65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 5. História - 1. História da Cultura
SABERES E OLHARES SOBRE O ATLÂNTICO: A HISTÓRIA DA CULTURA AFRICANA EM UMA PERSPECTIVA TRANSDISCIPLINAR
Thalyta de Paula Pereira Lima - Profa. Dra./Orientadora - Escola Técnica de Saúde de Cajazeiras - UFCG
Maria Cecília Gonçalves Brandão - Escola Técnica de Saúde de Cajazeiras - UFCG
INTRODUÇÃO:
O Brasil foi um dos países que mais recebeu escravos africanos no mundo. Aqui, a cultura africana se fez presente e marcante em toda a nossa trajetória histórica de construção da identidade nacional. Entretanto, por muito tempo vigorou entre nós uma forte negação do reconhecimento dessa importante contribuição, que, fundamentada em teorias absurdas de inferioridade racial fomentaram em nossa sociedade a prática da exclusão e da discriminação. A fim de promover justiça social ao povo africano e de incluí-lo de forma efetiva na formação da História do Brasil, em janeiro de 2003 foi sancionada no país, a lei nº10. 639, que estabelece no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira”. Na prática, porém, a abordagem de tal conteúdo vem enfrentando várias dificuldades: falta de material didático adequado, despreparo dos docentes e predominância de forte estereótipo sobre a cultura africana. Nesse sentido, o presente estudo abordará ao longo de seu desenvolvimento a participação do negro na construção da história e da cultura brasileira e as principais dificuldades para a aceitação e execução da referida Lei nas escolas.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Fornecer através da pesquisa, leitura e análise de materiais diversificados, conhecimento substancial acerca da cultura africana e afro-brasileira, enfocando, sobretudo, os desafios para a desconstrução do estigma social em torno desta e da produção de novos saberes em sala de aula.
MÉTODOS:
O enfoque deste trabalho esteve voltado para dois grupos: os praticantes do Candomblé de Ketu da cidade de Cajazeiras e as turmas do ensino médio da Escola Técnica de Saúde da cidade. A metodologia utilizada consistiu em diferentes combinações técnicas de coleta de dados, observação e análise, tais como: leitura e discussão de textos, observação de campo (Casa de Candomblé), entrevistas abertas semiestruturadas (Candomblé de Ketu) e aplicação de questionários (alunos da ETSC). Na elaboração do material a ser utilizado na pesquisa elencamos uma série de temas relacionados à influência histórica da cultura africana no Brasil e na cidade de Cajazeiras. Essas técnicas foram interligadas e utilizadas de acordo com as necessidades imediatas após a inserção gradativa no campo de estudo.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
O presente estudo realizou entrevistas abertas com praticantes do Candomblé da cidade de Cajazeiras - abordando suas impressões sobre a relação que existe entre o seu centro de práticas religiosas e o município – e aplicou questionários nas turmas de ensino Médio na Escola Técnica de Saúde da cidade. As entrevistas demonstraram que a religião de matriz africana é bastante mal compreendida pela sociedade apesar de ser procurada por muitos adeptos de outras religiões que buscam cura de enfermidades, resolução de “questões amorosas” ou paz espiritual. Os questionários aplicados nas turmas de Ensino Médio serviram para expor o ponto de vista dos alunos a cerca de temas como preconceito em relação ao negro e sobre a história africana.
CONCLUSÕES:
Ao longo do desenvolvimento desse trabalho foram pesquisadas as relações teóricas e metodológicas entre o Ensino de História da África, da cultura afro-brasileira e suas linguagens e manifestações contemporâneas presentes na cidade de Cajazeiras. Por meio da nossa pesquisa verificamos que, apesar de constituirmos uma nação de grande diversidade cultural devido ao nosso processo de formação histórica e social, as escolas brasileiras ainda têm problemas para abordar de forma justa essa realidade. Através da analise dos questionários, foi possível constatar que a sociedade cajazeirense, de maneira geral – mesmo reconhecendo a importância dos povos africanos para a formação histórica e cultural do país – ainda conserva preconceitos relacionados às expressões culturais africanas, a exemplo do Candomblé de Ketu. Também foi possível notar em uma das turmas pesquisadas, que apesar da inclusão do conteúdo proposto pela Lei 10.639, o estigma relacionado à cultura africana ainda permaneceu no imaginário da maior parte dos alunos avaliados. Desse modo, a desconstrução dos pensamentos preconceituosos e deterministas sobre a África e o ensino de sua história é importante para amenizar o preconceito e reconhecer a participação dos negros na construção de nossa cultura e do nosso país.
Palavras-chave: Cultura Afrobrasileira, História, Sociedade.