos e da cobertura vacinal de 2007 a 2012, casos de raiva em animais de 1987 a 2011 e dados agropecuários (número de cabeças de gado e área plantada) de 2001 a 2009.
O município de Aracaju tem o maior número de notificações de ataque por morcegos e o maior índice de casos positivos de raiva em animais, mas com sensível redução ao longo dos anos. A cobertura vacinal foi alta em praticamente todos os municípios do estado (média de 70% dos animais cadastrados). O número de cabeças de gado não teve correlação com o registro de ataque de humanos por morcegos, mas esta relação foi positiva para a proporção de área plantada.
Foram realizadas coletas de 2010 a 2012 nos municípios de Itabaiana, Laranjeiras, Lagarto, Itaporanga D`Ajuda e Moita Bonita, totalizando um esforço amostral de 100 horas de campo, coletando 7 espécies de morcegos (Carollia perspicillata , C. castânea , Molossus temmninckii , Glossophaga soricina , Artibeus fimbriatus , Phillostomus discolor , Myotis myotis ).
Não houve correlação entre o grau de fragmentação das áreas naturais com a presença do vírus rábico, pois nenhuma das amostras de tecidos dos morcegos coletados apresentou-se contaminada.
CONCLUSÕES:
Desmodus rotundus foi uma espécie de morcego pouco frequente nas coletas realizadas, assim as prováveis espécies relacionadas com as notificações de ataque a humanos são animais que não estão frequentemente relacionadas com a transmissão do vírus rábico. A redução no número de casos positivos pode ser considerada como um resultado desta política de saúde pública no estado de Sergipe com uma taxa elevada de cobertura vacinal de animais domésticos.
De acordo com os dados de incidência da raiva, os municípios vêm mantendo constante o número de animais sem o vírus, evitando que estes animais sejam vetores da raiva, impossibilitando que os seres humanos sejam contaminados, entretanto, sabemos que existem outros vetores na natureza como, por exemplo, os morcegos.
Palavras-chave: Zoonoses, Morcegos, Taxocenoses.