65ª Reunião Anual da SBPC
E. Ciências Agrárias - 3. Recursos Florestais e Engenharia Florestal - 4. Conservação da Natureza
AGROBIODIVERSIDADE E REDES SOCIAIS DE TROCAS DE PLANTAS ALIMENTÍCIAS EM UMA COMUNIDADE RURAL DO MUNICIPIO DE SANTARÉM, PARÁ.
Jéssica Conceição Nunes Silva - Instituto de Biodiversidades e Florestas, Engenharia Florestal – UFOPA
Lígia Meres Valadão - Profa. Msc /Orientadora – Centro de Formação Interdisciplinar - UFOPA
INTRODUÇÃO:
A agrobiodiversidade ou biodiversidade agrícola é o resultado do uso do ambiente por grupos sociais e está estritamente ligada a cultura de cada grupo. Estes grupos desenvolvem técnicas agrícolas obtidas do conhecimento acumulado de geração a geração, assim como adquiridas no decorrer da convivência com parentes e vizinhos, também podem ser obtidas a partir de experiências trazidas de outras regiões antes habitadas. Nestes sistemas de produção de pequena agricultura familiar há um grande numero de espécies cultivadas, com ampla diversidade de uso, garantidas por variedades intra e interespecíficas. Estas variedades resultam em opções alimentares, medicinais, condimentares, artesanais para o produtor regional. Toda esta diversidade pode ser mantida, pela permuta de semente, fluxo gênico de espécies pelas trocas de materiais vegetativos como mudas e estacas. Trocas realizadas entre vizinhos, parentes e amigos ou por meio de compra ou busca em outros locais, comunidades próximas ou longe, são importantes fatores de manutenção da diversidade agrícola local, e diminuem as chances de perda de espécies pela erosão genética.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Analisar as redes de trocas de plantas alimentícias realizadas pelos membros da comunidade rural Igarapé do Pimenta, Santarém, Pará, no que tange a identificação das principais espécies trocadas entre os agricultores familiares desta comunidade. Avaliar o papel dos agricultores na difusão das plantas das principais famílias botânicas para a manutenção da agrobiodiversidade da comunidade.
MÉTODOS:
A pesquisa foi realizada na localidade Igarapé do Pimenta, área rural do município de Santarém, Pará. Localizada no quilômetro treze da Rodovia Santarém-Cuiabá. Ferramentas de coleta de dados: um censo sócio demográfico foi aplicado com perguntas sobre gênero, idade, escolaridade, ocupação, renda, numero de pessoas que moram na residência a todas as unidades familiares da comunidade, com um total de quarenta e cinco famílias e cento e noventa e três indivíduos. De forma aleatória foram entrevistados dez moradores destas unidades familiares com um questionário semi estruturado com perguntas sobre as espécies de plantas trocadas na comunidade, a saber, “Você pega sementes ou mudas de plantas de alguém da comunidade”/ “ De quem você pega?”. Consideramos as relações de “troca” como a recepção ou fornecimento de plantas de outros moradores para os moradores entrevistados. Os dados foram tabulados em planilhas eletrônicas do Excel e as referidas redes sociais foram construídas utilizando o software de análise de redes Ucinet e a visualização foi realizada utilizando-se o software Netdraw.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Todos os moradores entrevistados realizam trocas de plantas alimentícias, com relações de parentesco ou não. Foram identificados três unidades familiares com maior número de troca de plantas e grande número de famílias envolvidas. As principais espécies trocadas foram Coco (Cocos nucífera),feijão (Phaseolus vulgaris), Milho (Zea mays L), e Mandioca (Manihot esculenta Crantz). A mandioca (Manihot esculenta Crantz), da família botânica Euphorbiaceae foi identificada como a espécie com maior número de relações de trocas dentre as plantas alimentícias trocadas, com freqüência relativa de sessenta porcento das espécies de troca das unidades familiares. Observa-se que dentre as espécies cultivadas, a mandioca ocupa posição de destaque no Brasil, e cultivada em todo o País por populações rurais, tradicional, e Indígenas. Associada a uma rica cultura material e de saberes, tecnologias e produtos derivados, tratando-se de um recurso vantajoso para o País, pois detém a maior diversidade genética da espécie. Sendo por isso considerada um ícone das variedades cultivadas tradicionalmente por populações locais e povos indígenas. Sendo pertinente a troca como fator de manutenção de toda esta rica diversidade de espécies.
CONCLUSÕES:
As trocas são fatores de grande relevância biológica e cultural para diversas comunidades locais, sendo fator determinante das variedades e qualidade genética de muitos povoamentos florestais. Estas trocas foram realizadas por os membros das unidades familiares, por meio de sementes, estacas e mudas, com amigos, parentes e vizinhos. As principais espécies trocadas foram Coco (Cocos nucífera), feijão (Phaseolus vulgaris), Milho (Zea mays L), e Mandioca (Manihot esculenta Crantz). Dando a visão de o quanto estas culturas são importantes para a manutenção da biodiversidade agrícola. Na família botânica Euphobiaceae a mandioca (Manihot esculenta Crantz) foi identificada como a espécie com maior número de relações de trocas, espécie chave na manutenção da diversidade agrícola e cultural da região.
Palavras-chave: Variedades de espécie, Populações locais, Manutenção agrícola.