65ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 10. Comunicação - 3. Comunicação Visual
Ivan Cardoso: uma experiência do cinema.
Diego Arvate - Pontificia Universidade Católica de São Paulo
INTRODUÇÃO:
A pesquisa tem como objeto os filmes H.O., Nosferato no Brasil, e Moreira da Silva, produções que são parte integrante da obra primeva do cineasta, fotografo, jornalista e artista plástico Ivan Cardoso, realizada em meados dos anos de 1970.O recorte que orienta o enfoque nessa parte da produção de Cardoso, debruça sobre a hipótese de que tais obras aparecem como signo tanto de uma continuidade, como de uma ruptura do projeto inicial das vanguardas brasileiras dos anos de 1950-1960, tais como a poesia concreta, o cinema novo, o neo-concretismo e o tropicalismo. Deve ser realizado, além da análise fílmica das obras, um estudo sobre a relação dos filmes com outras manifestações de vanguarda das artes brasileiras. A linguagem objeto deste estudo sinaliza um denominador comum, qual seja, um diagnóstico dos procedimentos fronteiriços do audiovisual como o espaço que atualmente se tornou um suporte-linguagem de caráter transversal, relevante em todas as áreas do conhecimento e fundamental para a reflexão, criação e divulgação da diversidade das mediações. A construção desse espaço atinge à discriminação qualitativa que verificará procedimentos portadores de recursos, numa perspectiva sincrônica, ao encontro de significados e interpretações das camadas componentes dos filmes aqui indicados de Ivan Cardoso. Tal critério deve-se ao fato de que esses filmes exercem o papel de pedra de toque na ampliação das perspectivas do chamado “universo do experimental” da cinematografia brasileira.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Os objetivos específicos do trabalho foram selecionar, decupar e descrever seqüências fílmicas da obra indicada, destacando-lhe, em análise os recursos da linguagem cinematográfica que apontem para a natureza multimidiática dos filmes Nosferato no Brasil, H.O. e Moreira da Silva, e mapear possíveis correspondências a partir da utilização dos recursos estéticos e narrativos na obra de Ivan Cardoso.
MÉTODOS:
No processo de pesquisa e descrição do objeto pesquisado, obteve-se um pequeno levantamento de procedimentos e recursos utilizados na linguagem cinematográfica de Cardoso, através da seleção e decupagem de algumas das principais sequências dos filmes estudados. É importante ressaltar aqui, que não apenas os aspectos circunscritos à fisionomia “cinematográfica” do filme foram levados em consideração. Em Nosferato no Brasil, por exemplo, foram levantados semblantes formais da linguagem utilizada na produção do cartaz de veiculação do filme, elaborado por Oscar Ramos, e da tipologia dos letreiros inicias na “moldura” de apresentação do filme. Igualmente, em H.O., foram estabelecidas relações necessárias com o trabalho “sem fronteiras” do artista carioca Hélio Oiticica.
A partir das descrições e análises obtidas nesta primeira fase da pesquisa, pretendeu-se uma reflexão mais aprofundada a respeito da validade das hipóteses iniciais de que, bem resumidamente, os filmes selecionados funcionassem tanto como campo sígnico de um processo amplo e simultâneo de continuidade e ruptura do projeto inicial das artes de vanguarda no Brasil, seja no panorama das artes plásticas e da literatura, seja no campo específico do audiovisual, como assumissem um caráter quase que antecipatório dos efeitos, desdobramentos e convergências do campo midiático diante do processo de reinvenção do cinema com a incorporação da eletrônica.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Pode-se afirmar que o primeiro semestre da pesquisa se dedicou de modo mais intenso à descrição, diagnóstico e reflexão a respeito dos processos de convergência entre os filmes analisados, e os desdobramentos ocorridos durante o fértil roteiro trilhado pelas artes brasileiras entre os anos de 1950 e 1970. No segundo semestre da pesquisa, a partir dos elementos levantados até então, os caminho tomados pelo trabalho apontaram, fundamentalmente, para uma investigação a respeito da natureza do que pode ser chamado por experimental nas artes em geral, e mais especificamente no território do audiovisual. Pode-se então, vislumbrar, através da análise dos filmes, uma reflexão sobre a natureza do cinema experimental como espaço propício às soluções críticas e inovadoras, sobretudo em momentos de crise da indústria cinematográfica. Dentro do planejamento encontrava-se também a possibilidade da produção de um depoimento filmado com o autor, que contribuiria de forma decisiva para a interpretação dos resultados apontados pela pesquisa. Infelizmente, não conseguimos colher esse importante depoimento por falta de datas compatíveis entre o autor da pesquisa e o cineasta, que residem em cidades diferentes. Essa falta foi suplantada pelos depoimentos de Ivan Cardoso colhidos por Remier em seu livro Ivan Cardoso: o mestre do terrir.
CONCLUSÕES:
O primeiro passo realizado durante a pesquisa, foi o mapeamento das possíveis correspondências estéticas (o que incluiria igualmente os recursos narrativos) entre a obra de Cardoso e a dos artistas de vanguarda que desenvolveram seu trabalho sob os desdobramentos das experiências construtivistas e concretistas, sobretudo no Brasil no duo decênio de 1950 a 1970. O que pôde ser verificado nesse primeiro período de pesquisa, foi o fato de que, por mais que os filmes de Cardoso estivessem situados em um momento de ruptura com o projeto primeiro das artes de vanguarda brasileiras dos anos de 1950, muitos dos procedimentos de caráter construtivo estabelecidos durante essa primeira fase de experimentações mantiveram-se presentes, embora “entortados” justamente por aquilo que a arte construtiva tem de diametralmente oposto, o “brutalismo”, o “caos orgânico”. O que sinaliza não somente a não contraditoriedade entre tais processos de “ruptura” e “continuidade”, mas o fato de que trata-se mesmo dos desdobramentos necessários de uma arte cuja marca principal é o experimentalismo.
Palavras-chave: curtas-metragem, cinema experimental, cinema de invenção.