65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 5. História - 9. História Social
DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA NO BRASIL DO SÉCULO XIX: JORNAL O PATRIOTA COMO VEÍCULO DE DIFUSÃO DE INFORMAÇÃO CIENTÍFICA.
Letícia Lemes da Silva - Depto.de História – UFRRJ
Mario Cezar Newman de Queiroz - Prof. Dro./Orientador - Depto.de Letras e Comunicação - UFRRJ
INTRODUÇÃO:
O Patriota: Jornal Literário, Político, Mercantil foi fundado por “Ferreira de Araújo, que manteve a circulação primeiramente em regime mensal, depois bimestral [...]”. Foi criado em 1813 mantendo sua circulação até 1814, sendo manufaturado pela imprensa régia, “apesar disso não podemos dizer que foi um jornal oficial, pois, apesar de sua impressão ser realizada pela imprensa do império e com as licenças reais, até onde se sabe não recebia diretamente recursos financeiros públicos, mas, sim, contribuições de seus assinantes” (MOREL, 2007). A criação de um jornal num contexto de rígido controle das autoridades imperiais foi atribuída a “escritores ou políticos, corajosos ou bajuladores”, ou então a homens que desejavam difundir suas opiniões e ideias, transmitindo não apenas informações históricas, mas também peças literárias e relatos científicos para cultivá-los (FERREIRA, 2007). Mas essas condições não implicavam no desaparecimento de riscos pessoais ou financeiros, pois para a circulação do periódico eram necessários as subscrições e outros apoios, posto que a venda de jornais naquele período não ocorria da maneira que se dá atualmente, e o publico leitor era extremante reduzido (FERREIRA, 2007).
OBJETIVO DO TRABALHO:
O objetivo desta pesquisa implica na identificação e análise de artigos científicos que compõe o corpo documental do jornal O Patriota, e como se estrutura e se articula o discurso científico encontrado nas páginas do jornal O Patriota, a partir da perspectiva que compreende o discurso científico como uma ferramenta, um instrumento efetivo de poder.
MÉTODOS:
Para a efetivação deste trabalho foi necessário realizar um levantamento bibliográfico, no qual foram extraídos alguns textos para apoio e principalmente o acesso à fonte primária, o jornal O Patriota. A partir da fonte foi realizado um levantamento dos artigos científicos que compunham o jornal, com o propósito de identificar os discursos científicos, seus usos e aplicabilidades. Os métodos utilizados foram análises comparativas e reflexivas. O método comparativo foi essencial para extrair as particularidades da divulgação cientifica realizada pelo jornal O Patriota, e a partir desta extração construir um esboço deste gênero textual referente àquele período histórico. E a análise reflexiva, tendo Michel Foucault como principal referencia, foi necessária para avaliar e finalizar os resultados obtidos no desenvolvimento da pesquisa.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Inicialmente, o principal resultado obtido foi a percepção de que no Brasil Imperial a ciência se delineava de maneiras muito distintas da ciência contemporânea, e a apresentação do gênero textual científico, divulgação científica, apresenta-se com traços bem distintos do contemporâneo. Em que este gênero textual estava restrito a um publico pequeno e particular da população brasileira, a elite letrada, pois os índices de analfabetismo no Brasil imperial variavam entre 75% a 85% da população (FERREIRA, 2007). As palavras do historiador José Murilo de Carvalho: “Uma ilha de letrados num mar de analfabetos”, traduzem com apuro as circunstâncias enfrentadas pelo mundo das letras no Brasil do século XIX (CARVALHO, 2003). De acordo com Marco Morel a fundação deste jornal só foi possível por meio da articulação de um grupo de letrados, a geração da década de 1790, o qual tinha como figura central o Conde de Linhares, Dom Rodrigo de Souza Coutinho importante figura política do império, ou seja, além de funcionar como uma ferramenta de difusão de informações entre a elite letrada imperial, este jornal também funcionou como um instrumento de articulação social, cultural e política entre as diferentes elites que constituíam a corte imperial no Brasil (MOREL, 2007).
CONCLUSÕES:
Como salienta Mário C. Newman de Queiroz, para discorrermos sobre um gênero discursivo, divulgação científica, se faz necessário que haja um conjunto de circunstâncias simultâneas (NEWMAN, 2011). E, na Europa, antes do século XVIII, não se mostram possíveis essas circunstâncias necessárias. Uma dessas circunstâncias é um público leigo interessado naquilo que a ciência anda realizando. E no Brasil quando se constrói um cenário que possibilite o surgimento deste gênero textual? É importante salientar que o jornal O Patriota foi fundado num contexto de primeiras tentativas “da implantação de um jornalismo cultural, que desde o século XVIII era muito frequente na Europa” (FERREIRA, 2007). Portanto não podemos realizar uma comparação do que teria sido a divulgação científica na Europa com aquela que começa a se construir no Brasil no início do século XIX, tem de se compreender as especificidades e particularidades deste gênero que no inicio do século XIX se mostra embrionário no cenário brasileiro. A análise deste jornal possibilitou um novo caminho para vislumbrar as possibilidades deste gênero textual que ainda é muito pouco explorado e que oferece inúmeras possibilidades de estudos.
Palavras-chave: Jornal, Científico, Divulgação.