65ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 3. Economia - 8. Economias Agrária e dos Recursos Naturais
Diversidade microeconômica feminina na agricultura familiar do Semiárido do Ceará
Marciana de Lima Soares - Mestrado Acadêmico em Gestão e Logística - Univ.Federal do Ceará - UFC
Daniel Paraguay Alves Santos - Curso de Geografia - Universidade Estadual do Ceará - UECE
Déa de Lima Vidal - Profa.Dra. Orientadora - Faculdade de Veterinária - UECE
INTRODUÇÃO:
Em muitos países considerados em processo de desenvolvimento o setor agrícola familiar trabalha abaixo de sua capacidade total de produção. Diferentes fatores influenciam a tônica deste fenômeno e dentre eles ressalta-se a presente e profunda desigualdade de gênero. Segundo cálculos realizados pela FAO, se o acesso feminino aos recursos agrícolas fosse semelhante ao dos homens, seria possível aumentar entre 20 a 30% a produção das lavouras geridas por mulheres nestes países. Corroborando, a ONU indica que a igualdade de gênero é um dos objetivos fundamentais a ser atingido nos próximos dez anos, sobretudo na América Latina, onde as mulheres representam cerca de 20% da força de trabalho. Assim, as desigualdades socioeconômicas entre mulheres e homens comprometem a segurança alimentar, retardam o crescimento econômico e o progresso da agricultura. No estado nordestino do Ceará a taxa de participação feminina no mercado de trabalho rural e urbano cresceu 10,3% entre 1996 e 2006, caracterizando-se com uma das principais transformações estruturais que esse mercado apresentou nas últimas décadas, o que demonstra que a participação da mulher é de extrema importância para o desenvolvimento social e econômico dessa região.
OBJETIVO DO TRABALHO:
No presente trabalho objetivou-se caracterizar a relevância do trabalho da mulher rural no perfil microeconômico de unidades rurais familiares (UR) através do método estatístico de Análise Cluster associado à Análise de Componentes Principais.
MÉTODOS:
Foram estudadas noventa e seis Unidades Rurais (UR) de seis comunidades no município de Tauá, CE, a saber: Junco (n=22), Tapera (n=22), Lustal 1 (n=19), Lustal 2(n=8), Tiassol (n=15) e Queimadas (n=10) cuja coleta de dados originais foi realizada através de questionários aplicados em 2008 na própria região. A matriz de dados foi elaborada a partir de 21 variáveis relativas à microeconomia dessas UR, levando-se em consideração a participação produtiva da mulher. Grupos foram obtidos através da Análise Cluster, realizada a partir da utilização das coordenadas fatoriais da Análise de Componentes Principais, cuja variância total explicada foi de 63,55%. O número de grupos foi obtido baseando-se no método unweighted pair-group, com distância do tipo euclidiana e escala do tipo desvio padrão. A tipologia resultante foi utilizada para se avaliar a diversidade da contribuição econômica do trabalho feminino nas UR.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Quatro grupos foram obtidos: Grupo 1 (G1) formado por duas UR e caracterizado pelo segundo maior Valor Agregado Bruto Total (VAB) e maior disponibilidade de trabalho familiar, da qual 55,56% corresponde a mão de obra feminina. O G2 formado por 56 UR, classificado como maior grupo, apresenta o maior valor quanto à produção de mel, doces e compotas, atividade específica da mulher, além de possuir uma orientação produtiva dominante agrícola (83,72%). Com um total de três UR, o G3 concentra a maior produção vegetal considerando-se assim especializado e apresenta o VAB mais elevado. Ademais, de modo similar ao G1, não detém mão de obra assalariada. Neste contexto a mulher desempenha rentável atividade em hortas e pomares, cujos produtos são comercializados em feiras e mercados locais, além de garantir a subsistência familiar com alimentação diversificada. Enquanto que o G4, composto por 19 UR, apresenta a maior variedade produtiva feminino, retratando assim suas múltiplas funções. O manejo de aves e suínos é exclusividade feminina em todos os grupos, destacando-se como especialidade laboral desse gênero.
CONCLUSÕES:
O estudo agrupado das UR, por meio da análise Cluster, possibilitou identificar as particularidades quanto ao modo de produção em que a participação da mulher é predominantemente ativa, além de mostrar sua atuação em distintos segmentos tornando-se imprescindível ao desenvolvimento econômico da UR. Ao passo que está inserida em diferentes atividades, a mulher mostra-se capaz não só de apresentar sua capacidade econômica, mas também de gerir modos de produção com exclusividade e com rendimentos exitosos. Observou-se ainda a maior disponibilidade de trabalho feminino voltada ao manejo de pequenos animais como aves e suínos, característica identificada nos quatro grupos, evidenciando a capacidade de liderança da mulher em mais de uma atividade agropecuária. Sugere-se o aprofundamento dos estudos quanto à logística do trabalho feminino e seu potencial econômico de geração de renda, assim como sua função determinante no desenvolvimento socioeconômico de comunidades rurais.
Palavras-chave: microeconomia, gênero, agricultura familiar.