65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 7. Sociologia
HIP HOP ENGAJADO: JOVENS MULHERES E MICROPOLÍTICA
Thiago Virginio de Melo - Depto.de Ciências Sociais - UFRN
Norma Missae Takeuti - Profa. Dra./Orientadora - Depto.de Ciências Sociais - UFRN
INTRODUÇÃO:
O principal objetivo deste estudo é buscar entender o conceito de micropolítica a partir de observações que ocorrem em microespaços da sociedade brasileira e, mais particularmente, a partir de grupos de jovens mulheres rappers engajadas em uma dinâmica que elas caracterizam como "movimento hip hop". Pelas contribuições teóricas de Deleuze & Guattari (1996), passamos a entender a micropolítica como algo “que transborda o político instituído na sociedade e diz respeito a toda dimensão vital, ou melhor, à potência de vida”, como indica Takeuti (2009, p.81) em Reinvenções do Sujeito Social.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Aprofundar o estudo da micropolítica através das práticas culturais e políticas desenvolvidas por jovens mulheres envolvidas no movimento hip hop; Identificar projetos, ações e produções culturais que indicam práticas reinventadas na vida cotidiana dos grupos estudados; Continuar alimentando o banco de dados de Hip Hop iniciado no plano de trabalho anterior, dando destaque a grupos engajados.
MÉTODOS:
Agora, falaremos dos bastidores da pesquisa, já que estes ditam o rumo seguido pela pesquisa. É de suma importância entender o processo de elaboração do texto, pois para chegar nele percorremos as trilhas das dificuldades do campo, da escolha teórica, da forma que os dados foram coletados, a fim de chegar o mais próximo possível do processo de construção do objeto de pesquisa. Utilizamos a mesma ferramenta de coleta de dados para armazenamento de nomes dos grupos de hip hop pesquisados na internet, utilizada no primeiro momento da iniciação científica: a partir de sites e blogs abertos na internet e nas redes sociais – Myspace, Facebook e Orkut, com o mesmo e-mail hiphop.engajado@gmail.com. Também, tivemos a importante contribuição da MC Jujux, que apesar de não se considerar engajada – tal qual o conceito de micropolítica mobilizado nesta pesquisa –, participou em alguns momentos da pesquisa como uma espécie de informante “Doc”, ou seja, como mediadora, durante nossa observação do campo de estudo. Os dados utilizados no estudo foram coletados por meio de aplicação de questionários, entrevistas abertas roteirizadas com rappers mulheres (na cidade de Natal e através da internet), de letras de rap, vídeos encontrados na internet em diversos canais de comunicação e discografia (ATITUDE FEMININA. Rosas. Intérprete: Atitude Feminina. Selo Atitude Fonográfica. São Sebastião/DF: 2006.).
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Podemos citar como exemplos de projetos micropolíticos das rappers engajadas, a cartilha da Associação Hip Hop Mulher; os projetos Hip Hop mandando fechado em Saúde e Sexualidade e Hip Hop pela não violência contra as Mulheres, ambos realizados pelo CEMINA/Rede Jovens Brasil ; o projeto Mulheres na Ativa, implementado pela rapper Adriana, de Guarapes, Natal-RN. O grupo Atitude Feminina teve mais de dois milhões de acessos no Youtube só nos últimos cinco anos, bem como foi premiado (2005). Em março de 2007, gravaram para o Programa Câmara Ligada da TV Câmara. No mesmo ano, apresentaram-se no abrigo das mulheres vitimas de violência doméstica. Cantaram como convidadas, em março de 2008, no Senado Federal, em comemoração ao dia da mulher. Tal atitude reverbera naquilo que buscamos sinalizar, no sentido da micropolítica que é a de como reproduzimos (ou não) os modos de subjetivação dominantes, ela se opera com as fortes letras, como as suas músicas conseguiram destaque entre os jovens da “periferia”, Rádios Comunitárias e Produtores de eventos. A micropolítica se define como uma política da vida que não subsume a condição de submissão ou de violência, porque novas formas de subjetividade podem emergir de modo a apontar “linhas de fuga” de um modelo de subjetividade padrão.
CONCLUSÕES:
A pesquisa mostrou as ações engajadas dos grupos de jovens mulheres rappers em toda dinâmica que acontece no movimento hip hop. Entendemos que o movimento hip hop se afirma para mulheres como uma possibilidade de enfrentamento à condição de exclusão social, política, econômica e cultural. E que as expressões artísticas, como as fortes letras das músicas, conseguem destaque entre os jovens da “periferia” e são estratégias para relatar e protestar essas condições. Percebemos uma perspectiva em ascendência no movimento hip hop: no Brasil, coletivos de hip hop promovem diálogos que discutem sobre vários temas, entre eles vem à tona a questão do preconceito com a mulher no próprio “movimento”, a fim de refletir como “sair” desta cultura “machista” e reconhecer a mulher. Prova disso foram os projetos micropolíticos citados na pesquisa, onde espaços são criados e jovens do sexo masculino também participam dos diálogos, ocorrendo uma abertura para discussões do movimento como um todo, em direção a novas práticas e novas formas de viver, fazer e pensar. “Esses processos de transformação que se dão em diferentes campos de experimentação social às vezes podem ser mínimos, e no entanto, constituir o início de uma mutação muito maior. Ou não” (GUATTARI & ROLNIK, 2010, p.158).
Palavras-chave: Movimento hip hop, Rap feminino, “periferia”.