65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 2. Sociologia do Conhecimento
REFLEXOS DO POSITIVISMO NA TEORIA SOCIOLÓGICA CONTEMPORÂNEA: A CONCEPÇÃO DE FUNÇÃO EM DURKHEIM E ELIAS
Sylvio Marinho da Pureza Ramires - Curso de Ciências Sociais - UFRR
Luziene Corrêa Parnaíba - Curso de Ciências Sociais - UFRR
INTRODUÇÃO:
Ao nos defrontarmos com a teoria social contemporânea percebemos a existência de problemas epistêmicos que precisam ser discutidos à luz do pensamento clássico e de sua história. Por essa razão, propomos apresentar aqui os resultados de nosso trabalho de investigação sobre a concepção de função presente nas elaborações teóricas de Durkheim e Elias. Para isso, foram utilizadas comparativamente as principais obras que tratam do conceito em discussão. Através da análise comparativa foi possível perceber que a sociologia configuracional de Elias fundamentada pelo modelo dos jogos, possui uma lógica epistemológica de caráter neopositivista. À semelhança de Durkheim e Weber, Elias inclina-se a assumir o predomínio do pensamento (fisiologia) sobre a realidade (morfologia), mesmo quando afirma a interdependência de tais dimensões sobre a vida social. Em Elias, assim como em Durkheim, as ideias sobrepõem a realidade objetiva, ou seja, o fisiológico determina o morfológico. Resultam disso implicações para o campo da teoria social que só podem ser resolvidas se consideradas dentro de um contexto histórico específico, onde as fundamentações filosóficas de cada teoria sejam abordadas em conexão com as bases materiais de sua gênese.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Objetivo Geral Analise comparativa das teorias sociológicas de Durkheim e Elias. Objetivos específicos ● Analise das teorias considerando o contexto histórico de produção das mesmas. ● Comparação das teorias destacando as diferenças e semelhanças presentes na concepção de função em ambos os autores. ● Analise da natureza epistemológica das teorias na sua relação com o pensamento filosófico
MÉTODOS:
Foram utilizadas obras autorais que tratam da concepção de função em ambos os autores. Do Durkheim, selecionamos Da Divisão do Trabalho Social (1893), As Regras do Método Sociológico (1895) e A Ciência Social e a Acção (1970). Do Elias, selecionamos Introdução à sociologia (1970) e Os estabelecidos e os outsiders (1965). Para isso, orientamo-nos pela concepção teórico-metodológica de Marx (2009, p. 31) sobre a qual “[a] produção das idéias, das representações, da consciência está em princípio diretamente entrelaçada com a atividade material e o intercâmbio material dos homens, linguagem da vida real”. Significa que nossa elaboração partiu da perspectiva teórica que afirma a necessidade de apreender na relação entre as formulações teóricas e um determinado desenvolvimento histórico-econômico a função social capaz de cumprir determinadas teorias. Quanto ao método comparativo, este serviu apenas como instrumento técnico para a obtenção de constatações empíricas. Desse modo, o balanço comparativo entre as concepções e conceitos de cada autor foi estabelecido pelas conexões históricas existentes entre pensamento e realidade social.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
A concepção de função em Norbert Elias está também estritamente vinculada às bases epistemológicas do positivismo durkheimiano e do posterior neopositivismo do círculo de Viena. Em Elias (2011), o conceito de interdependência funcional revela um modo mais adequado de tratar as particularidades das representações sociais presentes na sociedade. Ou seja, enquanto que na perspectiva durkheimiana isso representa a dimensão fisiológica do social (um conjunto de valores, crenças e idéias que exercem uma força preponderante sobre toda a sociedade), em Elias o conceito de interdependência funcional aparecerá vinculado aos conceitos de poder e figuração enquanto “modos de agir” durkheimiano (2002) atribuídos a cada indivíduo, ou seja, em Elias são também de ordem fisiológica (ou funcional). São em síntese ideias, representações.
CONCLUSÕES:
Ambos os autores se diferenciam e se assemelham. Enquanto que Durkheim defende o predomínio do social sobre o individual, partindo da premissa de que as representações sociais determinam em última instância o individual, Elias parte do individual considerado de forma interdependente, cujas representações sociais são em última instância subjetivamente condicionadas exercendo desse modo uma força imperativa sobre as relações sociais concretas. Em ambos os casos tem-se o predomínio das ideias (ou representações) sobre a realidade objetiva. Elias, assim como vários intelectuais que compuseram o cenário intelectual da Europa do período pós-1945 representa, em decorrência da crise do denominado socialismo real e do simultâneo aparecimento e desenvolvimento das chamadas novas realidades sociais, uma das principais expressões teóricas desse período, sendo, portanto, expressão de um movimento teórico que não superou a natureza neopositivista de suas elaborações teóricas, tornando “visível” sua ligação com a respectiva tradição filosófica. Desse modo, a sua relação com o neopositivismo, e em particular o positivismo durkheimiano, revela-nos a necessidade de reavaliarmos as teorias contemporâneas à luz das teorias clássicas, e virce-versa.
Palavras-chave: Positivismo, Representação social, Teoria sociológica contemporânea.